Valor econômico, v. 16, n. 3985, 15/04/2016. Política, p. A12

Na 'casa do impeachment', Skaf evita polêmicas

Por: Malu Delgado

Por Malu Delgado | Para o Valor, de São Paulo

 

A Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) foi a "casa do impeachment" da presidente DilmaRousseff. A fachada do prédio da federação, na avenida Paulista, exibiu, num dia, uma enorme faixa com pedidode 'Renúncia'; poucas horas depois, pregava o 'Impeachment Já'. Patos infláveis amarelos, balões e até filémignon foram distribuídos aos que querem ver Dilma Rousseff fora do Palácio do Planalto.

A entidade comandada por Paulo Skaf patrocinou, em todo o país, uma incisiva campanha de marketing pedindo o afastamento imediato da petista. O presidente da Fiesp entrou para o PMDB pelas mãos do vice-presidente daRepública Michel Temer, que poderá assumir a cadeira de titular caso a atual mandatária seja impedida de governar por decisão do Congresso.

Skaf nega que tenha levado a entidade à trincheira do impeachment por razões partidárias e eleitorais. Descarta integrar um ministério chefiado por Temer, no caso a pasta do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior(MDIC). "Tenho um compromisso com a Fiesp até 31 de dezembro de 2017. Tomei a decisão de ficar à frente da indústria nesta travessia difícil. No que o novo governo precisar, vou ajudar, é claro, mas a partir da Fiesp", disse ao Valor, em entrevista por e-mail. O presidente da Fiesp alegou problemas de agenda e respondeu às perguntas por escrito.

A Fiesp, segundo ele, se posicionou politicamente, mas "não houve partidarização". "A decisão a favor do impeachment leva em consideração o interesse maior do Brasil." Os empresários, sustenta, "têm sido unânimes em apontar a incapacidade do governo em reagir". "Estão cansados deste governo." Skaf é o candidato do PMDB ao governo de São Paulo em 2018, mas este é um tema sobre o qual ele não quer comentar. "Precisamos pensar primeiro em fazer o Brasil voltar a andar. Diante disso, 2018 está muito, mas muito distante", respondeu, quando indagado se disputará algum cargo majoritário na eleição de 2018. "Sem dúvida ele é a nossa aposta. Isso ficou bem claro no dia seguinte após a eleição passada [2014]", confirmou o deputado estadual Paulo Caruso (PMDB), um dos articuladores da campanha de Skaf em 2014, quando ele encerrou a disputa em segundo lugar, com 21,53% dos votos válidos - mais de 4,5 milhões de votos. Em 2010, concorreupelo PSB e teve 4.5% dos votos válidos. Na avaliação do deputado, o nome de Skaf ganha projeção nacional após sua "firme atuação" em favor do impeachment. "O Paulo tomou uma postura política em nome de umaentidade. Não foi uma atitude dele e do PMDB. Mas isso para o PMDB, ele sendo um quadro do PMDB, é muito positivo."

A entidade quer o impeachment, alega Skaf, porque "é a saída mais rápida para resolver a grave crise atravessada pelo Brasil, provocada pela total perda de confiança no governo e pela sua incapacidade de agir diante da situação política e econômica". E acrescenta: "O país está à deriva. O governo não está trabalhando para a Nação. Tenta apenas se segurar no poder e salvar pessoas".

A adesão à campanha "Impeachment Já" ocorreu em 17 de março, mas a Fiesp, segundo Skaf, desde 14 de dezembro de 2015 é favorável ao afastamento de Dilma. Ele assegura que as decisões em relação aoimpeachment foram tomadas por unanimidade. Reservadamente, porém, empresários paulistas admitem não gostar do tom da campanha e a decisão de colocar a Fiesp na liderança do movimento anti-impeachment está longe de ser consenso. Membros da diretoria posicionaram-se frontalmente contra a decisão. O vice-presidente da Fiesp, Benjamin Steinbruch, não participou de decisões da entidade em que posicionamentos favoráveis ao impeachment foram tomados. Procurado pelo Valor, Steinbruch não se manifestou. "É claro que pode haver um ou outro empresário contrário ao posicionamento da Fiesp, mas aqui nesta casa eles não se manifestaram", sustenta Skaf.

"Essa postura da Fiesp é um ponto fora da curva. Você tomar um lado numa disputa como essa é algo inusitado, foge do padrão", afirmou o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, Armando Monteiro. O padrão, diz o senador do PTB licenciado para comandar o ministério, é que as entidades evitem posicionamentos políticos e preservem sua autonomia e capacidade de interlocução, seja com que governo for. Outras entidades patronais, contudo, já se posicionaram a favor da saída de Dilma Rousseff da presidência.

O ministro disse ter ouvido de inúmeros empresários, inclusive de diretores da Fiesp, que há um nítido desconforto com a "campanha de marketing agressiva" da entidade pelo impeachment. "A Fiesp entrou nisso para além do que são os limites normais. Evidentemente isso expõe a própria entidade. Skaf é do PMDB, ligado ao PMDB de São Paulo, e tem projetos políticos, nitidamente."

Skaf refuta qualquer acusação de que esteja usando a Fiesp como trampolim político. "Em nenhum momento pautei a presidência da Fiesp por interesses eleitorais. Enfrentamos governos de vários partidos quando era interesse da sociedade e mantivemos sempre que possível o diálogo com as autoridades, em defesa da indústria. A Fiesp não pode deixar de ser uma instituição política, mas não é partidária." Outro assunto sobre o qual Skaf prefere não comentar é o custo da campanha Impeachment Já. De acordo com a assessoria da entidade, "os valores dispendidos pela Fiesp com a campanha ainda não estão consolidados, uma vez que a mesma ainda está em andamento".