Senado aprova o nome de Ilan Goldfajn para presidência do BC

Gabriela Valente

08/06/2014

 

 

Economista promete levar a inflação para o centro da meta, 4,5%

Em mais uma vitória do governo interino de Michel Temer no Congresso, o nome do economista Ilan Goldfajn para a presidência do Banco Central foi aprovado ontem no plenário do Senado por 56 votos a favor e 13 contra, além de uma abstenção. Ele chega com o aval de praticamente todo o mercado financeiro, que confia na retomada da credibilidade econômica, abalada nos últimos anos. Falou tudo o que os analistas queriam ouvir: disse que o centro da meta de inflação será alcançado, que o BC tem de ter autonomia e que o “bom e velho” tripé macro econômico — que foca, ainda, em equilíbrio fiscal e dólar flutuante — está de volta, em vez da “nova matriz econômica” estabelecida pelo antigo governo.

A oposição conseguiu que todos os prazos do rito da sabatina fossem cumpridos. Por isso, ele não participará da reunião de hoje do Comitê de Política Monetária (Copom), que deve manter a taxa básica de juros (Selic) nos atuais 14,25% ao ano. Havia a expectativa que ele poderia sinalizar uma queda de juros no encontro do mês que vem.

Não é a primeira vez de Ilan no BC. Ele foi diretor de Política Econômica por três anos, de 2000 a 2003, durante a gestão Arminio Fraga. Até recentemente, era economista-chefe do Itaú. Precisou, inclusive, desfazer-se das ações que recebeu como pagamento de bônus para aceitar o convite do ministro da Fazenda, Henrique Meirelles. No banco privado, teceu duras críticas à equipe econômica da presidente afastada, Dilma Rousseff. Ontem, ele indicou que seu trabalho será bastante diferente do seu antecessor, Alexandre Tombini, que participa hoje de seu último Copom.

DEFESA DA AUTONOMIA DO BC

Em discurso durante a sabatina na Comissão de Assuntos Econômicos do Senado (CAE), onde foi aprovado por 19 votos a favor e oito contrários, Ilan afirmou que seu objetivo à frente do BC é fazer com que a inflação fique estritamente na meta de 4,5%, ou seja, não deixará a alta de preços ficar estacionada na chamada margem de tolerância de dois pontos percentuais. E frisou que a convergência da inflação para o objetivo tem de ser rápida:

— Nosso objetivo será cumprir plenamente a meta de inflação estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional, mirando o seu ponto central. Os limites de tolerância estabelecidos servem para acomodar choques inesperados na inflação, que não permitam a volta ao centro da meta em tempo hábil. Enquanto a inflação retorna ao centro da meta após eventuais choques, é fundamental o gerenciamento das expectativas no sistema de metas. É importante que as expectativas indiquem, no presente, uma trajetória que preveja a convergência para a meta em futuro não muito distante.

Nos últimos anos, o BC tem sido alvo de críticas por não trazer a inflação para a meta. Por anos, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) ficou acima dos 4,5%. Em 2015, rompeu o limite de tolerância e ficou em 10,67%.

Ilan disse estar certo de que esse objetivo pode ser alcançado por meio do “funcionamento harmônico e complementar das instituições brasileiras”. Falou que há, na literatura econômica, relatos que ressaltam a importância do fortalecimento das instituições para o crescimento econômico sustentável:

— Para o desempenho dessas funções, considero imprescindível manter e aprimorar a autonomia do Banco Central. Não se trata de ambição ou desejo pessoal, mas de medida que beneficia a sociedade mediante a redução das expectativas de inflação, da queda do risco país e da melhora da confiança.

Perguntado sobre a independência do BC, ele lembrou que há diferenças técnicas. No caso de um BC autônomo, disse, o banco tem de cumprir um objetivo traçado pela equipe econômica.

 

 

O globo, n. 30256, 08/06/2016. Economia, p. 25.