O globo, n. 30054, 19/11/2015. País, p. 4

Confronto acaba em tiros na frente do Congresso

 
ANDRÉ COELHO, JORGE WILLIAM, ISABEL BRAGA RENATA MARIZ

Manifestantes se enfrentam e 2 são presos por disparos.

-BRASÍLIA- Um novo confronto entre grupos pró e contra o governo, ontem, diante do Congresso, terminou com duas pessoas presas por disparos de arma de fogo em via pública. Uma deles é Marcelo Penha, de 42 anos, policial civil do Maranhão, que veio para Brasília, na última sexta-feira, juntar-se ao acampados na Esplanada dos Ministérios que defendem a intervenção militar. Outro policial civil, do Distrito Federal, também foi detido, mas sua identidade foi mantida em sigilo. A confusão ocorreu durante a Marcha das Mulheres Negras.

Com o tumulto, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), voltou a defender a retirada dos militantes, em até quatro dias, da área em frente ao Congresso. Ele lembrou que a decisão depende também do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ).

— Em primeiro lugar, é um precedente terrível, porque a violência acaba minando a democracia. Vamos pedir para a Polícia Federal e para a Polícia Militar fazer uma varredura, detectar as pessoas armadas e estabelecer uma convivência, enquanto perdurar a presença daquelas pessoas em frente ao Congresso — disse Renan.

Cunha, que autorizou o acampamento, foi mais comedido:

— Tem que ver o que aconteceu, vou conversar com ele (Renan). Agora, tem milícias aí se provocando mutuamente. Autorizei a permanência dele (do acampamento dos manifestantes contra Dilma), dentro de determinadas condições.

O deputado Ivan Valente (PSOL-SP) apresentou dois projéteis de balas que teriam sido disparadas pelos manifestantes. Um deputado do PT, Paulo Pimenta (RS), tentou mediar o conflito e foi atingido por spray de pimenta.

Mulheres que participavam da marcha e integrantes dos acampamentos de oposição ao governo foram à delegacia reclamar. Cada lado acusava o outro de ter iniciado o confronto, que terminou com a prisão de Marcelo Penha. O policial alegou que disparou para o alto em legítima defesa. Um terceiro grupo, de sindicalistas caminhoneiros de São Paulo, tentou acampar ontem no gramado, mas não foi autorizado.

Uma das coordenadoras da Marcha das Mulheres Negras, a deputada Benedita da Silva (PT-RJ) disse que o grupo, estimado por ela em dez mil mulheres, foi surpreendido por militantes políticos acampados há semanas no gramado.

— Fomos impedidas de seguir com o ato, surpreendidas por agressão, teve tiros e bombas — disse ela.