Temer mantém ministros acusados de irregularidades

Simone Iglesias e Cristiane Jungblut

07/06/2016

 

 

Henrique Alves (Turismo) e Fábio Osório (AGU) ficam, por ora

O presidente interino, Michel Temer, decidiu ontem pela manhã manter nos cargos três integrantes do governo envolvidos em denúncias de corrupção e de irregularidades nos últimos dias: os ministros Henrique Eduardo Alves (Turismo) e Fábio Osório (Advocacia-Geral da União) e a ex-deputada Fátima Pelaes, nomeada para a Secretaria de Mulheres. Apesar do desgaste dos três, Temer decidiu não afastá-los. As duas últimas segundas-feiras foram marcadas pelas quedas dos ministros Romero Jucá, do Planejamento, e Fabiano Silveira, da Transparência, ambos gravados pelo ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado tentando atrapalhar a Operação Lava-Jato.

Na avaliação de Temer, as informações publicadas contra Henrique Alves, citado em matéria do jornal “Folha de S.Paulo” como receptor de recursos desviados da Petrobras, são “antigas”. O ministro já responde a inquérito no STF no âmbito da Lava-Jato. De acordo com integrantes do governo, Alves só terá que sair do governo se o Supremo Tribunal Federal aceitar a denúncia contra ele e o tornar réu.

Quanto ao advogado-geral da União, Fábio Osório, o presidente interino ficou incomodado com sua atuação nos últimos dias, mas resolveu conversar com o auxiliar e definir um “acordo de procedimento”. Temer não gostou de o advogado não ter atuado para impedir a volta do presidente da EBC, escolhido pela presidente afastada, Dilma Rouseff. O ministro do STF Dias Toffoli concedeu liminar a Ricardo Melo, determinando seu retorno ao posto de presidente da EBC porque não teria sido feita a defesa do governo Temer na nomeação do jornalista Laerte Rímoli para o mesmo posto.

Em nota, Henrique Alves informou que “não recebeu nenhuma citação para prestar esclarecimentos e nem foi notificado, e que todas as doações para as suas campanhas foram legais”. Ainda afirmou que está à disposição da Justiça.

SECRETÁRIA DE MULHERES É INVESTIGADA

Outro problema no horizonte do governo era a nomeação de Fátima Pelaes para a Secretaria de Mulheres. Ela foi escolhida por Temer na semana passada, mas está sendo investigada por desvio de recursos de emendas parlamentares no âmbito da Operação Voucher. O presidente interino vai mantê-la no cargo, porque análise feita pela Abin (Agência Brasileira de Inteligência) e concluída na manhã de ontem apontou que ela não tem problemas legais que a impeçam de atuar na pasta.

O presidente interino se reuniu na manhã de ontem com ministros e assessores, quando decidiu interromper o ciclo de demissões dos últimos dias. Temer disse a ministros que estava muito irritado com procedimentos de alguns integrantes da equipe, em especial Fábio Osório, que ainda teria exigido que oficias da Aeronáutica disponibilizassem um jato para ele se deslocar lembrando ter status de ministro. A FAB, em nota, negou “qualquer tipo de embaraço” com Osório e disse que “o atendimento seguiu todos os procedimentos formais e legais”.

Para Temer, falta “uma linha de pensamento” para manter os ministros sem dar declarações ou mesmo ter comportamentos polêmicos. Na cúpula do governo a avaliação é que os ministros parlamentares parecem não entender que a repercussão de suas declarações é bem maior na condição de ministro.

O ex-senador Luiz Otávio Campos (PMDB-PA), ligado à família Barbalho, assumirá a Secretaria Especial de Portos. Ele é, hoje, secretário-executivo do Ministério da Integração Nacional, pasta comandada por Helder Barbalho, e aguardava ter seu nome aprovado pelo Senado para a direção da Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq), para a qual havia sido indicado pela presidente afastada, Dilma Rousseff.

Luiz Otávio foi acusado de envolvimento num esquema fraudulento de desvio de 13 milhões de dólares do Banco do Brasil e do BNDES para a construção de balsas, no governo Fernando Collor. Ele foi investigado e condenado em 2012, mas recorreu e o caso prescreveu, sendo arquivado.

 

 

O globo, n. 30255, 07/06/2016. País, p. 5.