O Estado de São Paulo, n. 44769, 14/05/2016. Política, A6

Fotos de Dilma ficam onde estão

O primeiro tema da reunião de estreia do Ministério com o presidente em exercício, Michel Temer, foi Dilma Rousseff. Ao abrir o encontro, Temer lembrou que o governo é interino e disse não ter gostado de saber que quadros com a foto oficial da presidente afastada tinham sido retirados das paredes de alguns gabinetes e repartições públicas. “Ninguém está autorizado a fazer isso, ela é presidente e este governo é interino. Tem que mudar essa mentalidade”, avisou Temer.

A decisão de deixar as fotos de Dilma onde estão foi comunicada em entrevista dos ministros Eliseu Padilha (Casa Civil), Romero Jucá (Planejamento) e Ricardo Barros (Saúde). Imagens da presidente afastada e outras marcas do antigo governo estão espalhadas em vários pontos do Palácio do Planalto.

“Nada vai ser mudado. Até que o Senado tome a decisão final (sobre o impeachment), o presidente Temer é substituto da presidente Dilma”, disse o secretário-executivo do gabinete pessoal do presidente em exercício, Rodrigo Rocha Loures. Ele próprio, ontem, ainda se inteirava da rotina do Planalto. Levou apenas o computador pessoal para a sala até anteontem, ocupada por Giles Azevedo.

Segundo assessores, até a tarde de ontem, Temer não havia se instalado no gabinete de Dilma. Alguns objetos da presidente ainda estavam na sala, na noite de quinta-feira. O encontro com líderes religiosos, por exemplo, aconteceu na sala de reuniões ao lado do gabinete.

Em vários momentos da reunião ministerial, Temer lembrou que o governo pode ter prazo de validade e que a saída de Dilma não deve ser tratada como fato consumado. Na mesa só de homens, cada ministro fez explanação de sua área e do plano de ações.

Ao contrário dos demais ministros, José Serra (Relações Exteriores) fez vários comentários durante as falas de colegas. A certa altura, ministros comentavam que deveriam trabalhar “vinte horas por dia” e o expediente teria de começar às 7h da manhã. Serra disse que, no seu caso, a jornada iria do meio-dia até a madrugada.

Sobre o fato de o governo Temer não ter ministras, Padilha empurrou a responsabilidade: “A composição de ministério foi feita a partir de sugestão de partidos”.

 

Questionado sobre a presença de petistas no Planejamento, Romero Jucá disse não ver problema. “Não tenho disso não, boto para trabalhar para mim”, respondeu. / LUCIANA NUNES LEAL, TÂNIA MONTEIRO, LU AIKO OTA e CARLA ARAÚJO