Suíça acha conta de Alves e envia ao País

 

18/06/2016

Jamil Chade

 

A Suíça transferiu ao Brasil todos os documentos e extratos bancários envolvendo o ex-ministro do Turismo, Henrique Eduardo Alves (RN). Ele pediu demissão anteontem, 16, do cargo depois de ter sido informado que os dados sobre sua conta bancária no país europeu já eram de conhecimento dos investigadores da força-tarefa da Operação Lava Jato.

Na Europa, fontes próximas ao caso confirmaram ao Estado que Henrique Alves manteve uma conta com depósitos que variavam entre US$ 700 mil e US$ 1 milhão. O dinheiro está bloqueado, mas o banco não teve seu nome revelado pelas autoridades do país.

Alves foi o terceiro ministro da gestão de Michel Temer a cair e, em uma carta, explicou que não queria criar “constrangimentos” para o presidente em exercício Michel Temer. A investigação começou em Berna, na Suíça, sob a suspeita de que a conta tenha sido alimentada por recursos de propinas.

A conta de Alves, porém, é uma das mais de mil contas hoje bloqueadas pelos suíços em seus bancos locais relacionadas com a Lava Jato. Mas, para os suíços, o caminho adotado foi o mesmo seguido no caso do deputado federal afastado Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Para a procuradoria suíça, não faria sentido processar o brasileiro, levá-lo a um julgamento em Berna e, em seguida, jamais conseguir sua punição. O motivo é que o Brasil não extradita seus nacionais.

A ideia negociada com os procuradores da República brasileiros foi a de transferir o caso para o Brasil a fim de que Alves, agora, seja investigado e julgado em seu próprio País. Para os suíços, a transferência do caso também permitirá que a Justiça no Brasil possa agir de forma rápida, garantindo assim que as provas e mesmo os recursos não sejam perdidos.

Henrique Alves já havia sido citado anteriormente na delação premiada do ex-presidente da Transpetro, Sérgio Machado, homologada pelo ministro Teori Zavascki, do Supremo Tribunal Federal (STF). Nela, o delator da Lava Jato contou que entregou R$ 1,55 milhão para Alves. Segundo ele, o dinheiro tinha origem em propinas.

O caso da conta de Alves envolveria outro integrante do governo, Geddel Vieira Lima, atual ministro da Secretaria de Governo, segundo reportagem da revista Veja.

Além das investigações sobre propinas repassadas a Alves, um processo contra o ex-ministro que tramita em sigilo há 12 anos inclui um papel timbrado da Câmara onde está anotado com a mesma caligrafia o valor de 420.000 e o nome Geddel.

O processo traz ainda nomes e números de contas de Alves no exterior, além de extratos bancários que detalham seus gastos fora do País entre 1996 e 2004. Os documentos teriam sido fornecidos por Mônica Azambuja, ex-mulher de Alves.

 

Nota. Em nota divulgada anteontem, a assessoria de Alves desmentiu as acusações de Machado.

Sobre as investigações na Suíça, Alves informou: “Refuto qualquer ilação a respeito de conta no exterior em meu nome.” A nota do ex-ministro prossegue afirmando: “Não fui citado a prestar esclarecimentos”.

Alves disse ainda que está “como sempre estive, à disposição da Justiça, até porque sou o principal interessado em verto das essas questões esclarecidas”.

Por fim, disse acreditar “nas instituições do nosso Estado Democrático de Direito”.

Procurado, Geddel disse à Veja que desconhece o manuscrito e que nunca tratou de dinheiro com Alves. Este, por sua vez, disse que a denuncia de Mônica era “absurda”.

 

Alvo

A deputada Raquel Muniz (PSDMG), mulher de Ruy Muniz, prefeito de Montes Claros (MG), que está preso, será investigada por crime fiscal, falsidade ideológica, estelionato e lavagem de dinheiro

 

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Teori homologa delação de ex-vice da Caixa

 

18/06/2016

Andreza Matais

Fábio Fabrini

 

 

O ministro Teori Zavascki, relator da Lava Jato no Supremo Tribunal Federal, homologou a delação de Fábio Cleto, ex-vice presidente de Loterias da Caixa Econômica Federal. Nos depoimentos à Procuradoria-Geral da República Cleto implica o presidente afastado da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), em esquema de corrupção, e cita o ex-ministro do Turismo Henrique Alves (PMDB-RN).

Cleto relatou pagamento de propina a políticos em troca da liberação de recursos do FGTS.

Segundo ele, um dos operadores dos repasses a Cunha era Lúcio Funaro. Cunha e Funaro já são investigados no Supremo.

O advogado de Cleto, Adriano Salles Vanni, afirmou ontem que estava em viagem e não poderia falar. Cunha informou que desconhece o conteúdo da delação e não comentaria. Alves não se pronunciou até a conclusão desta edição.

Funaro disse que não iria se manifestar.

 

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Janot diz haver indícios de propina a Mendonça Filho

 

18/06/2016

Gustavo Aguiar

Isadora Peron

 

 

O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, afirmou ao Supremo Tribunal Federal (STF) a haver indícios de que o ministro da Educação e deputado federal licenciado, Mendonça Filho (DEM-PE), recebeu propina do esquema de corrupção investigado pela Operação Lava Jato durante a campanha eleitoral de 2014.

A foto de uma transcrição com os detalhes de um repasse de R$ 100 mil em nome do ministro foi encontrada em um dos celulares do ex-diretor da UTC Walmir Pinheiro, delator da Lava Jato. Além disso, os investigadores apreenderam um documento do tesoureiro do DEM, Romero Azevedo, registrando o pagamento.

Janot destaca que "é curioso" que, na prestação de contas oficiais da campanha do deputado Mendonça Filho, as construtoras Odebrecht e Queiroz Galvão doaram para o político exatos R$ 100 cem mil reais cada uma. Além disso, a UTC efetuou uma terceira doação, desta vez ao diretório do DEM, no mesmo valor.

“Assim, por estarmos diante de elementos indiciários de possível pagamento de propina para a campanha do citado parlamentar federal, certa é a competência deste STF para a análise” dos fatos.

Janot pede que Teori autue o caso em procedimento oculto e, em seguida, o submeta à Procuradoria para analisar a necessidade de abertura de inquérito.

Não se sabe, no entanto, se o fato resultou uma investigação contra o ministro.

Mendonça Filho é o quarto ministro do governo do presidente em exercício Michel Temer a ser envolvido na Lava Jato. Em nota, o ministro diz que foi procurado por interlocutores da UTC, mas rejeitou a oferta de umadoaçãodeR$100 mil. Afirmou ainda que não recebeu doações ilegais. / GUSTAVO AGUIAR e ISADORA PERON

 

O Estado de São Paulo, n. 44804, 18/06/2016. Política, p. A6