PF investiga fundos de pensão de estatais

 

25/06/2016

Fausto Macedo

Julia Affonso

Luciana Nunes Leal

Mariana Durão

Rodrigo Burgarelli

Vinicius Neder

 

O empresário Ricardo Andrade Magro, amigo e ex-advogado do presidente afastado da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), é um dos alvos de prisão da Operação Recomeço. Deflagrada na manhã de ontem, 24, pela Polícia Federal, a ação investiga desvios de pelo menos R$ 90 milhões dos fundos de pensão Petros, dos funcionários da Petrobrás, e Postalis, dos Correios, por meio de investimentos em títulos do grupo Galileo.

Três de sete mandados de prisão temporária emitidos já foram cumpridos e o valor de R$ 1,35 bilhão de 46 envolvidos no caso - entre pessoas físicas e jurídicas -, bloqueado.

O amigo de Cunha já havia aparecido na lista do Panama Papers. Magro comandou uma rede de offshores pela firma panamenha Mossack Fonseca, especializada em abrir empresas de fachada em paraísos fiscais. O empresário, dono da Refinaria de Manguinhos, no Rio, teve relacionadas a seu nome seis empresas em paraísos fiscais.

O envolvimento de Magro no esquema investigado na Recomeço indica que pode haver respingo em políticos. Além de Cunha, Magro também é próximo de Marcelo Sereno, que foi chefe de gabinete de José Dirceu, ex-ministro da Casa Civil do governo Luiz Inácio Lula da Silva.

Em entrevista sobre a operação, ontem, no Rio, o delegado da Polícia Federal Tacio Muzzi afirmou que foram constatados desvios dos recursos investidos pelos fundos para pessoas físicas e jurídicas ligadas ao Galileo, mas que é prematuro dizer que houve desvio para políticos.

Segundo o Ministério Público Federal, em dezembro de 2010, o Grupo Galileo emitiu debêntures (títulos de dívida) no valor de R$ 100 milhões para captar recursos para recuperar a recém-adquirida Universidade Gama Filho, mas o dinheiro não foi aplicado na universidade.

O atual acionista do Grupo Galileo, o pastor Adenor Gonçalves Santos, move uma ação contra os antigos sócios do grupo - Márcio André Mendes da Costa e Magro -, pedindo ressarcimento dos recursos. O desvio levou à quebra definitiva da Gama Filho e da UniverCidade, também mantida pelo grupo.

Fontes envolvidas na operação confirmaram a prisão do ex-diretor financeiro do fundo Postalis Adilson Florêncio da Costa, em Brasília, de Paulo César Prado Ferreira da Gama, um dos donos da Gama Filho, e do advogado Roberto Roland Rodrigues da Silva.

A 5.ª Vara Federal Criminal do Rio autorizou também a prisão de Márcio André Mendes Costa, de Magro, do então representante legal da Gama Filho Luiz Alfredo da Gama Botafogo Muniz e do ex-diretor do Grupo Galileo Carlos Alberto Peregrino da Silva. Todos estão sendo procurados pela PF e, caso não se apresentem, poderão ser considerados foragidos.

A Justiça autorizou buscas e apreensões em doze endereços - um em Brasília, um em São Paulo e dez no Rio. A PF investiga os crimes de gestão fraudulenta, desvio de recursos de instituição financeira, associação criminosa e negociação de títulos sem garantia suficiente.

Dirigentes da Petros são investigados. Procurada, a fundação informou que seguirá colaborando com as autoridades e, “caso venha a ser comprovada qualquer ilegalidade, as medidas cabíveis serão tomadas”. O Postalis afirmou que sua atual gestão “tem todo o interesse de que os fatos investigados sejam esclarecidos com celeridade”.

 

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Abraji debate a importância do Panama Papers

 

25/06/2016                                                                                     

 

Durante o 11.º Congresso Internacional de Jornalismo Investigativo, realizado ontem, pela Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), Marina Walker Guevara, diretora do Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos (ICIJ, na sigla em inglês), falou sobre a experiência de coordenar a investigação internacional Panama Papers. Para ela, houve uma “quebra de paradigma” com a articulação de 370 jornalistas de 76 países na análise dos 11,6 milhões de documentos do escritório de advocacia panamenho Mossack Fonseca.

Para Marina, em reportagens que envolvam grandes bases de dados, as “matilhas” tendem a se tornar cada vez mais importantes do que o “lobo solitário”. Ela citou como exemplo dessa tendência o fato de o jornal The New York Times ter se juntado à equipe coordenada pelo ICIJ.

O diretor de Jornalismo do Estado, João Caminoto, debateu o futuro da imprensa e de grandes reportagens. Ele participou do seminário “Por que investir em reportagem para sobreviver à crise?”, que teve a participação de Ascânio Seleme, do Globo, Sérgio Dávila, da Folha de S.Paulo, e de Fernando Barros e Silva, da revista piauí. “Elas (grandes reportagens) continuam sendo caras. Precisam de tempo para serem feitas, às vezes sacrificando a redação, mas são essenciais ao jornalismo de qualidade”, disse Caminoto.

 

O Estado de São Paulo, n. 44811, 25/06/2016. Política, p. A11