Título: Afronta israelense
Autor: Tranches, Renata
Fonte: Correio Braziliense, 28/09/2011, Mundo, p. 16

Governo do premiê Benjamin Netanyahu anuncia a construção de 1,1 mil casas na Cisjordânia. EUA condenam ação e palestinos veem desafio ao Ocidente

Um dia depois de o Conselho de Segurança das Nações Unidas examinar, pela primeira vez, o pedido de reconhecimento do Estado palestino, Israel anunciou ontem um novo plano de expansão de assentamentos judaicos na Cisjordânia, acirrando ainda mais as tensões entre os dois lados. O projeto prevê a construção de 1,1 mil casas e contraria o pedido do Quarteto de Madri para o Oriente Médio ¿ grupo formado por Estados Unidos, Rússia, União Europeia e ONU ¿ para que nenhuma das partes tome atitudes unilaterais. Ao menos enquanto se discute uma retomada das conversações mediante um plano de autoria do próprio Quarteto. O governo norte-americano e a ONU condenaram a ação israelense. Por sua vez, os palestinos consideraram a medida um "desafio à vontade da comunidade internacional". No mesmo dia, relatores das Nações Unidas alertaram Israel para que cesse "de maneira imediata" a demolição de propriedades palestinas no mesmo território.

O anúncio da construção das novas casas foi feito pelo Ministério do Interior israelense e dá à população 60 dias para questionar "possíveis objeções" ao projeto. O congelamento da expansão dos assentamentos judaicos na Cisjordânia e em Jerusalém Oriental, a parte da cidade anexada por Israel em 1967, é a principal condição imposta pelo presidente da Autoridade Palestina, Mahmud Abbas, para retornar à mesa de negociação. O premiê israelense, Benjamin Netanyahu, deu a entender, porém, que não pretende barrar a colonização. Na sexta-feira, Abbas entregou um pedido de adesão do Estado da Palestina como membro pleno da ONU. O Conselho de Segurança iniciou as consultas na segunda-feira e se reunirá novamente hoje. A votação só deve ocorrer nas próximas semanas. O Quarteto, por sua vez, pede que as partes tentem chegar a um acordo em até um ano.

Observadores O negociador-chefe dos palestinos, Saeb Erekat, afirmou que as novas moradias significam "1,1 mil nãos ao comunicado do Quarteto". "Israel está desafiando a vontade da comunidade internacional com a política contínua de assentamentos", disse o porta-voz de Abbas, Nabil Abu Rdainah, à agência Reuters. A secretária de Estado dos EUA, Hillary Clinton, criticou a decisão. "Acreditamos que o anúncio é contraproducente para nossos esforços de retomar as negociações diretas entre as partes", alertou.

No território onde o governo de Israel prevê construir novos assentamentos judaicos, outro problema chama a atenção de observadores independentes da ONU. Ontem, os especialistas ¿ entre eles a urbanista brasileira Raquel Rolnik, relatora especial para o Direito à Moradia Adequada do Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas (leia ao lado) ¿ divulgaram uma carta por meio da qual instam Israel a impedir "imediatamente" a demolição de casas palestinas na Cisjordânia, assim como as agressões de colonos israelenses contra os palestinos.

Raquel explicou ao Correio que após denúncias feitas por cidadãos e órgãos de defensoria pública, verificadas pela ONU, concluiu-se que inúmeras ordens de demolição de casas e de estruturas agrícolas palestinas foram expedidas na Cisjordânia. Elas tinham, como base, instrumentos de regulação urbanística israelense. "Além disso, existem muitos conflitos entre os assentados e as famílias árabes e palestinas na região", afirmou a urbanista, que deve visitar a região em janeiro. "A questão é que o Estado de Israel tem a obrigação de evitar que isso ocorra. Estamos falando de ações absolutamente ilegais que não são reprimidas ou punidas, e que contrariam o direito à moradia adequada."

Protesto contra pedradas

As mortes do israelenses Asher Palmer e de seu filho Yonatan, de apenas 1 ano, foram o pretexto para que colonos judeus bloqueassem uma importante rodovia perto do assentamento de Efrat, na Cisjordânia. O carro onde o pai e o bebê estavam capotou após supostamente ter sido atingido por uma pedra lançada por um palestino, na última sexta-feira, próximo a Hebron. "Um judeu quase foi morto aqui por árabes" era a frase estampada em um cartaz mostrado pelos israelenses. As autoridades de Israel registraram recentemente 20 ataques a pedras contra carros de colonos.

Obama destaca aliança inabalável O presidente norte-americano, Barack Obama, destacou os vínculos "indestrutíveis" entre Estados Unidos e Israel em um período de "incerteza", em um vídeo divulgado por ocasião do Rosh Hashana, o ano-novo judaico. "O ano passado foi difícil para as pessoas em todo o mundo. São muitos aqueles que, entre nossos amigos e vizinhos, continuam enfrentando as consequências de uma recessão econômica terrível", afirmou Obama. "E além das nossas fronteiras, vários dos nossos aliados mais próximos, entre eles o Estado de Israel, enfrentam as incertezas de uma época imprevisível", destacou, em referência à Primavera Árabe ¿ o levante pró-democracia em países árabes. "(...) Os Estados Unidos continuarão solidários a Israel, porque os vínculos entre nossos países são indestrutíveis", prometeu.