Título: Indústria compromete o PIB
Autor: Caprioli, Gabriel
Fonte: Correio Braziliense, 05/10/2011, Economia, p. 13

Recuo de 0,2% da produção em agosto endossa a tese de que a economia pode ter sofrido contração no terceiro trimestre

Apesar do consumo em alta, puxado por renda e emprego, a indústria brasileira dá amplos sinais de estagnação. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a produção registrou queda de 0,2% em agosto, reforçando as estimativas dos especialistas de desaceleração da atividade. Os mais pessimistas, inclusive, não descartam a possibilidade de o Produto Interno Bruto (PIB) surpreender e sofrer retração já no terceiro trimestre, o que será um baque para o governo, que prevê um desempenho positivo da economia, a despeito da crise.

Mesmo o crescimento de 1,8% em relação a agosto do ano passado foi considerado insuficiente para sustentar uma melhora da produção até o fim do ano. Nilson Teixeira, economista-chefe do banco de investimentos Credit Suisse, disse que o consenso de que a atividade seguirá andando de lado é reforçado pela deterioração da confiança dos empresários e pela competição ferrenha com as importações ¿ que estão roubando boa parte do mercado consumidor nacional.

"A produção nos últimos meses sugere estagnação. O resultado de agosto foi 0,9% inferior ao de setembro de 2008, o maior nível de produtividade até a contração do quarto trimestre daquele ano. Esperamos que o crescimento permaneça baixo a curto prazo", avaliou Teixeira. O cenário, segundo ele, aumenta a probabilidade de o índice de atividade econômica do Banco Central (IBC-Br) passar de um saldo positivo de 0,4% em julho para baixa de 0,2% no mês seguinte. O indicador é considerado uma prévia do PIB.

O recuo das fábricas em agosto foi puxado, principalmente, pelo setor alimentício, que desabou 4,6%. Segundo o gerente de Coordenação de IBGE, André Macedo, o impacto foi determinante devido à participação do segmento no total da produção nacional. "Os alimentos têm peso relevante, de cerca de 10%", explicou. Em comparação com julho, 11 dos 27 ramos pesquisados reduziram a atividade.

Alessandra Ribeiro, economista da Consultoria Tendências, destacou que o tombo na produção de alimentos guarda relação com a dinâmica própria do setor. "É um grupo muito volátil, que hoje está caindo muito, mas pode se recuperar logo", acrescentou. A economista lembrou, no entanto, que o maior desafio da indústria é conjuntural. "Esse descolamento entre manufatura e o consumo se arrasta há meses e o abastecimento está sendo compensado pelas importações", disse.

Moderação A incerteza econômica deve forçar o Banco Central a ser mais moderado nos próximos cortes da taxa básica de juros (Selic). Depois da redução de 0,50 ponto percentual, parte do mercado chegou a cogitar uma queda em mais um ponto percentual na reunião de outubro. Declaração do Relatório Trimestral de Inflação de que "ajustes moderados na taxa consistentes a convergência da inflação para a meta em 2012", porém, reforçou a expectativa dos analistas de que as próximas reduções serão de 0,50 ponto percentual.

Distante da nota A Apesar de ocupar uma posição melhor do que outros países em desenvolvimento, o Brasil está "a anos" de ter sua nota de crédito elevada para "A", segundo o analista para o país da agência de classificação de risco Moody"s, Mauro Leos. De acordo com o economista, a transparência e o rigor fiscal podem ajudar a elevar os ratings soberanos brasileiros. "O Brasil terá que criar uma outra trajetória (para sair de níveis mais baixos)", comentou Leos. A Moody"s revisou a avaliação do Brasil em junho para "Baa2", dois graus abaixo da menor nota "A". Entre os desafios que estão no caminho da requalificação, a agência destacou a administração do nível de financiamentos e a inadimplência da economia.