Correio braziliense, n. 19.224, 13/01/2016. Economia, p. 8

Ação da Petrobras a R$ 5,53

CONJUNTURA » Mercado reage à redução de US$ 32 bilhões no plano de investimento da petroleira. Papéis atingem o menor valor em mais de 11 anos. Estatal diz que revisão se deve a efeito cambial e queda no preço do barril de petróleo e mantém a venda de ativos

Por: Simone Kafruni/Rosana Hessel

 

As ações da Petrobras caíram ontem ao menor nível desde maio de 2004, com papéis cotados em R$ 5,53. O tombo ocorreu, porque o mercado reagiu muito mal ao anúncio feito pelo Conselho de Administração da petroleira, que reduziu o plano de investimentos da companhia em 24,5% entre 2015 e 2019. A queda representa US$ 32 bilhões a menos do que a projeção anterior e limita os recursos para o período em US$ 98,4 bilhões. A justificativa da empresa é que a revisão do plano ocorre “principalmente devido à otimização do portfólio de projetos e do efeito cambial, em meio a um cenário de preços do petróleo mais baixos”.
A venda de ativos, chamados desinvestimentos, foram mantidos em US$ 15,1 bilhões para o biênio 2015-2016, no entanto, atingiram apenas US$ 700 milhões no ano passado. A estatal explicou que os cortes resultarão na redução da produção de petróleo no Brasil de 2,185 milhões de barris por dia (bpd) para 2,145 milhões de bpd em 2016 e de 2,8 milhões de bpd para 2,7 milhões de bpd em 2020. A nova versão do plano de negócios também alterou parâmetros e passou a considerar um preço médio para o petróleo Brent de US$ 45 em 2016, ante US$ 55, e um câmbio médio de R$ 4,06 por dólar, ante R$ 3,80.
Para Adriano Pires, diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (Cbie), o mercado sentiu que o plano não é suficiente para tirar a empresa da situação em que está, com endividamento de mais de R$ 500 bilhões. “A redução de investimento vai comprometer a produção em 2020, e a queda deve ser maior do que a anunciada pela empresa. O mercado quer ouvir redução de custo, desinvestimento mais agressivo e preços de gasolina com mais previsibilidade. Nada disso aconteceu”, destacou.
Na opinião da economista Celina Ramalho, do Conselho Federal de Economia (Cofecon), o derretimento das ações da companhia é reflexo do ciclo de má gestão. Segundo ela, ao anunciar parâmetros ainda distantes da realidade, com o barril a US$ 45 quando está próximo de US$ 30, a companhia infla os próprios resultados e cria um cenário que fica além da realidade da empresa. “Isso gera números fictícios e deixa a empresa suscetível a não apresentar o que promete”, disse.
O economista-chefe da Gradual Investimentos, André Perfeito, demonstrou preocupação com a forte queda das ações da Petrobras, que despencaram mais de 8% enquanto o barril do petróleo foi cotado em menos de US$ 30. 

Interferência
Perfeito criticou a forte interferência do Estado na estatal nos últimos anos e acredita que, atualmente, com o preço do petróleo no patamar atual, é possível que o pré-sal seja inviabilizado, principalmente, pelo excesso de oferta no mercado. Para ele, houve uma aposta equivocada no pré-sal e hoje a situação da estatal  é muito mais difícil do que as demais companhias de petróleo.
“O governo exigiu demais da Petrobras, principalmente, como instrumento de controle da inflação e, por isso, ela cai mais do que as demais petrolíferas, que também estão tendo queda, porque houve uma situação de euforia e aumento brutal da oferta, mas a demanda global não cresceu.”

Ações do FGTS
A Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima) calculou que os trabalhadores que investiram parcela do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS) em ações da Petrobras acumulam perdas violentas. Em 2011, o recuo foi de 23,04%. Em 2012, a rentabilidade encolheu 14,10%. Em 2013, a desvalorização foi de 17,86%. Em 2014, quando foi deflagrada a Operação Lava-Jato, o tombo foi de 38,68%. No ano passado, houve queda de 12,36%. Só ontem o recuo de 9,20% superou o acumulado até 7 de janeiro, que era de 8,63%.