O globo, n. 30.168, 12/03/2016. Economia, p. 19

Dólar tem queda de 1,42%, para R$ 3,59

Cotação reflete maior expectativa de mudança política e valorização de outras moedas emergentes

Por: Rennan Setti/ Ana Paula Ribeiro

 

-RIO E SÃO PAULO - O dólar comercial recuou 1,42% ontem, a R$ 3,590, a menor cotação desde 31 de agosto do ano passado. Na mínima, a moeda chegou a ser negociada a R$ 3,581. Foi a quarta queda consecutiva do dólar, que acumulou na semana desvalorização de 4,54%, embalada pelo noticiário político. O mercado financeiro tem se mostrado crítico à política econômica atual e reage positivamente a notícias desfavoráveis ao governo da presidente Dilma Rousseff.

Ontem também pesou a valorização de divisas emergentes, após o Banco Central da China elevar em 0,34% a cotação de referência yuan contra o dólar. Segundo a agência Bloomberg, a moeda americana recuava frente a 21 de 24 divisas de emergentes. Os investidores também demonstraram cautela com a notícia de que o Ministério Público de São Paulo pediu a prisão preventiva do expresidente Luiz Inácio Lula da Silva. O pedido recebeu críticas até da oposição.

— Tudo o que o investidor podia fazer para se posicionar para o cenário político, ele já fez. Agora é ver a proporção das manifestações de domingo — disse Raphael Figueredo, analista da Clear Corretora.

 

ANALISTAS COMEÇAM A REVER PROJEÇÕES

Daniel Weeks, economista da Garde Asset, lembra ainda a convenção do PMDB, que deve anunciar uma posição sobre um impeachment da presidente Dilma.

Diante do aumento da possibilidade de a crise política levar à mudança de governo, bancos, corretoras e consultorias já deram início à revisão das projeções para o dólar ao fim do ano, apostando agora em uma apreciação menos intensa. A menor aversão ao risco global e a melhora da conta corrente do país também estão sendo consideradas.

A consultoria Tendências, por exemplo, divulga as novas projeções na próxima semana e, na revisão, o economista Silvio Campos Neto trabalhará com dois cenários. Em um deles, em que considera a mudança de governo, o dólar poderia encerrar o ano em torno de R$ 3,70, próximo do patamar atual. Caso a saída da presidente Dilma não ocorra, o cenário muda, e a moeda ficaria entre R$ 4,30 e R$ 4,40.

— O que tem estimulado essas revisões e alterações de cenário é o quadro político. Você tem que considerar as duas possibilidades. Os problemas fiscais não vão se resolver (com uma mudança de governo), mas vão criar um outro ambiente de gestão na economia e retomada da confiança — disse Campos Neto.

No caso de mudança de governo, ele vê chance de a economia se recuperar a partir do ano que vem. Essa melhora de expectativa contribui para cotações mais baixas do dólar.

Bernardo Gonin, analista da Rio Gestão de Investimentos, lembrou que, dada a incerteza política, é natural aguardar algo mais concreto para atualizar as projeções. As manifestações previstas para amanhã podem dar uma uma dimensão sobre o espaço para manter essas expectativas de mudança, levando a novas revisões.

Ele ressaltou que a negociação de ativos (dólar, ações em Bolsa, títulos negociados no exterior) tende a refletir essas expectativas mais rapidamente, o que explica a recente queda do dólar:

— O preço dos ativos financeiros se mexe primeiro, depois ocorre as revisões das projeções.

No entanto, uma queda acentuada é descartada, já que a economia brasileira precisa corrigir uma série de problemas, como o desequilíbrio das contas públicas.

A Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) avançou 0,14%, aos 49.638 pontos. Houve influência do bom humor dos mercados globais, refletindo as medidas de estímulo anunciadas na quinta-feira pelo Banco Central Europeu. Paris subiu 3,27%, e Frankfurt, 3,51%. Em Nova York, o índice Dow Jones teve valorização de 1,28%, e o S&P 500, de 1,64%. Na semana, a Bovespa avançou 1,13%, a quarta alta semanal consecutiva, incluindo o salto de 18,01% da semana anterior.

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Receita publica regras no dia 14

Por: Bárbara Nascimento

 

-BRASÍLIA - Receita Federal vai publicar na segunda-feira, dia 14, as regras para o regime que permite a repatriação de recursos no exterior. A regulamentação, que ocorrerá por meio de instrução normativa, segue consulta pública que aconteceu no início do mês.

O Regime Especial de Regularização Cambial e Tributária (RERCT), conhecido como programa de repatriação, permite a legalização de recursos, bens e direitos mantidos no exterior de forma irregular, sem serem declarados. Com a regularização, o contribuinte fica livre do crime de sonegação, mas tem de pagar multa e impostos. A estimativa oficial é arrecadar R$ 21 bilhões com os recursos repatriados. Projeções de bancos apontam que o montante repatriado pode chegar a US$ 75 bilhões (cerca de R$ 273,7 bilhões).

