Título: Agora, Alemanha e França tentam mostrar união
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Fonte: Correio Braziliense, 10/10/2011, Economia, p. 9

Os dois países mais ricos da Zona do Euro se dizem prontos para socorrer bancos em dificuldades e, assim, conter a crise

Berlim ¿ Depois de muitas divergências em público, os governos da França e da Alemanha finalmente se entenderam ontem e anunciaram que estão "decididos a fazer o que for necessário" para recapitalizar os bancos da Zona do Euro. Em sérias dificuldades e sob ataque dos mercados, as instituições enfrentam dificuldades para garantir crédito à economia. As projeções apontam para a necessidade de um socorro de até 200 bilhões de euros ao sistema financeiro da região.

Segundo a chanceler alemã, Angela Merkel, e o presidente francês, Nicolas Sarkozy, ambos os países são a favor de "modificações importantes" dos tratados da União Europeia (UE) como forma de permitir ações mais concretas para conter a crise que empurra a economia do bloco para a recessão. Sarkozy ressaltou que é dever da Europa "resolver seus problemas" antes da reunião do G-20, grupo que reúne as 19 economias mais ricas do planeta e a UE, marcada para 3 e 4 de novembro em Cannes, Sul da França, nação que preside o grupo neste ano.

O presidente francês prometeu "respostas duradouras, globais e rápidas antes do fim do mês", para que a "Europa chegue ao G-20 unida e com os problemas resolvidos". Angela Merkel foi além. Para ela, em um momento em que a crise da dívida europeia, principalmente a grega, ameaça transformar-se em crise bancária, não há economia próspera sem bancos estáveis e confiáveis.

Os dois governantes, que insistiram em sua unidade sobre os diferentes aspectos da crise financeira europeia, evitaram, durante todo o domingo, um anúncio concreto. Eles propuseram "modificações importantes" aos tratados europeus, que vão no sentido de uma maior "integração da Eurozona". Mas não deram detalhes. Merkel ressaltou apenas que o objetivo é ter uma cooperação mais estreita e vinculada entre os países da região para melhorar o controle dos gastos orçamentários.

Dúvidas Com relação ao Fundo de Emergência da Eurozona (Feef), que deve ajudar os países endividados ¿ Grécia, Itália, Espanha, Portugal e Irlanda, principalmente ¿, o presidente francês afirmou que Paris e Berlim haviam "identificado as propostas técnicas para reforçar a sua eficácia". Merkel disse acreditar que a ampliação do Feef, proposta em 21 de julho, seja muito em breve reconhecida por todos os Estados membros, ainda que a sua ratificação esbarre na reticência da Eslováquia. Para ela, o fundo deve ter os meios de atuar, abrindo a via para uma nova reforma técnica deste instrumento. Segundo a imprensa local, a França deseja dotar o fundo de uma licença bancária para que possa apoiar-se no Banco Central Europeu (BCE), o que multiplicaria a sua capacidade financeira mediante o endividamento.

Quanto à Grécia, que é o epicentro da crise da dívida, a chanceler alemã disse que deseja "uma solução duradoura que assegure a manutenção (do país) na Eurozona". Nenhum dos dois governantes, no entanto, disse uma só palavra sobre a possibilidade aumentar o financiamento por parte dos bancos detentores de títulos da dívida grega.

Resta saber se o desejado entendimento entre Sarkozy e Merkel bastará para tranquilizar os histéricos mercados, em um contexto no qual a crise da dívida europeia já causou a primeira vítima: o banco franco-belga Dexia. Os governos de França, Bélgica e Luxemburgo chegaram a um acordo ontem sobre a divisão do banco, que ainda terá que receber o aval do conselho de administração da instituição.

Bélgica assume o Dexia O governo da Bélgica desembolsará 4 bilhões de euros para assumir o controle do Dexia Banque Belgique, a filial do banco franco-belga Dexia, que está à beira da falência três anos depois de ter sido socorrido com 6 bilhões de euros. "Os negociadores belgas, franceses e luxemburgueses chegaram a um acordo nesta tarde sobre a venda da filial bancária belga do Dexia SA. O preço desta transação será de 4 bilhões de euros", informou o jornal Le Soir. O valor do Dexia Banque Belgique (DBB) é estimado entre 3 e 7,5 bilhões de euros, o que significa uma transação por um preço abaixo do calculado. O Estado belga será o único acionista, por intermédio de seu braço financeiro, a Sociedad Federal de Participação e Investimento.