MP suíço liga conta a campanhas políticas

 

11/06/2016

Jamil Chade

 

Pela primeira vez, o Ministério Público da Suíça ligou uma conta secreta investigada no país no “caso Petrobrás/Odebrecht” ao pagamento de gastos em “campanhas políticas nas Américas do Sul e Central”. A suspeita das autoridades é de que a origem do dinheiro é criminosa.

O MP suíço não informou quais políticos ou partidos estariam ligados a essas campanhas, mas procuradores em Berna afirmam que o dinheiro da conta está bloqueado e que esses dados foram solicitados por autoridades brasileiras.

A informação foi passada ao Estado em resposta a perguntas da reportagem relacionadas à notícia de que o lobista Zwi Skornicki, apontado como operador de propinas pela Operação Lava Jato, fechou acordo de delação premiada com o Ministério Público Federal brasileiro. Preso desde 23 de fevereiro de 2016, Zwi Skornicki repassou US$ 4,5 milhões para a conta secreta na Suíça do marqueteiro do PT, João Santana - preso com a mulher, Mônica Moura, alvos da Operação Acarajé, desdobramento da Lava Jato.

“Como parte das investigações sobre o caso Petrobrás/Odebrecht, o Escritório do Procurador-Geral da Suíça também ordenou o bloqueio de uma conta que era mantida por uma empresa localmente domiciliada”, informou a procuradoria. “De acordo com as informações disponíveis, ela (a conta) foi usada para financiar campanhas políticas na América Central e na América do Sul.”

Skornicki contou em delação que o valor de US$ 4,5 milhões foi solicitado pelo então tesoureiro do PT João Vaccari Neto “para ajudar a financiar a campanha de reeleição de Dilma Rousseff”. Segundo o MP suíço, “em relação à sra Dilma Rousseff, não existe nem um processo criminal e nem investigações conduzidas em relação a ela”.

Além do Brasil, a Suíça já estabeleceu cooperação com o Panamá no caso envolvendo recursos e pagamentos feitos pela Odebrecht. “Nesse contexto, o Escritório do Procurador-Geral está focando na possibilidade de que esses fundos vinham de atividades criminosas, e não na possibilidade de que eles possam ter sido usados de maneira ilegal”, disse a procuradoria.

“Qualquer doação ilegal para campanhas eleitorais e outros objetivos políticos devem ser assunto de investigação nos países concernidos e não são, portanto, do interesse direto das investigações conduzidas pelo Escritório do Procurador-Geral.” Segundo Berna, porém, o Brasil já fez um pedido de cooperação para ter acesso a esses dados e que, por enquanto, a solicitação está sendo alvo de avaliação.”

 

Outro lado. A defesa de Dilma Rousseff rebateu anteontem “a insinuação de que teria conhecimento de um suposto pedido de R$ 4,5 milhões feito pelo tesoureiro do PT, João Vaccari Neto”. “É público e notório que o tesoureiro da campanha da reeleição foi o ex-ministro Edinho Silva. Ele é quem tratava da arrecadação para a campanha em 2014. Todas as doações de empresas foram legais.”

A defesa de Vaccari disse que a informação do delator não tem “credibilidade”. “Até porque Vaccari era tesoureiro do Partido dos Trabalhadores, jamais tendo funcionado como tesoureiro de campanha”. A Odebrecht informou ao Estado que não iria comentar o assunto.

 

Análise

As autoridades brasileiras pediram à Suíça a cooperação para obter os dados da conta bancária bloqueada. "Esse pedido por assistência mútua está sendo processado", informou o MP suíço.

 

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PF intima Delfim para esclarecer pagamento feito pela Odebrecht

 

11/06/2016

Mateus Coutinho

Ricardo Brandt

Julia Affonso)

 

A delegada da Polícia Federal Renata da Silva Rodrigues, da força-tarefa da Operação Lava Jato em Curitiba, intimou o ex-ministro da Fazenda Delfim Netto para “prestar esclarecimentos” sobre por que recebeu, segundo seu sobrinho, R$ 240 mil em espécie entregues pela empreiteira Odebrecht em 22 de outubro de 2014 no escritório do advogado e sobrinho do ex-ministro Luiz Appolonio Neto, na capital paulista.

