O globo, n. 30.169, 13/03/2016. País, p. 8

Sem opção, PT ainda aposta em Lula para sobreviver

Falta de outro nome forte para 2018 faz petistas jogarem fichas no ex-presidente

Por: LETÍCIA FERNANDES

 

-BRASÍLIA- Navegando em mares cada vez mais instáveis, o PT e o seu principal líder, o ex-presidente Lula, temem a impossibilidade de recuperar o fôlego político até as eleições de 2018. Dirigentes petistas avaliam que a Operação Lava-Jato não acabará bem para o PT, com ou sem a prisão de Lula. Esse último cenário, caso se concretize, poderá sepultar as pretensões eleitorais do partido.

A maioria dos petistas ouvidos pelo GLOBO admite que não há líderes fortes que possa disputar a sucessão presidencial.

— O partido tem noção de que Lula pode de fato não ser candidato, mas é preciso que ele esteja muito destroçado para isso, e, se tiver, o PT vai passar por uma reestruturação partidária. De qualquer maneira, não vai acabar bem para gente, vai acabar muito mal — disse um integrante da direção do PT.

Mas o desgaste do ex-presidente, que teve sua prisão preventiva pedida pelo Ministério Público paulista, também tem um lado positivo. Repercutiu bem no PT a autodefesa de Lula no último dia 4, após ser conduzido à força para depor. Esse fato foi considerado um divisor de águas no partido e reacendeu a militância.

A prisão do petista pode transformá-lo em mártir e vitimizá-lo, o que potencializa sua força.

— O que se viu sexta-feira mostra que Lula é imbatível num processo eleitoral. Antes disso, eu me questionava se a reação (a uma possível prisão ou ação da PF) não poderia ser pífia, mas foi o oposto. Óbvio que o Lula é o candidato natural do PT. E, se for, ganha a eleição, por isso querem tirá-lo do jogo — avaliou o deputado Wadih Damous (PT-RJ).

— O Lula é a nossa grande aposta. Claro que tem um desgaste por toda essa campanha de perseguição, e antes ele não queria ser candidato, mas essa Operação Lava-Jato obriga Lula a ser candidato para defender sua história e legado de seu governo. Se diziam lá atrás que não era para entrar em bola dividida, que era para concorrer para ganhar, agora ele tem que entrar em bola dividida sim — concorda o senador Lindbergh Farias (PT-RJ).

Caso Lula seja alvo de ação por improbidade administrativa e impedido de concorrer, ou ser for preso, parlamentares do PT apostam no prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, para o Planalto, se ele for reeleito.

E se o governo Dilma Rousseff se recuperar, petistas cogitam um candidato de dentro do governo, como o ministro Jaques Wagner (Casa Civil). Outros nomes ventilados, mas sem tanto entusiasmo, são o do ministro da Educação, Aloizio Mercadante, e o do governador de Minas, Fernando Pimentel. Petistas avaliam que Pimentel faz governo razoável e poderia concorrer, mas admitem que dificilmente será reeleito e lembram que ele está envolvido na Operação Acrônimo, investigado por supostos pagamentos irregulares à empresa de sua mulher.

Senadores relacionados:

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‘Os brasileiros têm direito de expressar sua opinião’

Por: CAROLINA BRÍGIDO

OAB designa observadores para atuar em caso de violência nas manifestações de hoje

 

- BRASÍLIA- Preocupada com eventuais episódios de violência nas manifestações, a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) designou associados para atuar como observadores em todo o país. Haverá plantão nas seccionais de todos os estados para atender vítimas de agressões. Os profissionais também estarão nas ruas, fiscalizando qualquer irregularidade. O presidente da OAB, Cláudio Lamachia, quer processar agressores, especialmente se a vítima for profissional da imprensa.

 

Como vão trabalhar os observadores?

A ideia é que os advogados possam contribuir para assegurar o direito à livre manifestação a todos os cidadãos. É uma forma de garantir o cumprimento da Constituição Federal, que dá a liberdade de manifestação às pessoas. Também queremos zelar pelo trabalho da imprensa. Os jornalistas, os fotógrafos, os cinegrafistas, todos os profissionais da mídia precisam ter asseguradas as suas condições de trabalho.

 

Como o cidadão poderá denunciar abusos?

Estaremos identificados nas ruas, mas também é possível telefonar para a OAB e relatar o corrido. Se for detectado algum abuso que possa cercear o direito de manifestação, a OAB vai agir. Vou fazer o que estiver ao meu alcance para responsabilizar penalmente toda e qualquer pessoa que estiver agindo de forma violenta ou incitando a violência nesses protestos. Vamos levar casos às autoridades competentes, para que essas pessoas sejam punidas. É inadmissível que haja ato de violência amanhã (hoje).

 

Como o senhor vê o ataque à imprensa nessas manifestações?

Quando temos uma agressão a um profissional de imprensa, estamos agredindo a Constituição, que assegura o direito à informação. Por isso, a liberdade de imprensa é tão importante no estado democrático de direito. Ela deve ser assegurada e respeitada.

 

A OAB concorda com as manifestações?

Os brasileiros têm o direito de expressar sua opinião, seja ela qual for. O direito à manifestação é assegurado pela Constituição. A sociedade deve rechaçar a onda de corrupção. E está clamando, neste momento, pela melhoria nos serviços básicos de saúde, educação, segurança e justiça. Do mesmo modo, a Constituição assegura o direito à informação. Por isso, a liberdade da imprensa deve ser sempre valorizada.