O globo, n. 30.157, 01/03/2016. País, p. 5

Por quatro anos, aliado fiel de Jaques Wagner

Por: Eduardo Bresciani

Enquanto esteve à frente da Procuradoria- Geral da BA, novo escolhido para a Justiça não levou adiante ações que poderiam ter custado mandato do hoje ministro Jaques Wagner, que o indicou à pasta
 

-BRASÍLIA- Uma pessoa agradável, que trata bem a todos, recebe a quem pede audiência ou telefona, mas que ao longo de quatro anos como procuradorgeral da Bahia atuou como um aliado fiel do então governador Jaques Wagner, sem levar adiante ações que poderiam até custar o mandato do petista. É assim que políticos baianos descrevem o novo ministro da Justiça, Wellington César, indicado para o cargo justamente por Jaques Wagner, atual titular da Casa Civil da Presidência da República.

A própria chegada do novo ministro ao cargo de procurador- geral do estado foi marcada por polêmica. Ele foi apenas o terceiro colocado na eleição realizada para o cargo pela categoria em 2010. Wagner ignorou os dois primeiros, que seriam ligados ao grupo do prefeito de Salvador, ACM Neto ( DEM), e indicou Wellington César.

Nos quatro anos em que ocupou o cargo na Bahia, Wellington César foi muito procurado por parlamentares de oposição que buscavam denunciar supostas irregularidades no governo petista. Numa delas, em 2013, o deputado Elmar Nascimento ( DEM- BA), então líder da minoria na Assembleia Legislativa, conseguiu um parecer da Secretaria do Tesouro Nacional que levantava dúvidas sobre o cumprimento da Lei de Responsabilidade Fiscal pela gestão, que estaria usando para outros fins recursos recebidos de convênios internacionais. Segundo os oposicionistas, nada prosperou. O procuradorgeral não enviou sequer ao arquivo as acusações, limitando- se a remeter as representações aos órgãos técnicos, de onde nunca saíam.

— A presidente trocou um ministro da sua cota pessoal ( José Eduardo Cardozo) por uma pessoa que ela nem conhece e é muito ligada a Jaques Wagner. As oposições na Bahia se queixam de que ele nunca deu andamento às ações. Se ele foi nomeado para prestar serviço ao PT e segurar a Lava- Jato, terá dificuldades, porque essa operação tem uma força- tarefa dedicada e a sociedade está atenta — diz o líder do PSDB na Câmara, Antonio Imbassahy ( BA).

Os petistas, por sua vez, destacam que as credenciais do ministro, especialmente por ser oriundo do MP, lhe darão as condições necessárias para o cargo. Mas ressaltam que desejam ver andar sindicâncias que apuram eventuais desvios de conduta de profissionais da Lava- Jato, como supostos grampos ilegais na Superintendência da Polícia Federal, em Curitiba. A esperança petista é que ele consiga ter o mesmo controle sobre a PF que exerceu sobre o MP baiano.

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Autor da lei que combate corrupção assume CGU

Luiz Navarro Britto conduzirá acordos de leniência com empresas investigadas pela Lava- Jato
 
-BRASÍLIA- Integrante do Conselho de Administração da Petrobras e um dos responsáveis pela elaboração da Lei Anticorrupção, que passou a prever acordos de leniência entre governo e empresas, Luiz Navarro Britto é o novo ministro da Controladoria-Geral da União ( CGU). Ele atuou por dez anos na CGU, como secretário- executivo — e braço- direito do ex- ministro Jorge Hage —, secretário de Prevenção da Corrupção e corregedor- geral. Luiz Navarro Britto deixou o órgão em 2013 para atuar como consultor de um escritório de advocacia. Ele é consultor legislativo efetivo do Senado, onde recebe salário de R$ 29 mil.

O texto da lei que contou com a participação e a defesa de Navarro, sancionado pela presidente Dilma Rousseff em 2013, passou por modificações no fim do ano passado por uma medida provisória da própria presidente. As mudanças são alvo de críticas de órgãos de controle. A MP facilita a leniência, ao estabelecer que empresas não precisam mais admitir prática de crimes para aderir a um acordo, nem reparar um dano “integral”. A CGU discute pelo menos dez acordos de leniência com empreiteiras investigadas na Lava- Jato. Caberá a Navarro conduzir as negociações e legitimar esse instrumento, que poderá garantir às empresas novos contratos com o poder público. (Vinicius Sassine).

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