Valor econômico, v. 17, n. 4011, 24/05/2016. Política, p. A5

Jucá se afasta e novo governo tem primeiro revés

Presidente interino foi aconselhado a deixar que Meirelles escolha o sucessor definitivo
 
Por: Fábio Pupo, Tainara Machado e Lucas Marchesini

(Colaboraram Vandson Lima, Thiago Resende e Andrea Jubé)

 

O presidente interino Michel Temer sofreu seu primeiro grande revés após 11 dias no Palácio do Planalto ao perder um de seus auxiliares mais importantes. Romero Jucá, principal articulador de medidas de interesse do Executivo no Congresso Nacional, anunciou que vai ficar afastado do cargo a partir de hoje. Apesar de Jucá ter usado inicialmente o termo “licença”, ele admitiu minutos depois que “tecnicamente” sua saída do governo se dará por meio de uma exoneração. Jucá disse que sua saída definitiva ainda dependerá de uma decisão de Temer.

Na visão do Planalto, no entanto, ele não volta mais. No lugar dele no comando do Planejamento fica o secretário-executivo da pasta, Dyogo Oliveira, interi- namente. Temer já foi aconselhado a deixar que o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, escolha o sucessor definitivo.

O Planalto decidiu pelo afastamento de Jucá após duas reuniões entre Temer e Jucá ao longo do dia. A primeira foi convocada logo pela manhã, após a publicação de uma reportagem do jornal “Folha de S.Paulo” que revelou diálogos de Jucá com o expresidente da Transpetro Sérgio Machado comentando a Operação Lava-Jato. As declarações sugerem que ele buscava um “pacto” para conter o avanço das investigações – o que ele negou em entrevista convocada para explicar cada trecho da gravação.

Ele mencionou que estava conversando sobre economia quando menciona no diálogo uma “sangria” a ser contida, e não sobre investigações. “Eu disse que há uma sangria no país hoje, que nós temos que parar e delimitar as responsabilidades”, disse.

Jucá disse que não teve reuniões com ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) para falar da Operação, conforme sugere o diálogo. Mas admitiu que conversou com magistrados para sugerir um “fast track” para acelerar os julgamentos de políticos investigados. “Menciono que é importante julgar rapidamente parlamentares. Cheguei a discutir lei que dá prioridade a processo contra políticos”, disse.

Jucá disse que o “pacto” que propôs para o Supremo era sobre “construir um arcabouço legal” em áreas importantes para o governo, como em marcos regulatórios de parceria púbico privada e em contratos de leniência. “Os três poderes são fundamentais”, disse.

Segundo ele, quando usada a expressão “boi de piranha” no diálogo vazado, ele queria dizer “pegar quem tem culpa no cartório e resolver”. “O boi de pira- nha é alguém que vai pagar o preço. Você não pode pegar toda a classe política e comprometer por conta de quem tem culpa”, afirmou.

Ele resumiu sua defesa dizendo que os diálogos divulgados pelo jornal estão “soltos”. “Lamento que a Folha, tendo o diálogo inteiro da gravação, não tenha publicado o diálogo inteiro. Se o tivesse feito, houvesse menos dúvida de interpretação”, disse. Ele ainda reafirmou que apoia a Operação Lava-Jato.

O governo concluiu que a en- trevista não foi suficiente. Ao fim da tarde, Jucá anunciou que ficará longe da Esplanada até que o Ministério Público diga se há alguma irregularidade no diálogo vazado. Ele afirmou que pediu a seu advogado, Antonio Carlos de Almeida Castro (o Kakay), que enviasse uma petição ao Ministério Público para que o órgão explique se há algum tipo de irregularidade cometida por Jucá nas falas divulgadas.

Jucá disse que não quer deixar “uma manipulação mal intencionada” prejudicar o governo.

À tarde, Jucá foi ao Congresso com Temer para levar a proposta de nova meta fiscal do governo, e foi vaiado e chamado de golpista por parlamentares petistas.

“Não temos medo de cara feia e gritaria principalmente de gente atrasada que quebrou o país”. Disse que voltará ao cargo de senado para continuar no “embate” e, apontando o dedo para uma parlamentar do PT, disse: “Vou botar vocês todos na cadeia”. O mandato de Jucá no Senado vai até 2018.

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