Correio braziliense, n. 19.217, 06/01/2016. Política, p. 4

Corrupção enfraquece Sete Brasil

A Sete Brasil, empresa de capital nacional criada para construir e afretar sondas e plataformas para exploração de petróleo em alto-mar, inicia o ano com o desafio de convencer a diretoria da Petrobras da sua capacidade financeira e técnica para fechar os contratos de 15 sondas destinadas ao pré-sal. O problema é que, segundo uma fonte da estatal diretamente envolvida nas negociações, a Sete Brasil tem hoje a garantia de contratação de apenas seis embarcações.

A empresa nasceu com a missão de construir 28 embarcações para a Petrobras, sua única cliente e sócia minoritária, mas foi atingida tanto pela crise da estatal quanto por denúncias de corrupção, após ter o nome envolvido nas investigações da Operação Lava-Jato.

Com limitações de caixa, a Petrobras reduziu de 28 para 15 o número de sondas que irá afretar. Dessas, garante a contratação apenas das unidades que já estão em construção em estaleiros. Nove plataformas ainda em fase de projeto poderão ser adquiridas no mercado internacional, mesmo que, com isso, a Petrobras transgrida a regra de conteúdo local, que obriga a aquisição de um porcentual mínimo de bens e serviços no Brasil.

Para levar o contrato, a Sete Brasil vai ter que comprovar ser capaz de vencer suas atuais limitações. Por causa da Lava-Jato, a empresa enfrenta uma crise de credibilidade. Alguns dos estaleiros com os quais se associou são controlados por empreiteiras também investigadas pela Polícia Federal.

O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), cuja promessa de financiar a construção das sondas era um dos pilares do projeto, já não cogita liberar o dinheiro. E as taxas de aluguel cobradas pela Sete Brasil ainda são superiores às do mercado internacional.

A diferença, para mais, entre os preços externos e internos sempre existiu. Esse não chegava a ser um impeditivo à contratação da fornecedora, já que o seu projeto se adequava à política de governo de incentivar o desenvolvimento da indústria naval brasileira.

 

Diferença

Com a crise na indústria petroleira mundial, no entanto, a diferença entre as taxas de afretamento cobradas pela Sete Brasil e por companhias no exterior se ampliou, enquanto, do lado da Petrobras, já não há a mesma disponibilidade em atuar como âncora da indústria naval brasileira, até por causa do caixa apertado e do excesso de dívidas.

A petroleira avalia que é possível economizar se recorrer ao mercado externo. Nem mesmo a ameaça de multa por descumprir a política de conteúdo local faz a empresa descartar a alternativa de importação. “É uma conta a se fazer”, disse um executivo da estatal.

A prisão do banqueiro André Esteves, do BTG Pactual, em novembro, dificultou ainda mais as negociações, afirmou o executivo. O BTG é o principal sócio privado da Sete Brasil — em junho de 2014, o banqueiro reconheceu que o investimento foi um “fiasco”. Além disso, “a Petrobras não tem pressa” em fechar os contratos de afretamento das sondas com a Sete Brasil.

Depois de um longo período de conversas, em novembro, a estatal resolveu condicionar a continuidade das negociações à apresentação de um plano de reestruturação pela Sete Brasil, no qual ela deve informar como vai solucionar suas dificuldades financeiras e técnicas.

Oficialmente, nenhuma das duas empresas se posiciona sobre o tema. Procurada, a Sete Brasil afirmou que “desconhece” informações sobre o plano de reestruturação ou que a Petrobras exija, entre outros pontos, a redução de tarifa. Já a Petrobras não respondeu aos questionamentos.