Correio braziliense, n. 19296, 25/03/2016. Economia, p. 7

País tem 9,6 milhões de desempregados

CONJUNTURA / Dados do IBGE mostram a maior taxa de desocupação desde o início da série histórica da Pnad Contínua. Em um ano, número de pessoas sem trabalho cresceem2,9 milhões. Média salarial recua 2,4%. Especialistas veem piora nos próximos meses
Por: RODOLFO COSTA

RODOLFO COSTA

 

O mercado de trabalho vai de mal a pior, diante do aprofundamento da recessão. Não por acaso, a taxa de desemprego atingiu 9,5% no trimestre terminado em janeiro, segundo a Pnad Contínua, elaborada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Foi o pior resultado da série histórica. No total, 9,6 milhões de brasileiros estão sem trabalhado, 2,9 milhões (42,3%) a mais que no mesmo período de 2015, quando o índice de desocupação estava em 6,8%.

Segundo os especialistas, as perspectivas são as piores possíveis, pois não há como o nível de atividade se recuperar, diante da onda de desconfiança que varreu o país. A crise política fez com que o Produto Interno Bruto (PIB) afundasse e as demissões se acelerassem. A retração da atividade neste ano deve passar dos 4%, o que levará o desemprego para algo entre 12% e 13%. Há quase uma década não se vê taxa de desocupação de dois dígitos no país.

“O mercado não está favorável. Há um nível de dispensas expressivo, com setores importantes para o emprego formal, como a indústria e serviços financeiros, em baixa. Pior: está havendo queda do rendimento real, quem fica no mercado está ganhando menos”, afirmou o coordenador de Trabalho e Renda do IBGE, Cimar Azeredo. Na média, os salários ficaram em R$ 1.939, com queda de 2,4% ante janeiro do ano passado. Já a massa salarial despencou 3,1%.

Ao analisar os números, Azeredo foi enfático: “A queda no emprego é generalizada. Normalmente, quando cai o número de vagas sem carteira é porque subiu o com carteira assinada. Não é o que está acontecendo”. Na avaliação dele, com a inflação alta, a escassez de crédito, a falta de investimentos e a desconfiança que tomou conta dos agentes econômicos, os trabalhadores estão pagando a conta. “Um cenário econômico ruim traz algumas mazelas. O desemprego é uma delas”, frisou.

 

Domésticos

Pelos dados do IBGE, somente dois grupos de trabalhadores apresentaram números positivos no trimestre encerrado em janeiro frente igual período do ano anterior: o de empregados domésticos, com avanço de 3,8% (225 mil vagas), e aqueles que trabalham por conta própria, com incremento de 6,1% (1,3 milhão a mais de pessoas). No caso dos domésticos, quando a economia estava crescendo, muitos trocaram a profissão pelo comércio. Agora, com as lojas fechando e demitindo, o jeito foi retornar às origens.

Entre os que estão trabalhando por conta própria, prevalece a falta de opção. É o caso de Thayná Lopes, 18 anos, que teve carteira assinada. Para sustentar o filho, de apenas quatro meses, e ajudar no orçamento de casa, ela começou a vender sorvete em saquinhos há um mês. “Gostaria mesmo é de estar em emprego fichado, com todos os meus direitos, construindo uma carreira. Mas não consigo. Infelizmente, não posso me dar o luxo de ficar parada em casa”, lamentou.

Mas Thayná não esmorece e, sempre que pode, conta com a amiga Aillane Honorato, 19, que conseguiu um emprego em um trailer que vende alimentos. “É uma vaga sem carteira, mas aceitei porque já estava desempregada desde julho passado”, afirmou Aillane. “O mercado está fechado. Sinto que a situação só vai melhorar com uma troca de governo”, acrescentou a jovem.

 

Frases

"O mercado está fechado. Sinto que a situação só vai melhorar com uma troca de governo”

Aillane Honorato, vendedora

 

"Gostaria de ter um emprego fichado, com todos os meus direitos, construindo uma carreira”

Thayná Lopes, vendedora