O globo, n. 30.057, 22/11/2015. Opinião, p. 19

Caminho da inovação

O Brasil não é moda, será importante
sempre

V ivemos tempos difíceis para o mundo, para a América Latina e para o Brasil. Após uma década de notável crescimento econômico e políticas sociais acertadas, a região conseguiu reduzir a pobreza e a desigualdade e, pela primeira vez, forjou uma classe média mais numerosa do que as pessoas que estão abaixo da linha de pobreza. O ano de 2015 terminará com uma contração econômica em nível regional, o que põe em risco os benefícios sociais alcançados.

O Brasil não é uma exceção, mas não devemos cometer o erro de julgar uma potência mundial unicamente pelas manchetes do dia. O país não é uma moda, será importante sempre. É uma das principais economias do mundo, sede de empresas de âmbito global e motor de desenvolvimento regional.

Além disso, a América Latina é atualmente muito diferente do que era há duas ou três décadas. É uma região com economias mais bem geridas, com democracias mais sólidas e com sociedades mais empoderadas. É uma região que investiu na sua gente, que está mais preparada para enfrentar os ciclos econômicos e que aprendeu com as lições do passado.

No entanto, e apesar dos seus pontos fortes, continuamos a ter um excesso de pobreza e de desigualdade. Devemos abordar os desafios desta etapa apostando na diversificação da produção, no aumento da produtividade, em mais investimento em ciência e tecnologia, em mais inovação, em mais empreendimento, na melhor qualidade da educação, em mais eficiência nos serviços públicos e numa maior integração regional.

Há muitas dimensões que compõem a realidade da América Latina e que vão para além da situação da sua economia. Setenta por cento dos estudantes universitários da região representam a primeira geração das suas famílias a frequentar a universidade. A expansão das classes médias combina-se com o surgimento de uma juventude mais educada e mais exigente. Há uma ebulição social que demanda mais transparência e prestação de contas por parte dos governantes e mais espaços para a participação e a inovação cidadã na procura de soluções.

O Laboratório Ibero-Americano de Inovação Cidadã #LABiCBR, organizado pela Secretaria-Geral Ibero-Americana em conjunto com o Ministério da Cultura do Brasil, é um exemplo disso. De 15 a 29 de novembro, 120 participantes de 14 países ibero-americanos encontram-se no Rio para trabalhar numa dezena de projetos de inovação cidadã, escolhidos através de um concurso internacional aberto em áreas tão diversas como a cultura, o urbanismo, a saúde, a ecologia e as metodologias de estudo e aprendizagem.

O Brasil transformou-se numa referência global em matéria de inovação social e cidadã. Ao auspiciar o #LABiCR, o Brasil volta a assumir uma posição de liderança e a apontar o rumo a seguir: investir em inovação e conhecimento, abrir espaços para a participação ativa dos cidadãos, envolver as pessoas como agentes indispensáveis para a solução. Esta é a melhor via para preservar os benefícios sociais que o Brasil e a Ibero-América colheram nos últimos anos. Esta é a aposta no futuro!