Correio braziliense, n. 19.240, 29/01/2016. Política, p. 5

Temer de olho em 2018

CRISE NA REPÚBLICA » Em campanha para ser reconduzido ao comando do PMDB, vice diz que sucesso nas urnas neste ano terá impacto na disputa presidencial

 

Na tentativa de fortalecer a recondução à presidência nacional do PMDB e unir o partido no lançamento de uma candidatura própria à sucessão de Dilma Rousseff em 2018, o vice-presidente da República, Michel Temer, cobrou unidade das lideranças nacionais para aumentar o número de prefeitos e vereadores em todo o país nas eleições municipais deste ano.

Em um claro distanciamento de Dilma — escancarado diante do enfraquecimento da presidente que enfrenta um processo de impeachment na Câmara dos Deputados —, Temer afirmou que o sucesso do PMDB em 2018 depende do bom resultado da legenda nas urnas em outubro deste ano. Internamente, ele é cotado como o nome capaz de concorrer ao pleito presidencial.

“As eleições de 2018 passam pela disputa de 2016”, disse, em sua primeira viagem de campanha à liderança do partido, cargo que ocupa desde 2001. Em meio à grave crise política enfrentada pelo Planalto, o vice-presidente evitou falar sobre seus atritos com Dilma. “O momento é de buscar a unidade em todo o país. Estamos propondo uma pacificação nacional. Acredito que a presidente Dilma deve buscar o mesmo com a reunião do conselho que está sendo realizada hoje”, afirmou.

Para os militantes, Temer usou a emblemática expressão “quem manda no PMDB é o PMDB”, para explicar a continuidade da aliança com o governo do PT. “O PMDB sempre foi um partido construído pela base, e estamos provando isso neste momento”, declarou.

 

Lava-Jato

Enquanto expoentes do governo e do próprio partido despontam em escândalos de corrupção investigados pela Polícia Federal, Michel Temer defendeu as investigações da Operação Lava-Jato. O vice ponderou, no entanto, que a força-tarefa não pode paralisar o Brasil.

“A Operação Lava-Jato é uma prova que nossas instituições estão funcionando. É uma questão do Judiciário e temos que esperar a apuração dos eventos. Mas é importante que as investigações não paralisem o país”, respondeu Temer, ao ser questionado sobre as denúncias de corrupção levantadas contra setores do governo federal, alguns deles do seu próprio partido.

Pela capital paranaense, Temer iniciou uma série de visitas que fará aos diretórios estaduais para costurar apoios à sua recondução ao comando da legenda.

O peemedebista enfrenta uma ameaça de rebelião dentro do partido e várias lideranças afirmam que não vão apoiá-lo para um novo mandato como presidente da sigla na convenção nacional, marcada para março. No Paraná, no entanto, ele recebeu o apoio unânime dos peemedebistas. No ano passado, durante evento em Brasília, ele chegou a ser recebido pelos militantes com gritos de “presidente” e “impeachment já”. O senador Roberto Requião, presidente da legenda no estado, por sua vez, diz não ter dúvidas. “O Paraná está fechado com o Temer”, afirmou. Depois de Curitiba, o vice-presidente seguiu para Florianópolis (SC).

 

Frase

“O PMDB sempre foi um partido construído pela base e estamos provando isso neste momento”

Michel Temer, vice-presidente

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Carnaval no precipício

Londres — A revista britânica The Economist publica reportagem na edição desta semana para atualizar o difícil cenário político e econômico do Brasil. Com o título “Festejando no precipício”, a publicação diz que o carnaval não vai proporcional nenhuma pausa na crise do país, que sofre com o aprofundamento da situação política e econômica e ainda tem de lidar com o surto de zika vírus.

Apesar de reconhecer que a estabilidade dos juros na semana passada era justificada, a revista também critica a estratégia de comunicação do Banco Central, que sinalizou manutenção da taxa básica da economia (Selic) a poucas horas da reunião de janeiro do Comitê de Política Monetária (Copom). “Em vez de apoiar a credibilidade financeira do Brasil, o BC conseguiu prejudicar ainda mais.”

A reportagem cita que outros problemas econômicos continuam crescendo no Brasil e apenas no ano passado 1,5 milhão de trabalhadores foram demitidos das empresas. Neste ano, a revista diz que outro 1 milhão de empregados pode perder o trabalho. Enquanto ainda tem de lidar com a ameaça de impeachment, a presidente Dilma Rousseff e o novo ministro da Fazenda, Nelson Barbosa, tentam avançar com as reformas. Alas do PT, porém, já demonstraram ser contrárias à intenção de aumento da idade mínima para aposentadoria, diz a Economist.