Valor econômico, v. 17, n. 4006, 17/05/2016. Política, p. A7
O DEM tentará, por meio de uma questão de ordem que será lida hoje em plenário, declarar vaga a presidência da Câmara dos Deputados e realizar eleição para o lugar de Eduardo Cunha (PMDB-RJ), afastado por decisão do Supremo Tribunal Federal (STF). A iniciativa tem apoio de PSDB e PPS, mas há divergências sobre o grau de pressão - os tucanos não concordam, por exemplo, com obstruir as votações.
Caso o presidente da sessão no momento rejeite o questionamento do DEM, o partido recorrerá ao plenário e à Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) - cujo presidente, Osmar Serraglio (PMDB-PR), propõe uma alternativa, que seria uma eleição suplementar para eleger um presidente temporário que, caso Cunha reverta a decisão do STF e volte ao mandato, deixaria o cargo.
O grupo que fazia oposição ao PT pressiona o presidente interino, Waldir Maranhão (PP-MA), a acatar a questão de ordem e sinaliza que, assim, ele não seria mais alvo de cassação no Conselho de Ética. "O senhor Maranhão passaria a ser um assunto menor, assessório, com a solução definitiva que é fazer novas eleições para a presidência", defendeu o líder do DEM na Câmara, Pauderney Avelino (AM).
Na avaliação do parlamentar, é preciso resolver o impasse sobre o comando da Câmara enquanto isso ainda não atrapalha a agenda do presidente interino da República, Michel Temer, na Casa. As quatro medidas provisórias que impedem outras votações podem perder a validade, disse, e serem reeditadas pelo novo governo se houver interesse.
Maranhão, contudo, dá indícios de que se acertou com o "centrão" para continuar na presidência, aceitando uma gestão "tutelada" ou "compartilhada". As sessões de plenário serão presididas pelo 2º vice-presidente, Fernando Giacobo (PR-PR), ou pelo 1º secretário, Beto Mansur (PRB-SP), e a pauta decidida pelos partidos.
Essa solução foi defendida por Mansur, um dos principais aliados de Eduardo Cunha. "O Maranhão disse que não vai renunciar e não podemos ficar nessas brigas, a Casa precisa voltar a andar. Eu e outros líderes nos colocamos à disposição para ajudá-lo a presidir, vamos testar esse modelo por 15 dias", disse Mansur.
O interino, que tem evitado despachar de seu gabinete, já telefonou para Temer dizendo que errou ao tentar anular o impeachment e quer ajudar o novo governo. No sábado, ele se encontrou com o ministro Geddel Vieira Lima, da Secretaria de Governo da Presidência, para repetir o discurso.
O governo Temer ainda tenta encontrar uma solução sem conflagrar sua base, que está dividida sobre a manutenção do interino. A agenda de votações na Câmara está parada e todas as medidas provisórias são da gestão petista e, por enquanto, a principal preocupação do Palácio do Planalto é aparar arestas no comando da Casa.
O centrão e o bloco de PSDB, DEM, PPS e PSB também estão rachados sobre a liderança do governo na Câmara. O centrão defende o nome do líder do PSC, André Moura (SE). Já a oposição quer Rodrigo Maia (DEM-RJ). Os dois são próximos de Cunha.