O Fisco exige que os bens tenham origem lícita. Essa, inclusive, é uma das questões que, segundo tributaristas, precisam ser regulamentadas, de forma a explicar como a declaração da origem não ilícita do bem irá acontecer.

— Basta apenas informar que o bem é lícito ou o contribuinte vai ter de detalhar a fonte? A Receita precisa deixar isso bem claro — aponta o advogado tributarista Samir Choaib. (Bárbara Nascimento)

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Barbosa entra na mira do PT e até do próprio governo

Por: Martha Beck/ Simone Iglesias/ Roberta Scrivano

 

-BRASÍLIA E SÃO PAULO- No comando da economia há menos de três meses, o ministro da Fazenda, Nelson Barbosa, começou a ser bombardeado por parte do PT e do próprio governo, que o acusam de defender uma agenda impopular em um momento de fragilidade política da presidente Dilma Rousseff. Barbosa, que tem perfil desenvolvimentista e assumiu o cargo no lugar de Joaquim Levy justamente porque o ex- ministro demonstrava mais preocupação com o ajuste fiscal do que com o crescimento econômico, agora se tornou o alvo. A principal divergência está na reforma da Previdência, considerada crucial pela equipe econômica para o reequilíbrio das contas públicas.

A maioria dos petistas insatisfeitos alega que esse não é o momento de falar em mudanças no sistema de aposentadorias, pois isso poderia fazer o governo perder apoio das centrais sindicais. Já os mais radicais não querem tratar da reforma nem agora nem no futuro. Barbosa, no entanto, tem insistido que é preciso debater mudanças na Previdência para que ela não se torne insustentável no futuro. O cronograma definido pelo governo é debater a reforma no Fórum da Previdência e encaminhá-la ao Congresso até o fim de abril.

Durante a semana, Barbosa defendeu as mudanças na Previdência em conversas com empresários, políticos e sindicalistas. Em almoço ontem no Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), ele apresentou estratégias de ações econômicas de curto e médio prazos.

— Tem uma série de ações administrativas que a gente pode tomar de simplificação, desburocratização, que eles (empresários) apontaram. E a gente vai ter uma agenda de trabalho nesses aspectos para as próximas semanas — disse Barbosa.

Após o almoço, ele voltou a falar sobre a reforma:

— Todos concordam que é preciso preservar a Previdência, e isso envolve adotar alguma medida. Estamos discutindo a forma e o melhor tempo de apresentar essas mudanças. Acho importante apresentar depois das discussões do Fórum, que foi um compromisso assumido pela presidente no ano passado.

Enquanto isso, colegas de Esplanada de Barbosa trancam a pauta. É o caso do ministro do Trabalho e da Previdência, Miguel Rossetto, que vem defendendo o adiamento da reforma. Segundo integrantes do Planalto, Rossetto tem dito que contrariar as centrais neste momento seria “um tiro no pé” e que é preciso escolher as batalhas, sendo a principal delas agora dar sustentação política à presidente.

Diante disso, interlocutores da equipe econômica admitem que o prazo pode acabar sendo adiado. Segundo eles, está claro que a turbulência políticas afeta a agenda econômica e Barbosa sabe disso. O discurso do ministro, afirmam os técnicos, está afinado com o de Dilma. Assim, se ela avaliar que é preciso esperar os desdobramentos da crise, Barbosa poderia “baixar o tom” e falar menos sobre o tema.

 

DILME DEFENDE MINISTRO

Ontem, em entrevista, Dilma foi perguntada sobre se ele estaria firme do cargo e o defendeu:

— Essa questão de ficar perguntando se ministro está firme no cargo é um processo que é, inequivocamente, tentativa de enfraquecimento do ministro. O ministro não está enfraquecido, não existe essa hipótese, e críticas são normais. Ou bem nós vivemos em uma democracia ou bem nós não vivemos.

Os ataques sobre a “fritura” que estaria sofrendo dentro do governo até viraram brincadeira na Fazenda. Segundo assessores, quando Barbosa é perguntado sobre isso, ele rebate:

— Não entendo nada de fritura. Inclusive estou querendo perder uns quilos.

    Órgãos relacionados:

    • Congresso Nacional

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    Opinião

     
    EFEITO PRÁTICO
     
    A POPULAÇÃO paga de várias formas o preço pelos desmandos fiscais do lulopetismo que levaram à quebra do Estado e à perda do selo de bom pagador pelo país.

     

    INFLAÇÃO, RECESSÃO e desemprego são os mais visiveis dos custos. Há outros, menos escancarados, nem por isso pouco maléficos.

     

    UM EXEMPLO é o enorme encarecimento dos juros pagos pelo Brasil para captar dinheiro no exterior: na quinta, o Tesouro levantou US$ 1,5 bilhão em troca de 6,125% ao ano. Em setembro de 2014, antes de o mundo saber do estelionato eleitoral, a taxa havia sido de apenas 3,8%.

     

    ESSE AUMENTO de juros será arcado pelo contribuinte.