O Estado de São Paulo, n. 44731, 06/04/2016. Política, p. A5

Para preservar vice, Jucá assume comando do PMDB

Senador foi alçado à presidência do partido com a tarefa de blindar o vice de acusações de que estaria tramando para derrubar Dilma
Por: Ricardo Brito

 

Ricardo Brito / BRASÍLIA

 

Em articulação para tentar tirar o vice-presidente Michel Temer da linha de tiro dos ataques de aliados da presidente Dilma Rousseff,o senador Romero Jucá (PMDB-RR) assumiu ontem a presidência do PMDB com a tarefa de blindar o peemedebista.

No seu primeiro dia como dirigente máximo do partido, Jucá fez uma enfática defesa de Temer no plenário do Sena do e advogou o uso do instituto do impeachment– do qual o vice é beneficiário direto – como a principal saída para superar a crise política.

A saída temporária de Temer do comando partidário ocorreu exatamente uma semana após a Executiva Nacional do partido ter decidido, por aclamação, romper como governo e ter determinado a entrega imediata dos sete ministérios e cerca de 600 cargos de livre nomeação ocupados por filiados do partido ou indicados pela legenda.O anúncio do desembarque oficial do PMDB levou ministros palacianos, petistas e até o ex presidente Luiz Inácio Lula da Silva a intensificarem as críticas ao vice ao insinuarem ou acusá-lo de tramar um “golpe” para derrubar a presidente.

A operação de desembarque patrocinada pelo vice –e classificada como “precipitada” presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL) - acarretou até o momento apenas a saída de um dos sete ministros – Henrique Eduardo Alves,do Turismo –e de pouco mais de 1% dos principais cargos ocupados por nomes ligados à legenda.

 

Antecipação. A assunção de Jucá a presidente do PMDB fez parte de um acordo costurado desde a reeleição de Temer para o comando do partido no dia 12 de março e estava prevista para ocorrer na próxima semana. A decisão de antecipá-la veio após uma conversa entre o vice e o senador no Palácio do Jaburu na noite de sexta-feira passada. No encontro, ficou acertado que Temer se licenciaria do cargo para não ter que responder diretamente a ataques, deixando para Jucá a tarefa de ser uma espécie de anteparo às críticas feitas ao partido.

Em seu primeiro pronunciamento, o novo presidente do PMDB rebateu Renan sobre o açodamento do partido em romper com o governo. “Alguns levantaram que a decisão seria precipitada ou até pouco inteligente.

Pois bem,nãoachoqueaposição foi precipitada. Aliás, minha posição foi antecipada em 2014.

Acho que a posição (do PMDB) veio na hora certa”, disse.

Jucá também rechaçou o comentário do presidente do Senado, que disse ter visto com “bons olhos” a realização de novas eleições, inclusive para a Presidência da República.

Para o senador, o impeachment é o único instrumento previsto na Constituição para superar a crise.

O novo presidente do PMDB foi líder dos governos FHC, Lula e Dilma, no início do primeiro mandato. Ele é alvo de inquérito no Supremo que investiga suposto esquema de propina em contrato da Usina Angra 3.

A orientação recebida pelo novo presidente do PMDB é para que não deixe sem respostas as críticas feitas por adversários de Temer e atue para reunificar o partido. Também aliado de Renan, Jucá pretende nos próximos dias reunir-se com ele e com outros peemedebistas contrários ao afastamento de Dilma para afinar o discurso às vésperas da votação do impeachment na Câmara.“ Vamos tirar o Renan da fase analógica para vir para a digital”, brincou, em conversa com interlocutores.

Ele também atuará para fazer valer a decisão do PMDB da semana passada que determinou o desembarque imediato da legenda da base do governo.

 

’Golpe’

“Qualquer outra saída mirabolante, desculpem-me, aí sim é golpe, aí sim é golpe. Eleições gerais para todo mundo está na Constituição? Não.” Romero Jucá PRESIDENTE DO PMDB