O globo, n. 30125, 29/01/2016. País, p. 9

Ibama rejeita plano da Samarco para recuperar área devastada

 

O Ibama apontou uma série de falhas e rejeitou o plano de recuperação ambiental da Samarco para áreas atingidas pelo rompimento da barragem de Fundão, em Mariana. O Jornal Nacional, da TV Globo, teve acesso com exclusividade ao parecer do Ibama, que considerou as ações propostas genéricas e superficiais.

Ainda segundo o Ibama, o plano apresenta pouca fundamentação metodológica e científica. A empresa protocolou o plano de recuperação ambiental na superintendência do Ibama, em Belo Horizonte, no dia 18 de janeiro. Os técnicos do instituto ressaltaram que a Samarco, cujos donos são a Vale e a BHP Billiton, não estipulou metas com prazos definidos para as ações, impossibilitando o acompanhamento das mesmas. O Ibama já notificou a Samarco para que complemente e atualize o plano até o dia 17 de fevereiro. Empresa vai incorporar sugestões Para o diretor do Ibama Paulo Fontes, o plano de recuperação apresentado pela Samarco é quase “amador”:

— As vezes a gente tem a impressão que a empresa não entendeu ainda o tamanho do desastre que ela causou. Os impactos são grandes, são complexos, e a gente espera que a empresa traga propostas condizentes com o tamanho desse desastre. Diria que é um plano amador.

A Samarco declarou ao Jornal Nacional que o plano de recuperação ambiental foi apresentado e discutido previamente com órgãos e entidades ambientais. A mineradora afirmou também que os pontos de aprimoramento sugeridos vão ser incorporados ao plano, porque se trata de um processo dinâmico, sob revisão permanente e aperfeiçoamento.

O Tribunal de Justiça de Minas Gerais decidiu enviar seis processos relativos ao rompimento da barragem de Fundão para a 12 ª Vara Federal, porque envolvem a bacia hidrográfica do Rio Doce e outro estado, o Espírito Santo. Essa transferência preocupa o MP mineiro.

— Se for deslocado para a União, esse processo vai ser paralisado. Então, não tem como estabelecer prazo até que se estabeleça de quem é a competência para analisar a questão — afirmou ao Jornal Nacional o promotor Guilherme de Sá Meneghin.

— Quando a barragem se rompeu, a gente teve no máximo dez minutos para sair de casa, e agora precisa de uma eternidade para resolver nossa situação — protestou Mônica dos Santos, representante dos moradores de Mariana.

Na última quarta- feira, o Ministério Público Federal fez imagens do momento exato do deslocamento de rejeito de minério, na barragem de Fundão. Quatrocentos e cinquenta funcionários que trabalhavam em obras de reforço das estruturas tiveram que sair.

Ontem, na Assembleia Legislativa de Minas Gerais, um funcionário da Samarco disse que o rejeito desceu até o reservatório de Santarém.

“Fizemos um voo no helicóptero da Samarco e avaliamos que esse material realmente se depositou na porção do fundo do reservatório da barragem de Santarém”, disse o engenheiro José Bernardo Vasconcelos durante a sessão.

A barragem de Santarém fica logo abaixo da barragem de Fundão e já recebeu parte do rejeito que vazou do rompimento, em novembro do ano passado. A Samarco atribuiu o deslocamento à chuva intensa dos últimos dias.

— Deixa preocupado porque demonstra que o fator tempo pode sim vir a prejudicar e trazer sérias consequências naquele empreendimento — disse ao Jornal Nacional o promotor de meio ambiente Daniel Oliveira de Ornelas.