Valor econômico, v. 16, n. 3987, 19/04/2016. Brasil, p. A6

Marina é a que mais cresce com impeachment, diz Ipsos

Cristian Klein

Candidata a presidente nas últimas duas eleições, a ex-senadora Marina Silva (Rede) é a principal beneficiária da crise política e econômica entre as figuras nacionais, ao lado do vice-presidente Michel Temer (PMDB). O resultado consta de levantamento da empresa de pesquisas Ipsos obtido pelo Valor.

Entre fevereiro e abril, período marcado pelas discussões da comissão de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff, os entrevistados que aprovam "totalmente ou um pouco" a maneira como Marina vem atuando no país subiram de 27% para 48%. Os que a desaprovam totalmente ou um pouco caíram de 52% para 44%. O levantamento foi feito com 1,2 mil pessoas, em 72 municípios, entre os dias 1º e 8 deste mês, tendo uma margem de erro de três pontos percentuais.

O único que também melhorou a imagem fora das margens de erro das pesquisas foi Michel Temer, que saiu da sombra da Vice-Presidência e articulou sua ascensão na esteira do processo de impeachment de Dilma, aceito no domingo pelo plenário da Câmara dos Deputados.

Temer, no entanto, ganhou popularidade em cima da fatia dos que não o conheciam, que eram 33% e passaram a ser 14%. A aprovação subiu de 6% para 24%. Mas a reprovação continua estável e alta: oscilou de 61% para 62%. O percentual está em linha com dados de pesquisa do Datafolha, realizada em 7 e 8 de abril, que mostraram que 58% defendem o impeachment de Temer.

Para o presidente da Ipsos no Brasil, Alexandre de Saint-Léon, os resultados mostram que o pemedebista também pode ter problemas de popularidade e, logo, de governabilidade, como Dilma. Em sua opinião, se Temer não conseguir aumentar a aprovação para a casa dos 40%, que é considerado o mínimo desejável, vai ser muito difícil ter efetividade para governar. "Aaprovação da opinião pública é a moeda de troca que o presidente dispõe para convencer o Congresso a passar leis e reformas", diz.

Saint-Léon afirma que não sabe se a população "vai virar a página do impeachment tão facilmente", já que o PT e o governo devem continuar argumentando que foram vítimas de um golpismo. "Essa questão ainda pode dividir a opinião pública. Não será tão fácil Temer se desvincular da imagem de golpista, de conspirador", avalia, lembrando que, em outra seção da pesquisa, se verificou a eficácia do discurso. No Nordeste, os que se dizem contrários ao impeachment subiram de 25% para 33% e os favoráveis caíram de 55% para 43%.

Quanto à melhora substancial da imagem de Marina, o presidente da Ipsos a associa ao posicionamento da ex-senadora, que defendeu o impeachment e também a realização de eleições gerais. "A opinião pública vê Marina como mais genuína e desinteressada", afirma.

Candidato derrotado no segundo turno em 2014, o senador tucano Aécio Neves teve sua aprovação elevada de 25% para 31%, no limite das margens de erro das pesquisas, mas a desaprovação subiu além - oito pontos, de 51% para 59%. "O comportamento dele está sendo interpretado como mais oportunista do que o de Marina", diz Saint-Léon.

O patamar de reprovação do presidente nacional do PSDB é semelhante aos dos adversários internos de partido, o governador de São Paulo Geraldo Alckmin (56% contra 27% de aprovação) e o senador José Serra (56% contra 31% de aprovação).

 

Em relação ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, do PT, a Ipsos mostra reprovação mais alta que a dos tucanos, porém estável entre fevereiro e abril: 64% para 68% e de 27% para 29% de aprovação.