O Estado de São Paulo, n. 44.668, 03/02/2015. Política, p. A7

PSDB tentará criar CPI para investigar Lula

Oposição busca apoio para instalar comissão que tenha como alvo os imóveis da Bancoop

Por: Daniel Carvalho / Igor Gadelha /Erich Decat / Rachel Gamarski

 

Com as investigações da Operação Lava Jato apertando o cerco ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o PSDB tenta viabilizar a criação de uma CPI para apurar irregularidades envolvendo a Bancoop (Cooperativa Habitacional do Sindicato dos Bancários).

Deputados discutem com os correligionários do Senado a possibilidade de formar uma comissão mista de investigação, mas, caso a ideia não prospere, contentam-se com um colegiado apenas na Câmara.

Dentre as principais estratégias da oposição a Dilma Rousseff e ao PT neste ano está a criação de CPIs com potencial de desgastar o partido e a presidente. Até março, devem ser abertas três vagas de CPI na Câmara. A primeira a ser instalada deve ser a do Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (Carf), a segunda será a da Fifa e a terceira, por ordem de inscrição, seria do DPVAT, que pode ser derrubada para dar lugar a uma CPI que mire a Bancoop.

O alvo da CPI, por trás da cooperativa, seria o ex-presidente Lula e o ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto, que está preso em Curitiba por causa da Operação Lava Jato e foi presidente da Bancoop.

A mulher do ex-presidente Lula, Marisa Letícia, comprou cotas da cooperativa para o condomínio Solaris, no Guarujá (SP), empreendimento que foi assumido pela empreiteira OAS, investigada pela Lava Jato, após a falência da Bancoop. Segundo a defesa de Lula, o ex-presidente da OAS Léo Pinheiro foi quem teve a iniciativa de fazer a reforma em um tríplex que caberia ao casal Lula da Silva. Porém, ainda conforme a assessoria, o petista nunca soube dos valores da obra.

Em nota, a assessoria também confirmou que Lula chegou a visitar o condomínio Solaris junto com Léo Pinheiro.

 

Ministro. Ontem, em reunião com líderes da base aliada da Câmara, o chefe da Casa Civil, Jaques Wagner, fez um desabafo aos presentes. Segundo alguns líderes ele se queixou do que chamou de “perseguição ao ex-presidente Lula”. Citou ocasiões em que disse ter sido alvo de acusações que foram “estampadas”, porém nunca comprovadas, e pediu a união de todos na defesa das propostas do governo Dilma Rousseff.

Wagner se referia a mensagens de telefone interceptadas por investigadores da Lava Jato que apontaram a relação dele com Léo Pinheiro, um dos condenados por participação no esquema de corrupção da Petrobrás.

O Estado revelou no mês passado diálogos entre os ministro e Pinheiro durante a segunda gestão Wagner (2011-2015) no governo da Bahia. Os investigadores suspeitam que parte das conversas trate de doações para a campanha petista na disputa pela prefeitura de Salvador. Wagner nega qualquer irregularidade nas conversas.

 

Reunião

Lula decidiu não comparecer hoje à reunião que definirá o novo líder do PT na Câmara. O ex-presidente havia sido convidado pelo atual líder, Sibá Machado (AC).

Órgãos relacionados:

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Desgaste pode ser irreversível

Por: Marcelo de Moraes

 

Interlocutores diretos da presidente Dilma Rousseff avaliam que as denúncias contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva podem provocar um desgaste irreversível na imagem do líder petista. Na avaliação desses auxiliares de Dilma, o caso mais complicado é sobre o sítio de Atibaia, pertencente a amigos de Lula, mas sob a suspeita de que seu real proprietário seja o próprio petista. As constantes idas de Lula ao sítio, e a aquisição de materiais de cozinha para o local, levantam a suspeita que o ex-presidente seria o dono real da propriedade, o que é negado pela assessoria do Instituto Lula.

O problema é que, para os aliados da presidente Dilma, o estrago político na imagem de Lula já está feito porque as denúncias estariam passando a impressão de que ele teria se envolvido em algum ato irregular. Segundo um desses interlocutores de Dilma, a população identifica os objetos de investigação como sendo bens de pessoas com posses, de classes mais altas (tríplex, sítio, cozinha aparelhada e barco).

Além disso, também é feita a avaliação de que qualquer denúncia contra Lula contamina também a presidente e seu governo. Existe a leitura que isso somente não acontecerá ou ocorrerá de forma branda, se a economia e o ambiente político melhorarem.