O Estado de São Paulo, n. 44758, 03/05/2016. Política, p. A4

PGR pede apuração sobre Cunha, Aécio e Edinho

Isadora Peron

Gustavo Aguiar

O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, enviou ao Supremo Tribunal Federal pedidos para investigar o senador Aécio Neves (PSDB-MG), o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), o ministro-chefe da Secretaria de Comunicação Social da Presidência, Edinho Silva, o deputado Marco Maia (PT-RS) e o ministro Vital do Rêgo, do Tribunal de Contas da União (TCU).

A medida foi tomada com base na delação do senador Delcídio Amaral (ex-PT-MS), preso em novembro de 2015 acusado de tramar contra a Operação Lava Jato. Em fevereiro deste ano, o ex-líder do governo no Senado foi solto após ter fechado o acordo de delação.

Além dos pedidos de abertura de inquérito, Janot também solicitou autorização para incluir citações feitas por Delcídio a integrantes da cúpula do PMDB – Renan Calheiros (AL), Romero Jucá (RR), Edison Lobão (MA) e Valdir Raupp (RO) – em investigações já instauradas na Corte.

O Supremo, a partir de agora, terá de decidir se autoriza ou não os inquéritos porque os citados detêm foro privilegiado. Não há prazo para a decisão.

 

 

Tucano. Sobre Aécio, Delcídio afirmou, entre outras coisas, ter “segurado a barra”, quando era presidente da CPI dos Correios (2005), para que não viesse à tona a movimentação financeira das empresas de Marcos Valério, condenado no mensalão, no Banco Rural que “atingiriam em cheio” Aécio.

Janot pede que, em 90 dias, sejam ouvidos os depoimentos relacionadas ao caso Furnas, entre ele o de Aécio e do ex-diretor de Engenharia Dimas Toledo. Janot solicita ainda que a Polícia Federal colete, entre o material já aprendido e produzido na Lava Jato, evidências que contribuam para a apuração.

Delcídio disse que esteve na sede do governo mineiro, por volta de 2005, 2006, quando Aécio governava o Estado. O tucano teria oferecido a ele o avião do governo de Minas para Delcídio ir ao Rio posteriormente. O senador disse ter aceitado a oferta.

Delcídio afirmou, também em relação a Aécio, que, “sem dúvida”, o presidente do PSDB recebeu propina em um esquema de corrupção na estatal de energia Furnas que, segundo o delator, era semelhante ao da Petrobrás, envolvendo até as mesmas empreiteiras. Aécio nega as acusações de Delcídio.

O ex-líder do governo tem experiência no setor elétrico, conhece o ex-diretor de Engenharia de Furnas Dimas Toledo, apontado como o responsável pelo esquema de corrupção, e disse ter ouvido do próprio ex-presidente Lula, em uma viagem em 2005, que Aécio o teria procurado pedindo que Toledo continuasse na estatal.

 

 

Aditamento. Janot pediu a abertura de investigações contra Aécio com base não somente na delação Delcídio, mas também a partir de novas informações reveladas pelo doleiro Alberto Youssef, que fez um aditamento da sua delação, e de documentos encontrados durante operação deflagrada em março.

Delcídio também ligou Cunha a Furnas. O senador disse que “Eduardo Cunha tinha comando absoluto da empresa e acredita que ele tenha recebido vantagens ilícitas”. “Em relação a Furnas, Dilma (Rousseff) teve praticamente que fazer uma intervenção na empresa para cessar as práticas ilícitas, pois existiam muitas notícias de negócios suspeitos e ilegalidade na gestão da empresa; que, ao que parece, ‘a coisa passou da conta’”, diz a delação de Delcídio homologada pelo STF.

Ainda de acordo com o depoimento do senador, o esquema de ilegalidades de Furnas persistiu “até uns quatro anos atrás, quando Dilma mudou a diretoria”.

Essa alteração teria sido o motivo de um enfrentamento entre a presidente e Eduardo Cunha, “pois este ficou contrariado com a retirada de seus aliados de dentro da companhia”, afirmou o delator.

