Correio braziliense, n. 19357, 25/05/2016. Economia, p. 7

Fim de fundo soberano derruba ações do BB

Simone Kafruni

O anúncio da extinção do Fundo Soberano do Brasil (FSB), criado no governo de Luiz Inácio Lula da Silva como destino para os recursos do pré-sal, derrubou as ações do Banco do Brasil (BB), no qual está investida grande parte do patrimônio.
Depois que o presidente interino, Michel Temer, afirmou que os R$ 2 bilhões do fundo voltariam ao Tesouro para cobrir o endividamento público, os papéis do BB caíram à mínima do dia e registraram a maior queda da Bolsa de Valores de São Paulo (BM&FBovespa), com desvalorização de 5,37%. Para evitar um derretimento ainda maior dos ativos, o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, interveio em seguida, garantindo que a venda das ações do fundo será observada “com cuidado para evitar movimento artificial no mercado”.
O objetivo da medida é levantar o maior volume possível de recursos para a União. “O Fundo Soberano foi criado na época do pré-sal e visava constituir um fundo muito significativo. Em fato das mais variadas circunstâncias, hoje o patrimônio está paralisado em R$ 2 bilhões. Vamos extinguir e trazer esses R$ 2 bilhões para cobrir o endividamento público”, afirmou o presidente Temer.
Minutos depois, Meirelles tentou acalmar o mercado. “Não há dúvida de que qualquer processo de venda de ativos tem que levar em conta a questão dos preços e da demanda. A venda das ações do BB no Fundo vai ser cuidadosamente avaliada para não criar movimentos bruscos. Não há dúvida de que vai fazer parte de uma estratégia cuidadosa e que será detalhada no devido tempo. Vamos fazer a apuração do maior volume de recursos públicos possíveis sem deprimir preços”, destacou .
Em nota, a Fazenda explicou que o FSB constitui receita primária, antes da conta de juros; portanto, impacta direta e positivamente o resultado primário. “Nos próximos anos, o resgate das cotas será feito à medida que as condições de mercado o permitirem, sempre com o objetivo de maximizar a receita oriunda da venda dos ativos.”
Conforme dados da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), o fundo detinha 105 milhões de ações do BB em carteira em fevereiro, somando R$ 2,3 bilhões. Considerando o preço de fechamento da véspera dos papéis, o valor é de aproximadamente R$ 1,8 bilhão. Para o Credit Suisse, isso representa oito dias de negociação.
Neil Shearing, economista-chefe para mercados emergentes da companhia de pesquisas macroeconômicas Capital Markets, ressaltou que o fim do fundo não é tão significativo. “Foi um resultado acidental e é pequeno”, destacou.
Na avaliação de André Perfeito, economista-chefe da Gradual Investimentos, acabar com o fundo soberano é uma decisão lógica. “Não tinha mais função”, resumiu.
A opinião é compartilhada por Carlos Thadeu de Freitas Gomes, economista-chefe da Confederação Nacional do Comércio (CNC) e ex-diretor do Banco Central. “O fundo não tem um efeito maior na recuperação da confiança, não gera credibilidade. Mas também não faz sentido mantê-lo. Foi criado há anos na expectativa de que gerasse receita do pré-sal, o que é uma ideia incompatível hoje com o deficit primário”, ressaltou.