O Estado de São Paulo, n. 44795, 09/06/2016. Economia, p. B12

Crise é a mais intensa da história, diz Meirelles

Em evento com Michel Temer e empresários, ministro da Fazenda disse que não será surpresa se a recessão atual for pior que a dos anos 30

Por: Carla Araújo/ Idiana Tomazelli/ Tânia Monteiro

 

O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, afirmou ontem que o Brasil vive a mais intensa crise de sua história e o período de recessão deve superar o vivido nos anos 1930, quando o Produto Interno Bruto (PIB) caiu por dois anos seguidos em meio à Grande Depressão. Apesar disso, o ministro tentou transmitir uma mensagem positiva para o futuro, dizendo que a recuperação nos próximos trimestres pode vir mais forte do que o esperado inicialmente, caso o Congresso aprove as medidas anunciadas pelo governo.

“Estamos vivendo a crise mais intensa da história do Brasil. Vamos aguardar, mas não será surpresa se a contração deste ano for a mais intensa desde que o PIB (Produto Interno Bruto) começou a ser medido, no início do século 20, (uma recessão) até maior do que nos anos 30. É uma crise que gerou 11 milhões de desempregados. Então, temos que reverter esse processo”, afirmou Meirelles, durante evento que reuniu o presidente em exercício Michel Temer (PMDB) e empresários de diversos setores no Palácio do Planalto.

Até hoje, as maiores quedas do PIB brasileiro foram de 4,3%, em 1981 e 1990. Na década de 1930, houve retração de 2,1% em 1931 e recuo de 3,3% no ano seguinte, segundo dados do Ipea e do IBGE.

Apesar do cenário ruim, o ministro afirmou que o governo está trabalhando em um “elenco muito forte de medidas” para a retomada do crescimento.

“Não tenho a menor dúvida de que, no momento em que tudo isso seja aprovado pelo Congresso, chegaremos nos próximos trimestres a retomar o crescimento de forma que pode surpreender”, disse.

Segundo Meirelles, um dos esforços da equipe econômica é realizar um diagnóstico correto e preciso da situação e do que levou o País a esta crise. Isso porque, afirmou ele, diagnósticos equivocados no passado“ levaram a erros e causaram consequências graves à economia”.Sem citar nomes, o ministro fez questão de diferenciar o novo governo da gestão da presidente afastada Dilma Rousseff (PT).

“Os senhores ouvem hoje (ontem) um novo discurso, um novo tom, uma nova direção. Direção que pretende de fato alterar o curso da economia brasileira, visando de fato a ter crescimento, mais oportunidade, maior renda. São intenções declaradas por todos os governos, mas este governo está tomando medidas concretas, avaliando as razões para a crise, para proporcionar um crescimento sustentável para o Brasil nas próximas décadas”, discursou.

Meirelles voltou a dizer que “restaurar a saúde” das finanças públicas é fundamental e defendeu medidas como a fixação de um teto para as despesas, com crescimento limitado à inflação.

Segundo o ministro, tal iniciativa por si só já contribui para melhorar a confiança no País. “Este processo começa a ser revertido quando o governo sinaliza que controla suas contas”, disse.

Embora o novo governo ainda não tenha tirado do papel nenhuma das medidas do pacote econômico proposto, Meirelles encerrou sua fala aos empresários dizendo que “gosta de seguir a máxima: prometer menos, entregar mais”.

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Governo fará ‘dança das cadeiras’ em órgãos internacionais

Alexandre Tombini vai para o FMI, na vaga de Otaviano Canuto, que voltará para a diretoria do Banco Mundial
Por: Idiana Tomazelli

 

O governo brasileiro vai promover uma “dança das cadeiras” nos cargos que o País ocupa em organismos internacionais, começando pelo atual diretor executivo do Fundo Monetário Internacional (FMI), Otaviano Canuto. Ontem, Canuto disse que o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, lhe pediu que retornasse à diretoria executiva do Banco Mundial, cargo já ocupado por ele anteriormente.

No FMI, ele deve ser substituído por Alexandre Tombini, que deixará a presidência do Banco Central para a entrada do economista Ilan Goldfajn. Ilan teve o nome referendado pela Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) e pelo plenário do Senado na terça-feira.

As mudanças ainda incluem a ida de Antonio Henrique Silveira, hoje no Banco Mundial (no cargo que será de Canuto), para o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). As transferências vão ocorrer até 1.º de agosto. A aprovação de Canuto para o Banco Mundial ainda depende do voto dos demais países que compartilham o cargo de representação no órgão além do Brasil, mas não deve encontrar obstáculos. O economista atuou como diretor executivo de 2004 a 2007, além de ter ocupado outros cargos no banco. “Já comecei a receber cartas de apoio”, disse.

Ontem de manhã, Canuto e Silveira participaram de reuniões com Meirelles e o secretário de Assuntos Internacionais da Fazenda, Luis Antonio  Balduino Carneiro. Em seguida, almoçaram na sede do Banco Mundial em Brasília.

Após outro compromisso no Ministério, Canuto anunciou as mudanças. “Tenho orgulho de fazer parte desta missão ao lado de duas feras”, afirmou.

 

Visão favorável. Na reunião com Meirelles, Canuto contou que transmitiu ao ministro a “visão favorável” que pessoas do mercado e de Washington têm sobre o Brasil. Segundo ele, as medidas estruturais apresentadas pelo governo têm sido bem recebidas, incluindo o projeto de Desvinculação de Receitas da União (DRU).

Ainda segundo Canuto, o ministro da Fazenda tem falado de forma “clara e precisa” sobre as medidas que estão sendo tomadas para alavancar a economia.

“Tudo isso bate com a percepção da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) de que a economia brasileira bateu no fundo do poço, e as perspectivas são de melhora agora”.

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