Desaceleração da China leva pânico a mercados

Simone Kafruni

05/01/2015

Logo no primeiro dia útil de 2016, o mundo sentiu o abalo que a China é capaz de provocar na economia mundial. Ontem, houve pânico nas principais bolsas do planeta por conta da desaceleração da economia do gigante asiático, cuja principal bolsa despencou 7% e arrastou índices da Ásia, da Europa e dos Estados Unidos. No Brasil, a Bolsa de Valores de São Paulo (BM&FBovespa), depois de fechar 2015 com queda de 13,31%,  recuou mais 2,79%, para 42.141 pontos. O tsunami chinês também fez o dólar disparar 2,18% e terminar o dia cotado a R$ 4,034. 

Segunda maior economia do mundo, a China é grande compradora, sobretudo, de commotidies, produzidas em grande escala por países emergentes, como o Brasil, principal fornecedor de minério de ferro para o mercado chinês. Quando o país asiático vai mal, o mundo inteiro se ressente e os investimentos em ações acabam migrando para o dólar, que, ao se valorizar, tem efeitos catastróficos para economias como a do Brasil. 

Ontem, a China anunciou que a produção industrial recuou pelo 10º mês seguido em dezembro. Além disso, as negociações nas bolsas de valores da China- Xangai e Shenzhen- foram suspensas após caírem 7%. A queda do índice CSI300, que reúne as 300 principais empresas cotadas nas duas praças, deflagrou o circuit breaker, mecanismo acionado quando ocorre queda muito rápida dos preços. O recurso foi utilizado na China pela primeira vez. No Brasil, a interrupção é feita quando a queda chega a 10%. 

Na avaliação de Álvaro Bandeira, economista-chefe da Modalmais, além do teste do índice Xangai CSI, que bateu a marca que deflagra a suspensão já na estreia, houve mudanças no mercado, com a liberação de vendas por grandes detentores de ações de empresas estatais e o retorno da permissão de vendas a descoberto. "Quem estava bloqueado e foi liberado, vendeu. A volta da permissão de aluguel de ações ajudou a acelerar a queda", explicou. 

O país asiático também divulgou dados que reforçaram o pânico entre os investidores, como a produção industrial, que se enfraqueceu pela 10ª vez seguida em dezembro. Porém, Bandeira ressaltou que a freada da economia chinesa ocorre em níveis de fazer inveja ao Brasil: o avanço do Produto Interno Bruto (PIB) passou de 7,3% em 2014 para 6,9% em 2015. "A estimativa para 2016 é de 6,5%. O que seria excepcional para o Brasil, para a China é forte desaceleração", comentou. "O enfraquecimento chinês prejudica a retomada do crescimento mundial, que já não é grande. Por isso, os dados divulgados ontem arrastaram as principais bolsas do mundo", assinalou o economista-chefe da SulAmérica Investimentos, Newton Rosa. 

Nos Estados Unidos, o índice Dow Jones, principal referência da Bolsa de Nova York, caiu 1,58%, enquanto os índices europeus recuaram entre 2% e 4,3% (veja quadro ao lado). No Brasil, as ações da Vale, que vende minério de ferro para a China, puxaram a queda do Ibovespa. Os papéis ordinários (ON) da mineradora caíram 2,61%, cotados a R$ 12,69, enquanto os preferenciais (PN) recuaram 2,44%, para R$ 10. Nos últimos 12 meses, as ações da empresa já perderam mais de 43%. Na contramão, o destaque ficou por conta dos títulos da Petrobras, que, ontem, subiram 1,17% (ON) e 2,54% (PN). "A crise entre Arábia Saudita e Irã, que cortaram ligações diplomáticas, elevou o preço do petróleo, ajudando a estatal", explicou Roberto Indech, da corretora Rico. 

Deterioração 

"O mundo todo sofreu com o abalo da China, mas, no Brasil, é sempre de forma mais acentuada", avaliou Newton Rosa, da SulAmérica. Por aqui, segundo especialistas, também pesou a deterioração dos indicadores do Relatório Focus, que projetaram queda maior do PIB e inflação ainda mais alta neste ano. 

Para Bandeira, da Modalmais, a possibilidade de novas elevações de juros nos Estados Unidos em 2016 ajudou a pressionar o dólar. "Talvez haja de três a cinco altas no ano. Vamos ter mais descompassos no câmbio", alertou. Na opinião de Rosa, não deve ocorrer novo aumento na reunião de janeiro do Fed, o banco central dos EUA, mas o mundo deve se preparar para novo ajuste em março. 

Ontem, a moeda norte-americana subiu 2,18%, para R$ 4,034, o maior valor desde 29 de setembro, quando fechou em R$ 4,059. Foi o maior ganho diário desde os 3,58% de 13 de outubro. Na máxima da sessão, a divisa chegou a ser negociada a R$ 4,071. O dólar turismo se aproximou de R$ 4,50. 

 

Correio braziliense, n. 19216, 05/01/2016. Economia, p. 7