O globo, n. 30.060, 25/11/2015. País, p. 6

Empréstimos do BNDES são investigados

Força-tarefa apura legalidade das operações; empresas de Bumlai receberam R$ 500 milhões do banco

-SÃO PAULO E RIO- Empréstimos concedidos pelo BNDES a empresas de José Carlos Bumlai entraram ontem na mira da força-tarefa da Operação Lavajato. O Ministério Público Federal (MPF) solicitou, e a Justiça Federal em Curitiba deferiu, pedido de busca e apreensão de documentos relacionados às operações na sede do banco, na Avenida Chile, no Rio.

Em despacho, o juiz Sérgio Moro determinou a apreensão de contratos, análises de crédito de todas as instâncias de deliberação, pareceres, dados cadastrais, dados sobre pagamentos, correspondências e propostas de empréstimo, incluindo arquivos em computadores e smartphones.

DÍVIDAS CHEGAM A R$ 1,2 BILHÃO Os alvos são empréstimos concedidos a duas empresas vinculadas a Bumlai: a usina São Fernando Açúcar e Álcool e a São Fernando Energia, administradas pelos seus filhos. As empresas receberam entre 2008 e 2012 empréstimos que, na conta do MPF, resultaram em desembolsos de R$ 518 milhões. Segundo o BNDES, o valor é menor: R$ 496,7 milhões.

Com sede em Dourados (MS), a São Fernando Açúcar e Álcool obteve dois empréstimos. O primeiro, de R$ 330,5 milhões, foi feito em 2008. O segundo, de R$ 64,6 milhões, em fevereiro de 2009. Outra empresa ligada ao pecuarista, a São Fernando Energia, obteve com o BNDES empréstimo de R$ 101,5 milhões em julho de 2012, por meio do BTG Pactual e do Banco do Brasil, que assumiram o risco de crédito da operação. Em despacho à Justiça, o MPF cometeu um erro, atribuindo o empréstimo realizado em 2009 a 2005.

— A investigação ainda é incipiente. Por isso, Ministério Público e Receita apuram a legalidade dessas transações — disse ontem o procurador da Lava-Jato Diogo Castor de Mattos, em Curitiba.

Como a São Fernando Açúcar e Álcool não conseguiu cumprir seus compromissos de pagamento ao banco, em função da crise do setor, em agosto o BNDES ingressou na Justiça com pedido de falência. As dívidas da empresa de Bumlai totalizam R$ 1,2 bilhão, dos quais cerca de R$ 300 milhões são com o BNDES, maior credor do grupo.

BNDES NEGA IRREGULARIDADE Em nota divulgada ontem, o BNDES afirmou que suas normas internas “foram rigidamente observadas em todas as operações mencionadas” e que o banco “possui garantias reais para fazer frente à dívida existente e o crédito está em processo de recuperação”.

Segundo Vinícius Coutinho, administrador judicial do grupo controlado pela família Bumlai, a usina São Fernando Açúcar não paga ao BNDES há cerca de um ano. Ele afirmou que o grupo pretende apresentar novo plano de recuperação judicial, pois não está cumprindo o aprovado em 2013.

O atraso de pagamento com fornecedores estava em R$ 140 milhões até 30 de outubro. Se não for aprovado um novo plano, a empresa deve ter a falência decretada, segundo Coutinho. (Colaborou Danielle Nogueira)