Valor econômico, v. 17, n. 4.012, 26/05/2016. Política, p. A6

Na posse de ministro, pemedebista minimiza recuo

Por: Bruno Peres / Andrea Jubé

 

O presidente interino Michel Temer minimizou ontem o recuo na decisão de extinguir o Ministério da Cultura, após pressão de artistas e aliados políticos. Na solenidade de posse do novo ministro Marcelo Calero - em ato que contou com a presença do ex-presidente José Sarney, criador da pasta -, Temer afirmou que "a cultura não é de ninguém, a cultura não é de partido político, a cultura é nacional".

Num gesto político para homenagear o setor, Temer observou que o novo ministro da Cultura foi o único integrante do primeiro escalão de seu governo a ser prestigiado com uma solenidade de posse individual.

"Interessante como certos fatos, que podem parecer equivocados no primeiro momento, geram fatos muito positivos, porque isto está sendo registrado como uma posse particular, uma posse individualizada, uma posse especial", afirmou. "Estou homenageando a cultura brasileira", completou.

No sábado, Temer comunicou ao ministro da Educação, Mendonça Filho, sua decisão de recriar o Ministério da Cultura e desvinculá-la do MEC. Nas horas anteriores, ele havia se reunido com representantes da Academia Paulista de Letras, que reforçaram o apelo para que ele revisse a decisão de extinguir a pasta.

Além da pressão da classe artística, foi decisivo para que Temer recuasse da extinção do ministério a percepção de que poderia sofrer uma derrota no Congresso Nacional. O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), avisou que encaminharia uma emenda constitucional para recriar o ministério, que seria rapidamente votada nas duas Casas. Seria uma derrota significativa para Temer nas primeiras semanas de seu governo.

Além do risco dessa iminente derrota política, que acabaria por fragilizá-lo na largada do governo, também pesou a pressão do ex-presidente José Sarney, que é membro da Academia Brasileira de Letras e responsável pela criação do ministério em seu governo. Na primeira semana do governo, Sarney foi com Renan ao palácio pedir a Temer que não extinguisse a pasta.

Em seu breve discurso ontem, Temer fez questão de exaltar a presença na solenidade do ex-presidente e de apontá-lo como o criador do Ministério da Cultura, pedindo aplausos aos presentes.

Em seu discurso, Temer destacou a trajetória do novo ministro na área cultural e afirmou que, diplomata de carreira, Calero terá condições de promover o diálogo, algo "essencial" para o país neste momento. Ele reafirmou a promessa feita anteriormente por Calero, ainda como secretário nacional, de quitar os débitos da Cultura, que ultrapassam R$ 200 milhões, em uma negociação já feita com o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles. "Nós queremos exatamente redimir a cultura".

Calero, por sua vez, afirmou em seu pronunciamento que cabe ao Estado brasileiro criar condições que democratizem a produção cultural, assim como saúde e educação. "O partido da cultura é a cultura", afirmou. Em entrevista coletiva, o novo ministro disse que sua gestão vai priorizar o "diálogo de conciliação" e vai se pautar pela "eficiência, transparência e prática republicana". Entre representantes do setor presentes na posse, estavam o cineasta Cacá Diegues, o ator Odilon Wagner e a atriz e cineasta CarlaCamurati.

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