Valor econômico, v. 16, n. 3962, 14/03/2016. Política, p. A5

Temer afirma que crise é "gravíssima"

Vandson Lima

Bruno Peres

Daniel Rittner

O prazo máximo de 30 dias estipulado pelo PMDB para sacramentar seu desembarque do governo insere a sigla em uma espécie de "calendário do impeachment", tornando a definição do partido um ponto decisivo na permanência ou não da presidente Dilma Rousseff no cargo.

Conforme anunciou o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ) na sexta-feira, a Casa levará em torno de 45 dias para analisar o processo a partir do momento em que o Supremo Tribunal Federal (STF) decidir sobre os embargos declaratórios - a sessão está marcada para quarta-feira. É em meio a esse prazo que o PMDB, após analisar as variáveis queainda podem impactar os rumos do governo - como a força das manifestações populares, novos desdobramentos da Operação Lava-Jato e mesmo a possibilidade de o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva aceitar um cargo de ministro - definirá, por volta do dia 11 de abril, se rompe com a atual gestão.

Até lá, o grupo ligado ao presidente do Congresso Nacional, senador Renan Calheiros (PMDB-AL), testará a recepção de outras soluções, como a aprovação de uma emenda que criaria um "semiparlamentarismo", diminuindo os poderes da figura do presidente. Mas se ficar evidente que o governo se tornou inviável e o PMDB fechar posição pela saída do governo, Renan e os seus não pretendem mais sustentar a permanência de Dilma. É por isso, segundo aliados, que o presidente se articula desde já com outras forças políticas.

Na convenção, o PMDB seguiu o script combinado. Não rompeu com o governo, mas sinalizou que provavelmente o fará. Não estimulou, mas também não fez qualquer reprimenda aos pemedebistas que encheram o auditório aos gritos de "fora Dilma" e "Brasil pra frente, Temer presidente", que ecoaram durante todo o evento. Aprovou uma moção que impede que pemedebistas assumam novos cargos na máquina federal nesses 30 dias e contemplou generosamente os grupos de Temer e Renan na nova direção Executiva, que será responsável por bater o martelo sobre o desembarque da atual gestão. "Se o partido decidir sair do governo, todos os cargos serão entregues. Quem não fizer isso será saído do partido", garantiu Moreira Franco, presidente da Fundação Ulysses Guimarães.

Temer foi reconduzido ao comando do PMDB por unanimidade. O senador Romero Jucá (RR) será o primeiro vice-presidente. O segundo vice será Eliseu Padilha, fiel aliado de Temer. O terceiro vice será o deputado João Arruda (PR).

O secretário-geral será o deputado Mauro Lopes (MG), que estava cotado para assumir a Secretaria de Aviação Civil e fica agora duplamente impedido, pelo prazo estipulado e pelo posto na burocracia partidária. O segundo-secretário será o líder do PMDB na Câmara, Leonardo Picciani (RJ). O tesoureiro da sigla será o senador Eunício de Oliveira (CE) e o segundo-tesoureiro, Valdir Raupp.

"Pelas manifestações que vimos aqui no plenário, o PMDB seguramente tem grande possibilidade de se tornar independente daqui a 30 dias", cravou Padilha.

Para Jucá, a nova direção aponta também "um novo posicionamento" para o PMDB. "Montamos a unidade de comando e agora vamos definir as posições programáticas. O PMDB vai se posicionar claramente sobre vários pontos hoje debatidos no país. E em até 30 dias, o diretório está com o poder de, analisando todas as moções, que são na sua grande maioria pelo afastamento do governo, tomar uma decisão, que será cobrada de todos os seus filiados".

Temer procurou posicionar o PMDB na via contrária à radicalização em seu discurso. Para ele, "não é hora de dividir os brasileiros e acirrar ânimos. É hora de construir pontes". O vice-presidente foi sutil ao sugerir o PMDB como uma alternativa de poder, após os recentes episódios relacionados à Operação Lava-Jato aumentarem a velocidade do processo que pode culminar com o impeachment de Dilma Rousseff. "Não podemos ignorar que o país enfrenta gravíssima crise política e econômica. Não podemos deixar que estes problemas comprometam ganhos sociais. O PMDB vem oferecendo planos para o Brasil. Estaremos brevemente apresentando propostas para garantir avanços sociais. São propostas que visam confiança do setor produtivo", disse.

Temer sublinhou que "o Estado não apresenta problemas relativos à democracia. Nossas instituições estão em pleno funcionamento". E conclamou o partido a se apresentar como solução para a crise. "Não é hora de dividir os brasileiros e acirrar ânimos. É hora de construir pontes. Sairemos unidos para resgatar os valores da nossa República. Sairemos daqui para encontrar via do desenvolvimento econômico. Sairemos daqui unidos por um futuro melhor".

Ministros do PMDB adotaram um discurso único durante a convenção, procurando minimizar debates envolvendo divergências com o governo federal petista e uma eventual saída dos cargos. "Esse assunto não foi sequer discutido, nem na pauta da convenção estava. Não há desconforto porque sabemos a motivação dos que defendem isso", avaliou o ministro do Turismo, Henrique Eduardo Alves.

 

Os ministros da Saúde, Marcelo Castro, da Ciência, Tecnologia e Inovação, Celso Pansera, e dos Portos, Helder Barbalho, também deram declarações nesse sentido. Castro (PMDB), demonstrou contrariedade ao ser perguntado sobre sua disposição em entregar o cargo em caso de saída do PMDB do governo. "Não existe nada disso. Você está fazendo uma pergunta sem sentido. Não há nenhuma disposição em entregar o cargo". O ministro-chefe da secretaria de Portos, Helder Barbalho, afirmou que o PMDB se reuniu para debater a unidade partidária, sob o comando de Michel Temer, e classificou como "secundário" qualquer outro debate entre os pemedebistas. "Está claro que o partido sai unido desta convenção, e o que exceder da discussão da unidade partidária são movimentos isolados", afirmou.