O Estado de São Paulo, n. 44810, 24/06/2016. Política, p. A7

PF recolhe documentos na sede do PT

Após seis horas e meia no local, agentes apreendem papelada contábil sobre repasses de empresa investigada por operação ao partido

Por: Ricardo Galhardo / Ana Fernandes

 

Armados com metralhadoras, fuzis e uniformes camuflados, cerca de 20 agentes da Polícia Federal recolheram centenas de documentos e quatro computadores ontem na sede nacional do PT de São Paulo. O partido classificou a Operação Custo Brasil como uma “ação diversionista”, cujo objetivo é desviar o foco das investigações envolvendo adversários do PT.

Os agentes permaneceram durante seis horas e meia na sede da legenda. Segundo testemunhas, as buscas ficaram restritas ao primeiro e terceiro andares do prédio localizado na região da Sé, no centro. Nenhuma porta foi arrombada. As salas dos dirigentes políticos do partido foram poupadas. Os policiais disseram aos funcionários que o objetivo era recolher documentos contábeis sobre repasses da empresa Consist para o partido. A pedido dos agentes, um dos cofres da sede foi aberto.

O advogado do PT, Luiz José Bueno de Aguiar, disse que a PF “teve a gentileza” de não levar material que pudesse atrapalhar as atividades do partido.

Mesmo assim, ele criticou a ação. “Não consigo ver a razão dessa busca e apreensão. Todos os documentos levados já estão no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). São documentos públicos. É uma busca para tirar o foco de outras coisas, de investigações óbvias feitas no País inteiro e que não envolvem o PT”, afirmou.

A direção petista, em nota, condenou a ação. “Em meio à sucessão de fatos e denúncias envolvendo políticos e empresários acusados de corrupção, monta-se uma operação diversionista na tentativa renovada decriminalizar o PT”, afirmou.

 

Aparato. A presença de oito homens do Grupo de Pronta Intervenção (GTI) da PF, especializados em controle de distúrbios, irritou petistas que viram a presença dos policiais fortemente armados na porta da sede do partido uma tentativa de prejudicar a imagem do partido. Segundo um dos policiais, o GTI foi acionado devido à possibilidade de militantes petistas comparecerem em grande número ao local e atrapalharem as buscas. A militância compareceu, mas em número reduzido.

No início da manhã um dirigente municipal do PT de São Paulo estendeu faixas na calçada cobrando a prisão do ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Outros dez petistas foram ao local com cartazes e gritos contra o governo Michel Temer.

Quando a PF chegou à sede do PT foi recebida por um segurança. Ele acionou uma funcionária do partido que, por sua vez avisou a direção petista. O presidente do PT, Rui Falcão, estava em Brasília e chegou ao local no início da tarde. Segundo dirigentes, ele estava tranquilo.

Ex-tesoureiro . Dois agentes da PF foram à sede do partido em Brasília à procura do ex-tesoureiro Paulo Ferreira, um dos alvos da operação, mas ele não foi encontrado. Em entrevista à Rádio Gaúcha, Ferreira disse que já esperava a ação. “Estou tranquilo em relação a isso e acho natural que em algum momento surja meu nome, como surgiram na Operação Lava Jato alguns empresários dizendo que tinham ligação comigo. Isso faz parte da política”.

 

Nome

Além dos agentes armados, o secretário do PT, Carlos Árabe, reclamou do nome da operação, Custo Brasil. “É extremamente ideologizado”, disse.

Órgãos relacionados:

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Desde Delúbio, tesouraria petista é paiol de dinamite

Por: Alberto Bombig

 

Em 2005, a descoberta das ligações do então responsável pelas finanças do Partido dos Trabalhadores Delúbio Soares com o empresário Marcos Valério deu início ao mensalão, processo que levaria à ruína líderes históricos do PT, como José Dirceu e José Genoino.

“Presidente, o Delúbio vai botar uma dinamite na sua cadeira”, afirmou naqueles tempos o ex-deputado federal Roberto Jefferson, ao relatar o que diz ter sido uma conversa sua com Lula.

Desde então, a palavra “tesoureiro” passou a provocar calafrios no petismo.

Coma Lava Jato, pesadelos se transformaram em realidade. João Vaccari Neto, que assumiu a tesouraria do PT em 2010, está preso desde 2015 e tem dado sinais de que pode fazer uma delação premiada, considerada pelas autoridades fundamental para montar o quebra cabeça de drenagem de recursos da Petrobrás para irrigar as contas do PT.

A partir de agora, outro ex-tesoureiro se transforma oficialmente em alvo da Lava Jato: Paulo Ferreira, que comandou a tesouraria de 2005 até 2010, a ponte entre o mensalão e o chamado “petrolão”.

Antes mesmo da conclusão das investigações e dos veredictos da Justiça, a inclusão definitiva de Ferreira na Lava Jato mostra que, para além dos nomes e dos personagens, o cargo de tesoureiro do PT embutia uma função estratégica num sistema estabelecido pelo partido e suas engrenagens de financiamento.

Parafraseando Jefferson, a tesouraria do PT sempre foi um paiol de dinamite.