 

Petista. Sobre Edinho Silva, Delcídio disse que, durante a campanha eleitoral de 2014, o atual ministro da Comunicação Social “esquentou” doações provenientes da indústria farmacêutica com notas frias e o orientou a fazer o mesmo para saldar R$ 1 milhão de dívida de sua campanha, com duas empresas, que receberiam o dinheiro de laboratório farmacêutico. Edinho foi tesoureiro da campanha de Dilma no último pleito.

Delcídio relatou “ilicitudes envolvendo o desfecho da CPI que apurava os crimes no âmbito da Petrobrás”, em 2014.

O ex-líder do governo afirmou que Vital, então presidente da comissão, e Marco Maia (PT-RS) “cobravam ‘pedágios’ para não convocar empreiteiros e ‘evitar’ investigações contra Léo Pinheiro (da OAS), Julio Camargo (apontado como lobista) e Ricardo Pessoa (da UTC)”. / COLABORARAM FABIO FABRINI, JULIA AFFONSO, FAUSTO MACEDO, RICARDO BRANDT e MATEUS COUTINHO

 

ALVOS

Aécio Neves

Senador (MG) e presidente do PSDB

Teve o nome citado em esquema ligado a Furnas.

 

Eduardo Cunha

Presidente da Câmara (PMDB-RJ)

Também foi ligado a esquema em Furnas.

 

Marco Maia (RS)

Deputado (PT)

Teria cobrado “pedágios” para impedir convocações e investigações de CPI.

 

Edinho Silva

Ministro de Comunicação Social

Teria “esquentado” doações da indústria farmacêutica.

 

Vital do Rêgo

Ministro do Tribunal de Contas da União (TCU)

 

Teria cobrado pedágio para impedir convocações em CPI.

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Citados contestam delação de Delcídio e negam irregularidades

 

Gustavo Aguiar

O senador e presidente do PSDB, Aécio Neves (MG), o ministro da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República, Edinho da Silva, o ministro do Tribunal de Contas da União (TCU) Vital do Rêgo e o deputado Marco Maia (PT-RS) reagiram ontem aos pedidos de abertura de inquéritos no âmbito da Operação Lava Jato feitos pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, ao Supremo Tribunal Federal.

Todos eles contestaram as declarações do senador Delcídio Amaral (ex-PT-MS), ex-líder do governo no Senado, em que se baseiam os requerimentos feitos pelo procurador-geral da República. Delcídio firmou acordo de delação premiada.

Aécio afirmou estar convicto de que o procedimento vai esclarecer sua inocência. O tucano também chamou de mentirosas as menções a ele feitas por Delcídio. “Como o próprio senador Delcídio Amaral declarou recentemente, as citações que fez ao nome do senador Aécio foram todas por ouvir dizer, não existindo nenhuma prova ou indício de qualquer irregularidade que tivesse sido cometida por ele”, diz uma nota divulgada pela assessoria do tucano.

De acordo com a assessoria de Aécio, as acusações são antigas e já foram objeto de investigações anteriores, que, por sua vez, já foram arquivadas.

 

‘Mentiras’. Edinho Silva classificou as declarações de Delcídio de “mentiras escandalosas”. “Sempre agi de maneira ética, correta e dentro da legalidade”, afirmou, por meio de nota em que defendeu a apuração dos fatos. Em nota, Cunha criticou Janot ao afirmar que ele “continua despudoradamente seletivo com relação ao Presidente da Câmara”.

“Se o critério fosse, de fato, a citação na delação do senador Delcídio, ele deveria, em primeiro lugar, ter aberto inquérito para investigar a presidente Dilma, citada pelo senador por práticas de obstrução à Justiça.” Também em nota,  Vital do Rêgo disse que“ reitera o repúdio às ilações associadas a seu nome na referida delação premiada, desprovidas de qualquer verossimilhança” e que “está à disposição das instituições para qualquer esclarecimento”.

Marco Maia disse que as acusações de Delcídio são uma tentativa de desgastar sua imagem e a do PT. “Fui relator de uma CPI mista em 2014, onde pedi o indiciamento daqueles que me acusam.

 

Foram 53 indiciamentos e mais o pedido de investigação de 20 empresas pela prática de crime de cartel. Não recebi nenhuma doação para minha campanha eleitoral em 2014 de empresa que estivesse sendo investigada.” A defesa de Dimas Toledo não foi localizada pela reportagem.