Correio braziliense, n. 19325, 23/04/2016. Economia, p. 9

Em um ano, país perde 1,8 milhão de empregos

Celia Perrone

A recessão continua devastando o mercado de trabalho e engrossando a fila do desemprego. Em março, foram eliminadas 118, 7 mil vagas com carteira assinada nos diversos setores da economia. Esse é o pior resultado da série histórica, iniciada em 1992, do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), elaborado pelo Ministério do Trabalho. É a primeira vez, em 17 anos, que se registram resultados negativos no mês, marcado normalmente por número de contratações formais superior ao de demissões. Em março de 2015, o saldo havia sido positivo em 19,9 mil empregos. O que estamos vendo no mercado de trabalho é produto da recessão. Muitas empresas já estão em situação falimentar e não têm como segurar o emprego, analisa Carlos Alberto Ramos, professor de economia da Universidade de Brasília (UnB). Para Rodolfo Peres Torelly, ex-diretor do Departamento de Emprego do Ministério do Trabalho e Previdência Social (MTPS), o resultado já era esperado, mas o que assusta é a velocidade da deterioração. Está tudo degringolando tão rapidamente que não sabemos onde vamos parar, disse.

Nos três primeiros meses do ano, foram extintos 319,1 mil empregos, um desastre quase quatro vezes maior que o registrado nas estatísticas do mesmo período do ano passado, com 64,9 mil vagas formais fechadas. Nos últimos 12 meses, já desapareceu 1,8 milhão de postos de trabalho 2014 uma queda de 4,49% no contingente de empregados formais do país. São quase 2 milhões de empregos destruídos, e estamos vendo apenas os dados até março, salientou Torelly. O economista José Francisco Gonçalves, do Banco Fator, destacou que o resultado do mês passado foi pior do que o previsto. As nossas projeções apontavam queda de 86 mil, e o mercado, de 95 mil. A contração é bastante evidente e deve continuar se aprofundando, prevê. Entre os oito setores econômicos analisados, apenas a administração pública apresentou saldo positivo em março, com 4,3 mil contratações, basicamente de professores celetistas. Na indústria, um dos segmentos mais afetados pela recessão, houve perda de 25 mil postos. A construção civil registrou corte de 24 mil vagas. No comércio, 41,9 mil empregos desapareceram.

Até a agropecuária, que vem registrando melhor desempenho, fechou 12,1 mil posições. Analisando os dados de demissões e admissões acumuladas nos últimos 12 meses, observamos que a queda nas contratações é muito mais acentuada. A implicação disso é que o mercado de trabalho continua numa perspectiva muito ruim. Por enquanto, a piora se manifesta mais profundamente nas admissões. Quando a deterioração começar a ser sentida de forma mais forte no lado das demissões, a situação pode ficar sensivelmente mais grave, avalia Gonçalves.

 

Salários caem

 

A evolução negativa do mercado de trabalho se reflete também nos salários. Para reduzir custos, as empresas demitem empregados com salários considerados altos para contratar outros com remuneração inferior. No primeiro trimestre, os salários médios reais no momento da admissão dos trabalhadores apresentaram queda real (já descontada a inflação) de 2,5% em relação ao mesmo trimestre de 2015. A remuneração, no período, passou de R$ 1.374,84 para R$ 1.340,45.

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R$ 6 bilhões em multas

Com a arrecadação em baixa por conta da crise econômica, a Receita Federal espera que as multas a pessoas físicas por fraudes e sonegação de Imposto de Renda reforcem o caixa do governo em R$ 6 bilhões neste ano, acima dos R$ 4,8 bilhões obtidos em 2015. A uma semana do prazo final para a entrega da declaração de 2016, o Fisco mandou um recado: os sistemas da Receita estão cada vez mais especializados e conseguem cruzar informações com facilidade, o que reduz a margem para sonegações. Desvios nas informações de dados como pagamentos de pensões alimentícias, despesas médicas, previdência complementar e contribuições patronais estão na mira do órgão. Em 2016, a Receita pretende abrir fiscalizações contra 285,3 mil pessoas físicas, relativas a indícios de irregularidades nas declarações de 2013, 2014 e 2015. Já foram descobertas fraudes de 44.411 contribuintes, que somam R$ 315 milhões em impostos a serem pagos. Falsa patroa As fraudes foram encontradas em operações como a Falsa Patroa, que flagrou pessoas que informaram indevidamente pagamentos a empregadas domésticas para reduzir o tributo.

 

Foram 9.319 contribuintes, que terão de pagar R$ 12 milhões em impostos. Houve caso em que uma mesma empregada aparece trabalhando para 502 supostos patrões, afirmou o subsecretário de Fiscalização da Receita Federal, Iágaro Martins. As multas por sonegação de IR a pessoas físicas envolvidas em esquemas descobertos pela Lava-Jato já alcançam R$ 39,2 milhões até agora. Segundo Martins, as autuações dos investigados na operação devem passar de R$ 100 milhões neste ano. A partir da Lava-Jato, a Receita iniciou processos de fiscalização contra 24 pessoas físicas, incluindo diretores de empreiteiras, da Petrobras e políticos. O subsecretário criticou quem tenta pagar menos IR de forma irregular. Muitas pessoas vão a manifestações contra a corrupção, mas, quando têm oportunidade de sonegar, fazem a mesma coisa. Sonegação e corrupção são dois lados da mesma moeda, ressaltou. R$ 2,1 bi disponíveis Mais de 2,4 milhões de trabalhadores ainda não sacaram o PIS/Pasep do calendário 2015. São R$ 2,1 bilhões que estão disponíveis nas agências da Caixa e do Banco do Brasil até 30 de junho. De acordo com o Ministério do Trabalho e Previdência Social, dos 23,5 milhões de trabalhadores com direito a receber o abono, 21 milhões já sacaram o benefício.