Valor econômico, v. 17, n. 4007, 18/05/2016. Brasil, p. A5

Centrão disputa liderança do governo com o DEM

Por: Raphael Di Cunto/ Thiago Resende / Vandson Lima

 

A divisão entre os dois grupos que compõe a base de sustentação do presidente interino Michel Temer na Câmara dos Deputados se agravou ontem, com o "centrão" lançando um bloco informal de 217 parlamentares para fazer de André Moura (PSC-SE) líder do governo na Casa. O grupo, que disputa espaço com a antiga oposição (PSDB, DEM, PSB e PPS), quer mostrar ao pemedebista que constitui a maior força no Legislativo.

Por conta do impasse, o ministro Geddel Vieira Lima, da Secretaria de Governo da Presidência, informou a líderes ontem que pretende decidir sobre os líderes do governo na Câmara, Senado e no Congresso até sexta-feira. A demora foi criticada nos bastidores por parlamentares, que apontam um vácuo de uma semana na defesa dos interesses do Palácio do Planalto enquanto permanece a indefinição. Há um feriado na próxima semana, quando o Legislativo deve ficar esvaziado.

"O governo, se tiver juízo, vai colocar o André. É uma questão política: é mais fácil para alguém do centro conversar com todos na Casa do que alguém da direita dialogar com a esquerda", disse o líder do PTB, Jovair Arantes (GO), que recebeu os líderes em seu gabinete - gesto parecido com o feito por Eduardo Cunha (PMDB-RJ) ao formar o "blocão" em 2014, grupo que deu sustentação à sua candidatura à presidência da Câmara. "O DEM não terá diálogo com o PT", completou.

O grupo, que ainda pode crescer em mais 67 deputados do PMDB, ressalva que André Moura,um dos principais aliados de Cunha, é "apenas uma sugestão" ao novo governo e que o bloco apoiará Temer, independentemente da escolha. Querem ainda que o líder no Congresso, função tradicionalmente ocupada por um senador, seja desta vez um deputado federal.

Para a antiga oposição, é uma tentativa de constranger o Palácio do Planalto e impedir a escolha de Rodrigo Maia (DEM-RJ), genro do Moreira Franco, um dos principais assessores de Temer, e até então o favorito para o cargo. Maia também é próximo de Cunha, mas não é o candidato apoiado pelo pemedebista.

A briga ainda envolve o comando da Casa. Os grupos divergem sobre o afastamento definitivo de Cunha e sobre deixar a condução com o interino Waldir Maranhão (PP-MA). A ex-oposição é contra a interinidade e tenta de várias formas declarar vago o cargo de Cunha, com novas eleições para a presidência.

Já o centrão buscar uma alternativa para manter a influência de Cunha, controlando os trabalhos por meio do colégio de líderes - onde tem maioria - e por integrantes da Mesa Diretora alinhados ao grupo. Já há, porém, dificuldades nessa estratégia. A ideia era o 1º secretário, Beto Mansur (PRB-SP), comandar o plenário, mas o 2 º vice-presidente, Fernando Giacobo (PR-PR) já avisou que será ele a presidir as sessões.

No Senado, a dificuldade decorre da tentativa do governo de escolher uma senadora para a tarefa, em reação às críticas sobre a ausência de ministras no governo. Até ontem, contudo, as duas cotadas - Ana Amélia (PP-RS) e Simone Tebet (PMDB-MS) - rejeitavam a ideia e seguia a indefinição sobre quem fará a interlocução do Palácio com a Casa.

Ana Amélia, por ser integrante da comissão especial do impeachment da presidente afastada Dilma Rousseff, disse que não poderia ocupar o cargo de interlocução do presidente interino com a Casa. Além disso, ela justificou que não poderia ser líder de um governo que deve propor a volta da CPMF, ideia a qual se opõe.

Simone, segundo aliados, também acha melhor não atuar na linha de frente das negociações diante de difíceis reformas que devem ser encampadas pela equipe econômica. A pemedebista é outra integrante da comissão do impeachment.

No fim do dia, Fernando Bezerra Coelho (PSB-PE) voltou a ser citado como possível candidato. Ele foi ministro da Integração do governo Dilma. E indicou o primogênito, Fernando Coelho Filho, então líder do PSB na Câmara, para comandar o Ministério de Minas e Energia - contrariando orientação da cúpula e governadores do partido.

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