O globo, n. 30082, 17/12/2015. País, p. 14

Cerveró diz que pagou propina de US$ 6 milhões a Renan e Jader

 

CLEIDE CARVALHO E RENATO ONOFRE 

Mesma denúncia já havia sido feita pelo lobista Fernando Baiano.

Cerveró falou aos investigadores sobre o pagamento de propina no caso Pasadena e ao senador Fernando Collor.

Em delação premiada, o ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró disse ter pagado US$ 6 milhões em propina ao presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e ao senador Jader Barbalho (PMDB-PA). O senador do PT Delcídio Amaral, preso há três semanas, teria recebido US$ 2 milhões. -SÃO PAULO- O ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró afirmou, em delação premiada, que pagou US$ 6 milhões em propina ao presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e ao senador Jader Barbalho (PMDB-PA). O senador do PT Delcídio Amaral, preso desde 25 de novembro, também teria sido, segundo Cerveró, destinatário de outros US$ 2 milhões em vantagem indevida. Os valores eram referentes a uma série de propinas arrecadadas em contratos assinados por Cerveró na época em que ele era diretor da área internacional da estatal.

Também em delação, o lobista Fernando Soares, o Baiano, já havia dito que Renan e Jader receberam propina de US$ 6 milhões. Baiano explicou, no entanto, que os valores eram referentes a contratos de navio-sonda. Em depoimento à Polícia Federal, Renan negou ter recebido propina e argumentou que se tivesse tomado conhecimento dos fatos “teria tomado as providências cabíveis”. Em outubro, Jader aproveitou reunião da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado para negar envolvimento nas denúncias. PGR JÁ INVESTIGA RENAN E JADER O acordo de delação premiada de Cerveró foi fechado depois que sua defesa entregou ao Ministério Público Federal gravações que mostram o senador Delcídio Amaral (PT-MS), seu chefe de gabinete, Diogo Ferreira, e o advogado Edson Ribeiro comentando sobre oferta de dinheiro e até sobre uma rota de fuga para o exterior em troca do silêncio de Cerveró, caso ele conseguisse habeas corpus na Justiça para deixar a cadeia. Os três foram presos e acusados de tentar atrapalhar as investigações. Nos últimos meses, a defesa de Cerveró apresentou atestados pedindo para que ele tivesse acompanhamento médico na carceragem.

Cerveró já prestou os depoimentos à Procuradoria-Geral da República. Além de entregar Delcídio, o ex-diretor falou aos investigadores sobre o pagamento de propina no caso Pasadena e ao senador Fernando Collor (PTB-AL). Além disso, detalhou o papel do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e do senador Jader Barbalho (PMDB-PA) no esquema de corrupção.

No final de novembro, a ProcuradoriaGeral da República (PGR) pediu ao Supremo a abertura de dois novos inquéritos no âmbito da Operação Lava- Jato. Em um deles, a Procuradoria investiga os senadores Delcídio, Renan e Jader por sua ligação com Nestor Cerveró.

Por conta da delação, além da prisão até o final de 2018, Cerveró terá que devolver 1 milhão de libras esterlinas depositadas em Londres e cerca de US$ 800 mil dólares que estão bloqueados em contas na Suíça.

Como forma de compensação à Petrobras, Cerveró abriu mão de três apartamentos e de uma propriedade na região serrana do Rio. O ex-diretor ficará com um apartamento no Rio e uma casa em Itaipava, onde justamente passará as festas este ano.

Nestor Cerveró, que comandou a Diretoria Internacional entre 2003 e 2008, já foi condenado na LavaJato a mais de 18 anos de prisão em duas ações. Ele é culpado por utilizar o cargo para privilegiar empresas em negociações comerciais em contratos com a Petrobras em troca de propina.

Também foi condenado por lavagem de dinheiro na compra de um apartamento de luxo em Ipanema, Zona Sul do Rio, com dinheiro que recebeu como propina na Petrobras. SCHAIM E OS EMPRÉSTIMO PARA O PT A Polícia Federal vai convocar para um novo depoimento o empresário Salim Schahin, delator da Operação Lava-Jato, e outros sócios e executivos do Banco Schahin para que esclareçam se houve outros empréstimos ao PT concedidos em nomes de “laranjas”, como disse em seu depoimento o pecuarista José Carlos Bumlai. Para o Ministério Público Federal, falta esclarecer como o banco repassou ao partido R$ 48 milhões, uma vez que a dívida de campanha a ser coberta por empréstimo da instituição chegaria a R$ 60 milhões.

