Correio braziliense, n. 19358, 26/05/2016. Política, p. 2

Votação em agosto

Calendário apresentado pelo relator da comissão especial prevê apreciação do impeachment de Dilma antes da abertura das Olimpíadas do Rio

Por: Paulo de Tarso Lyra, Julia Chaib e Naira Trindade

 

O Planalto comemorou a proposta do relator da comissão especial do impeachment no Senado, Antonio Anastasia (PSDB-MG), de marcar a votação do afastamento definitivo de Dilma Rousseff para o início de agosto. Michel Temer quer participar da cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos Rio 2016 como presidente de fato, não mais em exercício. Para isto, o plenário do Senado terá de referendar, por dois terços dos votos (54 votantes), a saída da petista.

De acordo com o calendário apresentado ontem pelo senador tucano, o impeachment estaria pronto para ser votado em plenário em 2 de agosto. A abertura da Rio 2016 será no dia 5, no Maracanã. “Para a imagem internacional do país, ficaria muito melhor termos um presidente efetivo após a atual crise política que estamos vivendo. Mas temos a consciência de que o timing poderá ser diferente do que esperamos”, previu um interlocutor direto do presidente Temer.

Outro cuidado que o Planalto quer ter para não melindrar os ânimos no Senado é aguardar um pouco mais para escolher o líder na Casa. Estão no páreo as senadoras Ana Amélia (PP-RS), Lúcia Vânia (PSB-GO) e Simone Tebet (PMDB-MS). A orientação, neste momento, é que não seja definido o nome, já que Romero Jucá (PMDB-RR) retornou à Casa há pouco tempo, após o afastamento do governo Temer.

Ontem, Jucá se reuniu por quase meia hora com o ministro do Secretário de Governo, Geddel Vieira Lima, no Palácio do Planalto. “Na próxima semana, o presidente Temer deverá escolher o nome do novo líder. Estou aqui só para ajudar no que for preciso”, minimizou o peemedebista.

Anastasia apresentou ontem a proposta de calendário na comissão especial. A votação das datas ocorrerá no próximo dia 2. No dia anterior, haverá a apresentação da defesa da presidente afastada Dilma Rousseff.  Uma das teses é de que houve vícios no processo, inclusive com desvio de finalidade do senador Romero Jucá (PMDB-RR). Senadores petistas querem também recorrer à Justiça para tentar suspender a tramitação do impeachment com a tese do desvio de Jucá, como um dos principais articuladores do impedimento no Senado, o que já fizeram em relação ao presidente afastado da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ). O advogado de Dilma, José Eduardo Cardozo (ex-Advogado-Geral da União), argumentará que o áudio em que Jucá conversa com o ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado sugere um pacto para parar a investigação, o que comprovaria a tese de golpe.

O senador Lindbergh Farias (PT-RJ) argumentou que é preciso mais tempo para que se façam as diligências e apresentou questão de ordem para suspender o processo. “A gente vai continuar insistindo na Justiça e aqui a necessidade de suspender a comissão para que o episódio do Romero Jucá seja investigado. Nós estamos falando aqui do presidente interino do PMDB, o principal articulador do impeachment no Senado. O principal articulador na Câmara foi Eduardo Cunha, e no Senado foi Jucá”, afirmou.

 

Estratégias

Embora tenha conseguido a maioria de dois terços na aprovação do relatório do impeachment no plenário, o governo não tem tanta segurança em relação a todos os votos. É necessário virar dois votos para que os parlamentares favoráveis à presidente afastada Dilma Rousseff barrem o impeachment. E há pelo menos cinco nomes que podem ser alterados, na avaliação de senadores.

A estratégia será a de conseguir apoio das ruas. Os senadores Cristovam Buarque (PPS-DF), Antonio Reguffe (sem partido-DF) e Hélio José (PMDB-DF) estão na mira dos ex-governistas. Há uma expectativa de conseguir reverter votos de senadores do Nordeste e virar, por exemplo, Roberto Rocha (PSB-MA) e Antonio Carlos Valadares (PSB-SE).

Ao longo desse período, o objetivo é também angariar apoio da população com viagens e campanha intensa ao longo das eleições municipais, em outubro. Na próxima segunda-feira, a presidente afastada Dilma Rousseff vai à Universidade de Brasília (UnB), e na quinta-feira, ao Rio de Janeiro, se encontrar com artistas. A intenção é fazer um grande ato. “Com as eleições municipais, mais do que ganhar a prefeitura, vai ocorrer a denúncia disso que está acontecendo. Tenta mobilizar o povo a partir disso”, disse um senador.

 

Frase

“Na próxima semana, o presidente Temer deverá escolher o nome do novo líder. Estou aqui só para ajudar no que for preciso”

Romero Jucá (PMDB-RR), senador

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