Transpetro deve ser dividida em duas para a venda

01/06/2016

Antonio Pita

Fernanda Nunes

 

Como ex-presidente Sérgio Machado no centro de escândalos ligados à cúpula do PMDB, a Transpetro, subsidiária de logística da Petrobrás, é o próximo foco do programa de desinvestimentos da estatal. Com aval do governo interino, o novo presidente da petroleira, Pedro Parente, deverá acelerar o processo de reestruturação na empresa, com a divisão em duas áreas de negócio. Segundo fontes ouvidas pelo Broadcast, serviço de informação em tempo real da Agência Estado, a Petrobrás deverá abrir mão do controle da empresa.

Dois comitês, batizados internamente de ‘Olinda’ e ‘Ipanema’, analisam a venda de ativos da área naval e de infraestrutura terrestre, como terminais e a malha de dutos. Junto com a BR Distribuidora e a Liquigás, a Transpetro é um dos projetos considerados “prontos” para negociação, mas não há prazo definido. A subsidiária é um dos principais ativos da área de abastecimento. Em 2015, repassou à estatal lucro de R$ 1,2 bilhão. Apenas a área de dutos e terminais, considerada de maior potencial, foi responsável por 78% da receita operacional da subsidiária em 2015, R$ 6,5 bilhões.

A Transpetro é dona de 14 mil km de dutos que interligam refinarias e terminais aos principais centros consumidores, além de 49 terminais de armazenamento, carga e descarga de petróleo, gás e derivados. Na área de serviços marítimos, a companhia administra frota de 55 navios, dos quais cerca de 20 integram uma lista de alienação prevista para os próximos cinco anos.

A dificuldade do negócio, segundo fontes, passa pelo controle da Petrobrás. Os terminais pertencem à estatal e foram cedidos à Transpetro. Para incluí-los no projeto seria necessário uma reestruturação dos ativos. Outro empecilho é a dependência da subsidiária em relação à controladora– 98% do seu faturamento vem de serviços prestados à Petrobrás.

“Se a Petrobrás perde o controle, ou ela constrói outros terminais ou paga para usar os atuais a preços de mercado”, avalia o presidente do Sindicato dos Marítimos (Sindmar), Severino Almeida Filho. “Uma cláusula de uso reduziria o valor do negócio. E o que ela quer é valorizar”, completa o sindicalista, que espera grande mobilização de marítimos e petroleiros contra a venda.

Os estudos para a venda foram iniciados ainda em 2015, e um parecer de bancos envolvidos no negócio foi entregue no início deste ano. No período, a subsidiária criou uma gerência dedicada à prospecção de novos clientes. Há duas semanas, antes da troca de comando na Petrobrás, o ex-presidente Aldemir Bendine se reuniu na sede da Transpetro com seu presidente, Antonio Rubens Silvino.

A primeira visita em 15 meses da gestão reforçou a apreensão interna sobre a venda. Funcionários relatam que a subsidiária está “paralisada” desde as primeiras citações na Operação Lava Jato, em 2014, que resultaram na saída do ex-presidente Sérgio Machado.

 

Influência

O ex-presidente da Transpetro, Sérgio Machado, ficou 12 anos no cargo e ainda mantém influência na subsidiária, com indicados ocupando cargos no segundo escalão.

 

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Desafio de Maria Silvia é tornar o BNDES menor

01/06/2016                                                                                     

Vinicius Neder

 

A economista Maria Silvia Bastos Marques, nova presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), encontrará uma instituição maior do que aquela em que trabalhou 25 anos atrás. Com o também economista Luciano Coutinho, de 2007 a 2015, o BNDES viu seu ativo crescer 360% e os desembolsos anuais atingirem R$ 190 bilhões no auge, em 2013. O desafio de Maria Silvia, que tomará posse na hoje, será pilotara redução do banco, sinalizada na decisão do governo do presidente em exercício Michel Temer de antecipar R$ 100 bilhões da dívida do BNDES com a União.

Coutinho comandou a gestão mais longeva da história do banco–e colecionou polêmicas. Entre elas estão o custo dos aportes bilionários do Tesouro, o socorro às empresas na crise dos derivativos, em 2009, o apoio à consolidação e internacionalização de empresas nacionais (a política de “campeões nacionais”), além do financiamento às obras das empreiteiras no exterior e de empresas envolvidas na operação Lava Jato.

Na gestão de Maria Silvia, espera-se um BNDES menor e focado nas concessões em infraestrutura, ainda que com empréstimos menores do que na era Coutinho. Na direção do BNDES, a executiva trabalhou no programa de privatizações, em 1991 e 1992, no governo Fernando Collor. Uma das críticas feitas à gestão de Coutinho diz respeito ao custo do crescimento do BNDES.

De 2008 a 2014, o Tesouro aportou R$ 440,8 bilhões em empréstimos no banco. Com juros, a dívida está em R$ 514 bilhões. Após acusações de falta de transparência, o Ministério da Fazenda passou a calcular os custos dessas operações. Em valores atuais, o custo será de R$ 287 bilhões em 50 anos. O crescimento começou com a explosão da crise internacional, em setembro de 2008. Com recursos do Tesouro, o BNDES ganhou musculatura para oferecer crédito de imediato na seca.

Fernando Nogueira da Costa, professor da Unicamp e vice-presidente da Caixa no primeiro governo Lula, considera a ação dos bancos públicos “fundamental” em 2008. Na época, o Tesouro emitia os títulos com boas taxas, o “Brasil era a bola da vez” e políticas anticíclicas eram pedidas pelo setor privado.

Para Costa, além de aliviar a crise, o crescimento do BNDES elevou o pagamento de dividendos à União e reduziu a dependência de dívida externa.

Outra crítica é dirigida ao destino dos empréstimos, seja para a formação de grandes grupos – como o frigorífero JBS, a telefônica Oi, a fabricante de lácteos LBR e a desenvolvedora de softwares Totvs – seja para obras das empreiteiras no exterior e projetos envolvidos na operação Lava Jato. O BNDES chegou a ser alvo de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI). Procurado, Coutinho recusou os pedidos de entrevista

 

Negócio

R$ 440,8 bi foi o que o Tesouro Nacional aportou, em empréstimos, no BNDES entre 2008 e 2014; com os juros, a dívida está em R$ 514 bilhões

 

O Estado de São Paulo, n. 44787, 01/06/2016. Economia, p. B8