O globo, n. 30103, 07/01/2016. País, p. 6

Wagner diz que governo não tem ‘coelho na cartola’ para melhorar a economia

Ministro da Casa Civil se reuniu com Michel Temer para tentar reaproximação​

POR CATARINA ALENCASTRO / WASHINGTON LUIZ

06/01/2016 13:22 / atualizado 06/01/2016 20:00

O ministro-chefe da Casa Civil Jaques Wagner durante coletiva de imprensa no Palácio do Planalto em dezembro - André Coelho

BRASÍLIA — Após uma reunião de quase duas horas com o vice Michel Temer, o ministro da Casa Civil, Jaques Wagner, disse que a população não deve esperar uma grande notícia que irá salvar a economia, porque a retomada do crescimento será gradual. Segundo ele, o governo não tem um "coelho na cartola". Os tempos de pacotes econômicos passaram e agora as medidas serão tomadas dia após dia.

— Nós não estamos mais em tempo de pacotes. Acho que não tem nada bombástico. Na verdade a gente tem a consciência de que as coisas vão ser passo a passo retomando a confiança do empresariado, interna e externamente, recuperando a esperança das pessoas em mais emprego. É uma coisa paulatina.Parece que as pessoas estão esperando qual é a grande notícia, o coelho da cartola. Não tem coelho na cartola — afirmou Wagner ao sair do gabinete de Temer, no anexo do Palácio do Planalto.

A conversa, uma tentativa de reaproximação com o vice, foi solicitada por Wagner e ocorreu no gabinete do peemedebista. Para o ministro, diminuiu a possibilidade de a presidente Dilma Rousseff sofrer um impeachment. O governo, disse, tem o interesse de resolver esse assunto no Congresso o mais rapidamente possível. Ele voltou a afirmar que o governo deverá conseguir votos suficientes para derrubar o processo de impeachment ainda na Câmara, antes mesmo de o Senado ter de julgá-lo.

— Nós não temos nenhum interesse de manter esta pauta ou esta agenda. Se depender da presidenta e do nosso juízo de valor, quanto mais rápido melhor. Eu reconheço que perdeu força, mas o bom é que ele termine definitivamente e só termina com a votação na Câmara, que eu acho que a gente vai derrotá-lo já na Câmara — afirmou.

Jaques Wagner contou que pediu o encontro com Temer para desejar um feliz ano novo e que não tinha uma pauta específica para tratar com ele. O ministro, que participou do jantar que a presidente Dilma Rousseff ofereceu na noite de ontem para o ex-presidente Lula e para o presidente do PT, Rui Falcão, disse que a avaliação feita pelo grupo é que 2015 terminou melhor do que o esperado e que agora é trabalhar "sem ilusão".

— Ele (Lula) veio com o presidente Rui Falcão, eu e a presidente. Foi uma conversa óbvia, de vamos aproveitar esse momento em que fechamos o ano melhor e portanto continuar cuidando sem nenhuma ilusão — afirmou.

Ao deixar seu gabinete, Temer disse que ele e Wagner fizeram uma avaliação da conjuntura política prevista para este ano e que estabeleceram "a ideia de harmonia absoluta". O vice afirmou que tem pregado a unidade dentro do partido e que a escolha do novo líder do PMDB na Câmara é um assunto que deve ser resolvido dentro da bancada. Segundo ele, a bancada do partido não pode ser dividida entre os que apoiam o governo e os que se opõem a ele.

— O partido, evidentemente, não vai interferir nessa matéria porque é uma matéria da bancada da Câmara. Mas não se pode dividir a bancada entre governistas e não-governistas. O que deve haver é uma conjugação da própria bancada para que haja unidade dela. Essas questões de quem é a favor disso, a favor daquilo devem ficar fora dessa discussão — afirmou.

 

CONFLITO NA RELAÇÃO

Quando o processo de impeachment teve início na Câmara, em 2015, uma afirmação feita por Wagner causou conflito na relação entre o vice-presidente e o governo. Na ocasião, o ministro disse que "assim como nós, Temer não vê nenhum lastro para esse processo de impeachment.”

Pouco tempo depois, Temer fez questão de desmentir a fala alegando que não havia dito isso em momento algum da conversa que teve com a presidente Dilma Rousseff após a decisão de Eduardo Cunha (PMDB-RJ).

Nessa terça-feira, ao voltar para Brasília, o vice-presidente disse que espera harmonia no país, no PMDB e em sua relação com a presidente Dilma Rousseff.