Valor econômico, v. 16, n. 3990, 25/04/2016. Política, p. A8

TEMER ESTÁ ENTRE SERRA E MEIRELLES PARA A FAZENDA

Por: Claudia Safatle

Por Claudia Safatle | De Brasília

 

A escolha do ministro da Fazenda em um eventual governo Michel Temer está se afunilando e os nomes mais cotados são os do ex-presidente do Banco Central Henrique Meirelles e o do senador José Serra (PSDB-SP).

Ontem o vice-presidente encontrou-se com Serra no Palácio do Jaburu. O senador chegou pouco depois das 21h30 e até o fechamento desta edição continuava reunido com Temer que, no sábado, recebeu Meirelles.

Na concepção de Temer, a formação de toda a equipe da economia, inclusive presidentes de bancos oficiais e do Banco Central, deve ser feita de comum acordo com o ministro da Fazenda. Ao contrário dos últimos governos, o PMDB entende que divergências nessa área não são necessárias nem produtivas.

Convites formais ainda não foram feitos a ninguém. Isso só ocorrerá quando Temer tiver a certeza de que assumirá o governo, o que deverá acontecer em meados de maio, quando o Senado decidirá sobre o impeachment da presidente Dilma Rousseff.

A eventual escolha de Meirelles, para aliados de Temer, seria uma forma de neutralizar possíveis críticas do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva à condução da política econômica, já que Meirelles sempre foi muito próximo a Lula.

A indicação de Serra enfrenta dificuldades dentro do próprio PSDB e tem um problema adicional que é o fato de o senador ser candidato natural à Presidência da República em 2018.

Na economia, recuperar a capacidade de o Tesouro Nacional de produzir superávits primários é a prioridade do provável governo Temer. No domingo, o presidente da Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf, entregou a Temer uma proposta de ajuste das contas públicas que, segundo ele, não contempla aumento de impostos.

Skaf chegou por volta das 10h50 ao Palácio do Jaburu e só deixou a residência oficial do vice-presidente por volta das 17h.

Skaf, que tem feito intensa campanha contra a volta da cobrança da CPMF, disse a Temer que manterá esta posição mesmo se o vice, colega de PMDB, se tornar presidente, o que pode ocorrer em breve, caso o Senado aprove a admissibilidade do processo de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff. Temer, no entanto, não assumiu compromisso com Skaf de retirar a CPMF de pauta.

"Ele concorda (...) Ele não é a favor de aumento de impostos. Mas eu não vim pegar compromissos do vice-presidente". Segundo Skaf, Temer ouve as sugestões, faz algumas anotações, mas "se reserva" de maiores comentários. "Ele ouviu atentamente. Está muito sereno, ele é muito educado. Fez várias anotações do que achou que deveria anotar".

Para Skaf, a necessidade é que o governo encontre maneiras de reduzir o gasto e retomar a confiança dos agentes de mercado. "Há falta total de confiança no atual governo, o que faz com que o investimento pare e oconsumo também. Com confiança e credibilidade, a roda da economia volta a girar e também haverá volta da arrecadação. Para isso, não pode aumentar impostos e esfriar ainda mais a economia. É necessário caminhos para reduzir despesas. O governo fazendo o ajuste necessário, com melhor gestão, acabando com desperdícios, tudo isso leva à confiança. A somatória levaria a retomada do crescimento, com aumento da arrecadação", opinou.

Cotado para assumir um posto no novo governo - como o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (Mdic) - Skaf disse não ter recebido nenhuma oferta: "Não conversamos sobre isso."

Valor apurou uma outra negociação em curso. Um dos primeiros partidos a desembarcar do governo Dilma Rousseff e que garantiu 100% de votos da bancada de deputados pelo impeachment, o PRB pode assumir o Ministério da Agricultura em um eventual governo Temer.

De acordo com lideranças do partido, o PRB também se sentiria contemplado assumindo duas pastas menores. Nesse caso, seriam a Secretaria de Portos e a Secretaria de Aviação Civil, caso elas sobrevivam ao corte de pastas que poderia levar à criação de um superministério da Infraestrutura. O PRB reconhece que a disputa pela Agricultura não será simples.

"As negociações já foram tratadas, esperamos o cumprimento", diz a fonte da cúpula do PRB.

O presidente do partido Marcos Pereira é o nome preferido para assumir o Ministério da Agricultura. Caso Temer opte por manter a infraestrutura em pastas separadas, o PRB indicará os deputados Marcio Marinho (BA) e Marcelo Squassoni (SP).

No governo Dilma, o PRB ocupou em um primeiro momento o Ministério da Pesca e, posteriormente, o Ministério do Esporte.

Já para a Casa Civil deve vingar mesmo um nome próximo ao vice: o do ex-ministro da Aviação Civil Eliseu Padilha, um dos principais auxiliares de Temer. Amigo Temer há mais de 20 anos, Padilha tem perfil para a pasta porque, segundo pemedebistas, tem o perfil exigido para a pasta, de "pé de boi", ou seja, de capacidade de trabalho intensa, além de dedicação e lealdade.

Ainda do grupo mais ligado a Temer, o presidente do PMDB, senador Romero Jucá (RR), economista de formação, é cotado para o Ministério do Planejamento. O PP, que deixou a base dilmista, terá dois ministérios:manterá a Integração Nacional e deve ganhar a Saúde. O PSB, que não integrava a base de Dilma Rousseff, também deve comandar duas pastas. (Colaboraram Vandson Lima, Bruno Peres, Andrea Jubé e Raphael Di Cunto)