Apenas os R$ 12 milhões emprestados em nome do pecuarista foram identificados até agora. Na última segunda-feira, Bumlai confessou ter servido como “testa-de-ferro” para o empréstimo de R$ 12 milhões e que o dinheiro foi entregue ao Grupo Bertin, para ser repassado aos beneficiários finais.

Segundo ele, o dinheiro ia para o “caixa 2” do PT. No primeiro depoimento à PF, o pecuarista já havia contado que, quando sua dívida foi quitada, o Banco Schahin encaminhou documento no qual ele confessava uma dívida de R$ 60 milhões, que seria o total devido pelo partido. Ele teria se recusado a assinar. Procurada, a defesa de Salim Schahin informou que ele “confirma e reafirma todos os termos de sua colaboração com a Justiça”.

O MPF busca rastrear o destino do dinheiro emprestado a Bumlai, que foi distribuído pelo Grupo Bertin, empresa que já foi sócia do pecuarista.

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Delcídio dirá ao STF que blefou sobre Esteves

CLEIDE CARVALHO E ANA PAULA RIBEIRO

Defesa do banqueiro pedirá que prisão seja revogada por falta de provas

O pedido de revogação, feito no dia 9 de dezembro, será julgado hoje pelo STF. O memorial de defesa classifica como “anêmica” os indícios levados em conta pelo MP para pedir a previsão cautelar de Esteves.

-SÃO PAULO- A defesa do senador Delcídio Amaral irá alegar ao Supremo Tribunal Federal (STF) que o parlamentar blefou ao citar o nome do banqueiro André Esteves como participante de um esquema que daria vantagens financeiras ao ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró. O documento a que O GLOBO teve acesso faz parte do pedido de revogação da prisão preventiva do senador, que será avaliada hoje pelo STF.

“André Esteves jamais teve qualquer participação nos fatos. E a menção ao seu nome foi um blefe para dar à família de Cerveró a ideia de que poderia obter algum consolo ou mesmo a tão exigida vantagem que há muito tempo vinha fustigando”, explicou a defesa.

Em conversa gravada por Bernardo, filho de Cerveró, Delcídio disse que Esteves bancaria o pagamento de R$ 50 mil mensais ao ex-diretor da Petrobras.

Essa peça processual afirma ainda que Diego Ferreira, chefe de gabinete de Delcídio, agiu exclusivamente sob orientação de Delcídio. A defesa sustenta ainda que Delcídio “jamais pretendeu obstruir ou embaraçar a investigação e que repito-se era impossível pela ineficácia do meio e pela impropriedade do objeto”.

Já a defesa do banqueiro André Esteves irá basear o pedido de revogação de sua prisão preventiva em uma suposta falta de provas em relação aos indícios que causaram sua prisão cautelar, em 25 de novembro, segundo documentos ao que O GLOBO teve acesso. O executivo, que então presidia o BTG Pactual, foi detido no âmbito da Operação Lava-Jato da Polícia Federal.

O pedido de revogação, feito no dia 9 de dezembro, será julgado hoje pelo Supremo Tribunal Federal (STF). O memorial de defesa, peça que justifica esse requerimento, classifica como “anêmica” os indícios que foram levados em conta pelo Ministério Público para pedir a previsão cautelar de Esteves — a decretação da prisão preventiva acontecia em 29 de novembro.

Entre os pontos citados pelo documento e considerados frágeis para sustentar a continuidade da prisão está a informação de que, em 19 de novembro, o banqueiro e o senador Delcídio Amaral teriam se encontrado no Rio.

Os advogados de defesa rebateram essa informação, afirmando que André Esteves, na data, estava na sede do banco, em São Paulo, e como prova apresentaram ao STF gravações das câmeras de seguranças. BUMLAI RECORRE A MORO Também ontem, a defesa de José Carlos Bumlai, amigo do ex-presidente Lula, pediu ao juiz Sérgio Moro, da 13ª Vara Federal de Curitiba, a revogação da prisão preventiva do pecuarista, com base no depoimento dado à Polícia Federal na última segunda-feira, no qual ele confessou ter retirado empréstimo no Banco Schahin destinado ao PT, cuja quitação foi vinculada a um contrato do Grupo Schahin com a Petrobras. “Muito embora a confissão não seja equivalente à colaboração premiada, é incontroverso que a sua presença afasta os riscos que outrora justificaram a decretação da custódia cautelar”, afirmaram os advogados.