Lava Jato derruba terceiro ministro do governo Temer
 
Tânia Monteiro, Carla Araújo, Erich Decat

17/06/2016

 

Gestão interina. Henrique Eduardo Alves, do Turismo, pede demissão após ser acusado em delação de Machado; temor no Planalto, contudo, é com colaborações que estão por vir

No dia seguinte à divulgação da delação premiada do ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado, Henrique Eduardo Alves (PMDB) pediu demissão do Ministério do Turismo e se tornou o terceiro ministro a deixar o governo do presidente em exercício Michel Temer por causa das investigações da Operação Lava Jato.

Nos 35 dias de gestão interina do peemedebista caíram também Romero Jucá, ex-titular do Planejamento, e Fabiano Silveira, que chefia a pasta da Transparência. Os dois deixaram o governo em razão da divulgação de gravações feitas por Machado que mostravam a discussão sobre medidas para barrar a Lava Jato.

A informação sobre a saída de Alves foi antecipada pela coluna Direto da Fonte no portal estadão.com.br. O ministro deixou o cargo mais em razão de denúncias que estão por vir do que pela delação de Machado em si. Alves era um dos mais próximos auxiliares de Temer. O presidente em exercício também foi vinculado ao esquema de propinas relatado pelo ex-presidente da Transpetro na subsidiária da Petrobrás.

Ontem, Temer convocou a imprensa para rebater a citação a seu nome – ele chamou de “irresponsável, leviana, mentirosa e criminosa” a declaração de Machado e admitiu que o caso pode “embaraçar a atividade governamental”.  Em relação a Alves, o ex-presidente da Transpetro disse ter pago a ele R$ 1,55 milhão em propinas por meio de doações feitas pela empreiteira Queiroz Galvão e pela Galvão Engenharia.

Os repasses, segundo ele, foram feitos entre 2008 e 2014, quando Alves era deputado e chegou a ocupar a presidência da Câmara. Ele nega as acusações.

Novas delações. Mas o receio do Planalto é quanto ao conteúdo de delações que ainda não vieram a público, como a do empreiteiro Marcelo Odebrecht, de Léo Pinheiro, da OAS, e a de Fábio Cleto, ex-vice-presidente da Caixa Econômica Federal.

A saída foi, nesse sentido, uma medida preventiva do governo, relataram auxiliares de Temer.

Ela foi acertada na noite de anteontem, após Temer e Alves se reunirem no Palácio do Planalto por cerca de 20 minutos.

Ali, avaliaram o impacto da situação do ministro para o governo e conversaram sobre a possibilidade de sua demissão.

Alves já era alvo de assessores de Temer, que vinham recomendando ao presidente em exercício sua demissão como uma antecipação de problemas que a Lava Jato traria a ele. A avaliação era de que sua permanência contrariava a determinação de que, surgindo denúncias, a autoridade atingida deveria deixar a Esplanada. Alves ligou para Temer pouco antes das 16h e anunciou que estava deixando o governo. A saída foi recebida com alívio.

Pedidos. O ex-ministro é, por ora, alvo de dois pedidos de abertura de inquérito na Operação Lava Jato. Um deles, junto com o presidente afastado da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), com base em trocas de mensagens com o ex- presidente da OAS Léo Pinheiro.

Para o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, os dois peemedebistas atuaram na aprovação de diversos projetos de lei de interesse da OAS na Câmara e cobraram como contrapartida doações que, na verdade, eram recursos ilícitos provenientes de contratos da empreiteira com a Petrobrás.

O procurador-geral também afirma que Cunha cobrou, por diversas vezes, doações para a campanha de Alves ao governo do Rio Grande do Norte, em 2014.Alves nega irregularidades. No mês passado, Janot pediu para o Supremo Tribunal Federal incluir o nome de Alves no inquérito principal da Lava Jato, que apura crime de formação de quadrilha pela maior parte dos investigados.

Até segunda ordem, quem fica no comando da pasta é o interino Alberto Alves. A Temer, o agora ex-ministro do Turismo agradeceu a “lealdade, amizade e compromisso de uma longa vida política e partidária”.

Ele disse ainda que estará sempre ao lado do presidente em exercício.

“Sempre estaremos juntos nessa trincheira democrática em busca de uma nação melhor”, afirmou na nota.

BAIXAS

Henrique Eduardo Alves

O ministro do Turismo pediu demissão ontem, após Sérgio Machado, ex-presidente da Transpetro, relatar repasse de R$ 1,5 milhão em propina a ele. A Procuradoria já pediu abertura de inquérito contra o peemedebista com base em mensagens do empreiteiro Léo Pinheiro, da OAS, e a inclusão dele no “inquérito-mãe” da Lava Jato.

Alves nega irregularidades.

Fabiano Silveira

Em 30 de maio, o então titular da pasta de Transparência deixou o cargo. Em áudio, Silveira orienta Sérgio Machado e Renan Calheiros sobre investigações da Lava Jato. O ex-ministro diz que não há irregularidades nas conversas.

Romero Jucá

Uma semana e meia após assumir o Planejamento, em 23 de maio, o peemedebista deixou a pasta. Em áudio gravado por Machado, Jucá sugere um “pacto” para barrar a Lava Jato. Ele diz que não se referia à operação.

 

O Estado de São Paulo, n. 44803, 17/06/2016. Política, p. A4