O globo, n. 30.062, 27/11/2015. Economia, p. 6

Gravação cita propina de Alstom a Cerveró

Delcídio se mostra surpreso ao saber que ex-diretor da Petrobras devolveu dinheiro para evitar processo

Em sua delação premiada, Paulo Roberto Costa diz que empresa francesa pagou propina a Cerveró e a Delcídio durante o governo FH

-BRASÍLIA- O senador Delcídio Amaral (PT-MS) cita, no áudio gravado que foi usado para embasar sua prisão, a empresa francesa Alstom. Ele pergunta se o ex-diretor da área Internacional da Petrobras Nestor Cerveró devolvera o dinheiro recebido da multinacional.

Delcídio e Cerveró foram acusados na delação premiada de Paulo Roberto Costa, ex-diretor de Abastecimento da Petrobras, de receber propina da empresa francesa, durante o governo Fernando Henrique. Em março, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, pediu o arquivamento desse caso.

Na reunião com o filho de Cerveró, Bernardo, e o advogado Edson Ribeiro, Delcídio afirmou que, no documento prévio da delação do ex-diretor da área Internacional, havia a seguinte anotação manuscrita no verso: “acordo 2005 Suíça Alstom”. O documento estava em poder do banqueiro André Esteves, do BTG Pactual. O petista se surpreendeu ao saber que Cerveró fizera um acordo na Suíça, abrindo mão de dinheiro depositado naquele país.

— Mas a título de que ele fez? — pergunta o senador.

— Pra não ser processado — responde Ribeiro.

— Pra não ser processado lá — complementa Bernardo.

— Ah, por causa de depósito em conta? — indaga o petista.

— Todo dinheiro que tava lá na Suíça ficou pra Procuradoria da Suíça. Então ele não foi processado e o assunto morreu — disse Ribeiro.

— E esse dinheiro, era o dinheiro da Alstom? — questiona Delcídio. —É — responde Ribeiro. — Ah, foi por isso que ele fez o acordo? Entendi. Ele nunca me falou isso — diz o senador.

O filho de Cerveró relata que os investigadores da Lava-Jato tentavam forçar Cerveró a discorrer sobre o tema. Ribeiro diz que orientou o cliente a não falar. Em sua delação, Costa ligou Cerveró e Delcídio ao recebimento de propina no governo FH.

Delcídio foi filiado ao PSDB e diretor da Petrobras, onde teve Cerveró como subordinado. Costa disse ter ouvido dizer que as propinas foram pagas em um negócio sobre a aquisição de turbinas, fechado entre 2001 e 2002. Segundo a delação, Cerveró e Delcídio comandaram a compra em número superior ao que era necessário. Janot arquivou o caso, mas disse que o tema poderia ser retomado se houvesse provas.

Na mesma reunião, Delcídio afirma que o lobista Fernando Baiano protegeu na sua delação premiada o empresário Gregório Marin Preciado. Segundo o petista, Preciado o apresentou a Baiano. O empresário é casado com uma prima do senador José Serra (PSDB-SP).

— Você vê como ele (Baiano) é matreiro. Na delação, ele conta como me conheceu, que eu era diretor e o Nestor era gerente. Que ele foi apresentado a mim por um amigo. Ele poupou. Era o Gregório Marin Preciado — diz Delcídio.

O senador petista afirma que Preciado teria participado de uma reunião na Espanha para tratar de um projeto da Petrobras no qual se pagou propina.

Ele conta ter sido procurado dias antes por Serra para almoçar. Delcídio identifica Preciado erroneamente como “cunhado” de Serra.

— O Serra me convidou para almoçar outro dia, ele rodeando no almoço, rodeando, rodeando, porque ele é cunhado do Serra — disse Delcídio.

A assessoria de Serra nega a acusação e diz que o senador do PSDB jamais tratou das questões de Preciado com Delcídio. Afirma ainda que Serra sempre manteve relação cordial e de trabalho com seu colega, especialmente em comissão presidida por Delcídio no Senado.