O Estado de São Paulo, n. 44780, 25/05/2016. Política, A4

Temer afirma que sabe tratar com 'bandidos'

Tânia Monteiro

Carla Araújo

Erich Decat

O presidente em exercício Michel Temer rebateu ontem as críticas ao início de sua gestão e procurou demonstrar firmeza no comando. Um dia após o senador Romero Jucá (PMDB-RR) ter deixado o Ministério do Planejamento sob suspeita de tramar contra a Operação Lava Jato, Temer disse que não é “frágil” nem “coitadinho” e que tinha em experiência em tratar com “bandidos”.

“Já ouvi dizer que Temer está muito frágil, coitadinho, que não sabe governar. Conversa”, afirmou Temer. Nesse instante, ele bateu com força na mesa com a mão espalmada. “Eu fui secretário de Segurança em São Paulo por duas vezes e tratava com bandidos. Eu sei o que fazer no governo e saberei conduzir”, disse, em reunião no Palácio do Planalto com líderes de partidos aliados para explicar as medidas econômicas anunciadas ontem.

Sobre as idas e vindas de sua gestão, como recriação do Ministério da Cultura, Temer disse: “As pessoas têm mania de achar que quem está no governo não pode voltar atrás. Nós somos como JK (Juscelino Kubitschek). Nós não temos compromisso com o equívoco. Se houver um equívoco, nós reveremos”.

 

Lava Jato. Temer declarou ontem, 24, que “não está em busca de eliminar qualquer investigação apuratória” em curso e disse que seu governo não vai trabalhar para barrar o avanço da Lava Jato. Feitas um dia depois da saída de seu fiel aliado Romero Jucá do Planejamento, as declarações foram entendidas na Esplanada dos Ministérios como um recado a outros ministros que são alvo da operação.

Temer, sob pressão da oposição, enfatizou em sua fala, sem citar diretamente a Lava Jato, que o seu governo não vai impedir as investigações. Segundo o presidente em exercício, “por mais que digam que há um esquema” para impedir as investigações, o governo vai sempre incentivá-las. “Não queremos isso, não (barrar as investigações). Ninguém quer”, afirmou.

Jucá foi afastado do Planejamento após o vazamento da gravação de uma conversa dele com o ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado, na qual ele diz ser preciso “estancar a sangria” provocada pela operação.

 

Turismo. Com receio da ampliação dos desgastes do governo com os desdobramentos da Lava Jato, o presidente em exercício e o ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, fizeram chegar ao ministro Henrique Eduardo Alves (Turismo) a possibilidade de ele deixar o cargo.

Alves foi citado por delatores do esquema de desvios e de corrupção na Petrobrás e em mensagens de celular de Léo Pinheiro, da OAS. A exemplo de Jucá, ele também é um aliado direto de Temer. O receio de integrantes do núcleo duro do Palácio do Planalto é ter que passar por novos “bombardeios” e “constrangimentos” como o ocorrido no episódio da demissão de Jucá.

Segundo o Estado apurou, a conversa entre Temer, Padilha e Alves ocorreu anteontem,  no mesmo dia em que Jucá foi afastado do cargo, após o surgimento de gravações realizadas pelo ex-presidente da Transpetro, Sérgio Machado.

No áudio, revelado pelo jornal Folha de S.Paulo, Jucá diz ao ex-dirigente que é preciso “mudar o governo (Dilma Rousseff) para poder estancar essa sangria”. Ao ser abordado por Temer e Padilha, Henrique Alves minimizou as citações feitas contra ele nas investigações e ressaltou que não era réu e por isso gostaria de ficar no cargo. O ministro, que ocupou a mesma cadeira no governo Dilma, teve a casa vasculhada pela Polícia Federal em dezembro do ano passado em uma das fases da Lava Jato, batizada de Catilinárias. Caso ele deixe a equipe ministerial, deverá perder o foro privilegiado, uma vez que não detêm mandato eletivo.

 

 

‘Contexto’. Como Temer acabou cancelando sua participação na coletiva, coube ao ministro da Secretaria de Governo, Geddel Vieira Lima, explicar o que o presidente em exercício quis dizer quando citou que já tinha sido secretário de segurança, e “tratava com bandidos”: “A fala do presidente não cabe ilação, ele falou dentro de um contexto. É um homem que já foi secretário de segurança pública. Enfrentou problema com bandidos, o que é próprio da área de segurança pública. Ele tem estofo para aguentar qualquer tipo de pressão”, afirmou Geddel.

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Peemedebista se diz vítima de agressões e vê ‘pressão’

Michel Temer respondeu ontem às acusações de Dilma Rousseff de que sua chegada ao Planalto é fruto de um “golpe”.

“Eu sou consequência da Constituição (...) Portanto, quero refutar aqueles que, a todo instante, pretendem dizer que houve uma ruptura da Constituição”, declarou Temer, que passou a denunciar que tem sido “vítima de agressões”. E emendou: “eu sei como funciona isso, uma pressão psicológica para ver se amedronta o governo.

Nós não temos a menor preocupação com isso. Aliás, eu estou fazendo esses comentários, apenas esse segundo comentário, apenas para revelar que nós não temos que dar atenção a isso, nós temos que cuidar do País. Aqueles que quiserem esbravejar façam-no o quanto quiserem, mas pela via legal, pela via democrática, até tem o nosso aplauso”.

 

Família. Temer fez questão de tratar desse tema como forma de demonstrar toda a sua indignação com os protestos feitos na porta de sua casa, em São Paulo, que deixaram assustados e com medo, segundo interlocutores, sua mulher, Marcela e seu filho, Michel, de 7 anos. Segundo assessores do presidente em exercício, ele está particularmente irritado com o que aconteceu porque “mexer com a família, é inadmissível”.

“Quer fazer protesto, vem aqui para a porta do Jaburu (residência oficial do Temer) e não para a porta da minha casa, onde está minha família.

Isso não admito”, afirmou o presidente a auxiliares, ao ser informado pela mulher, Marcela, que lhe telefonou nervosa, temendo que o manifestantes pudessem invadir a residência.

 

No fim de semana, por exemplo, Temer acabou antecipando sua volta para Brasília e trouxe a mulher e o filho para a capital. / T.M. e C.A.