O globo, n. 30236, 19/05/2016. País, p. 5

ENTREVISTA - MOREIRA FRANCO

Por: Júnia Gama/ Danilo Fariello
 

‘Nos preparamos para um governo de dois anos’

 

Braço-direito de Michel Temer, o secretário do Programa de Parcerias de Investimentos aposta que os embates em torno de cargos e as intrigas na base aliada tendem a diminuir agora, depois da posse do presidente interino.

 

JÚNIA GAMA DANILO FARIELLO

opais@oglobo.com.br

 

O que ocorrerá se o Senado não aprovar o impeachment?

A lei já diz como fica: acaba. Se ocorrer isto, vai ser uma frustração generalizada, porque estamos tomando medidas para enfrentar a situação. Há muito tempo não se vê um ministro da Fazenda que chega e diz: “isso, eu resolvo”. Há muito tempo não se vê ministros que sejam ministros. Se o Senado não aprovar, a Constituição já diz o que pode ser feito. Por isso que não é um golpe.

 

Há críticas de que o governo não foi eleito, mas quer mudanças de longo prazo.

Eleito, foi. Tão eleito quanto ela. Os votos foram dados aos dois. E acrescento que, se não tivesse o apoio do PMDB, a chapa não teria sido eleita. Sobre o tempo de governo, nós sabemos quanto tempo vamos ficar. Nos preparamos para um governo de dois anos.

 

Houve ruídos de comunicação entre PSDB e PMDB na formação do Ministério. Como fica a relação agora?

O PSDB participa do governo de forma muito forte, né? Tem o Ministério das Cidades, um dos principais em tamanho e capilaridade. Tem o ministro das Relações Exteriores, responsável por outra área estratégica para a busca do equilíbrio fiscal, que é exportação. E o ministro da Justiça também é do PSDB. Em política, não dá para você depois dizer: “Ah, eu não estava”. A não ser que se forme uma dissidência e eu espero que não haja. Eles estão dentro. Existe alguém mais peessedebista do que o Mansueto (Almeida, secretário de Acompanhamento Econômico do Ministério da Fazenda)?

 

As intrigas ficaram para trás?

Composição de governo, seja municipal, estadual ou federal, é igual. Você vai entrando, está com o gado no pasto e tem que ir para o pátio. Aí, entra no brete. Na entrada do brete, é empurrão, essa confusão toda. Mas, depois acalma quando entrar no curral. Estamos no curral agora e temos que começar a produzir, no nosso caso, emprego.

 

Pode-se esperar mais mudanças como resposta à opinião pública?

Quem acredita na democracia como estilo de vida, pratica isso. No nosso caso, é algo que está muito claro. No Collor, as ruas só tinham uma reivindicação: tirar o Collor. Agora, há três reivindicações: tirar a Dilma, prestigiar a Lava-Jato e melhorar a qualidade do serviço. Tem que decidir ouvindo o que a opinião pública quer.

 

Nomear ministros investigados e citados na Lava-Jato não é dar as costas para a opinião pública?

Acho que não. Isso não significa absolutamente nada. Qualquer um pode ser citado. Investigação já é mais grave que citação, mas ainda não é… O problema começa efetivamente na denúncia.

 

Como vai funcionar sua Secretaria?

Você tem de crescer ao mesmo tempo em que equilibra as contas públicas. Precisamos rapidamente criar as condições para que as parcerias comecem a produzir efeitos. Há 20 anos, esse esforço seria uma busca para se diminuir o custo Brasil. Hoje, precisamos das parcerias.

 

O que acha do limite de para capital estrangeiro em setores estratégicos?

É uma coisa absolutamente despropositada ter na legislação a obrigação de que, no setor aéreo, a empresa só pode ter 20% de capital estrangeiro. Isso gera situações ambíguas. As grandes empresas privadas brasileiras, hoje, por acordo de acionistas, têm uma participação muito maior do que isso.

 

O senhor acha que os estrangeiros podem puxar concessões?

Acho, inclusive financiando. O número de empresas estrangeiras aqui é muito baixo. Temos que criar ambiente de concorrência. A insegurança é resultado do conjunto da obra.

 

Em quanto tempo dá para reverter essa desconfiança?

Eu não sou a mãe Dináh. (risos). Isto é coisa de uma subjetividade absoluta.

 

“Gado se acalma quando entra no curral”