A Lava Jato chegou ao nome do ex-ministro e criador do “milagre econômico” da ditadura militar depois de encontrar planilha do Setor de Operações Estruturadas da Odebrecht, nome oficial do que os investigadores chamam de “departamento de propinas”. Na planilha constava a entrega de R$ 240 mil no endereço de Appolonio. Levado a depor na 26.ª fase da Lava Jato, em março, o advogado disse que não se recordava de ter recebido a quantia.

Na segunda-feira passada, contudo, Appolonio enviou ofício à PF em Curitiba informando que os “referidos valores não lhe pertencem, apenas foram recebidos no endereço mencionado a pedido do economista Antonio Delfim Netto, o qual, por motivos particulares e em razão de sua avançada idade, não quis receber em seu escritório”. Segundo o advogado, todo o valor foi repassado ao ex-ministro, que o recebeu “em virtude de consultoria prestada”.

Os advogados Ricardo Tosto e Maurício Silva Leite, que defendem Delfim Netto, refutaram qualquer irregularidade. “O economista Antônio Delfim Netto prestou serviços de consultoria na área econômica e recolheu todos os impostos em decorrência da prestação dos serviços.”

A defesa de Luiz Appolonio diz que todos os esclarecimentos já foram prestados às autoridades e que “ficou demonstrado que ele não tem qualquer participação nos fatos investigados”. A Odebrecht não quis comentar o caso. /MATEUS COUTINHO, RICARDO BRANDT e JULIA AFFONSO

 

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Advogado de Palocci assume defesa de Lula na Lava Jato

 

11/06/2016

Fausto Macedo

Julia Affonso

 

O criminalista José Roberto Batochio assumiu a defesa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, alvo da Operação Lava Jato. Defensor do ex-ministro Antonio Palocci, Batochio vai atuar em parceria com o escritório Roberto Teixeira e Cristiano Zanin Martins, que representa o petista desde o início da investigação.

O ex-presidente foi denunciado pelo Ministério Público Federal por suspeita de tentar comprar o silêncio do ex-diretor da Petrobrás e delator Nestor Cerveró.

Lula também é investigado no caso de um sítio em Atibaia e de um tríplex no Guarujá – patrimônio que a defesa nega ser dele.

Batochio defende investigados de três grandes operações em curso – Lava Jato, Zelotes e Acrônimo. Na Lava Jato, representa o ex-ministro Antonio Palocci.

Na Acrônimo e na Zelotes, defende o empresário Carlos Alberto de Oliveira Andrade, do grupo Caoa. / F.M. e J.A.

 

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Japonês da Federal’ vai usar tornozeleira

 

11/06/2016

Julia Affonso

Fausto Macedo

Ricardo Brandt

 

O agente da Polícia Federal Newton Ishii, o “japonês da Federal”, vai cumprir pena de tornozeleira eletrônica. Condenado por facilitação de contrabando na fronteira de Foz do Iguaçu, o agente deveria colocar a tornozeleira ainda ontem. Ishii vai continuar trabalhando.

O “japonês da Federal” está preso desde terça-feira passada, em Curitiba. Ishii foi condenado em 2009 pela Justiça Federal no Paraná por corrupção e descaminho, ao facilitar, segundo as investigações, a entrada no Brasil de produtos contrabandeados do Paraguai.

A condenação foi mantida pelo Superior Tribunal de Justiça em março deste ano. A corte determinou pena de quatro anos e dois meses de prisão. Como não existe casa de albergado no Paraná para o cumprimento de pena em regime semiaberto, o que é comum em caso de condenações de menos de seis anos, o juiz Matheus Gaspar, da Vara de Execuções Penais, determinou que o agente fique custodiado no Centro de Operações Especiais.

Newton Ishii ficou conhecido como “japonês da Federal” ao escoltar presos e investigados da Lava Jato. Atualmente no cargo de chefe substituto de Operações Especiais da Polícia Federal em Curitiba, o agente fica lotado na sede da PF na capital paranaense e é responsável pela logística e escolta de presos. Ele estava trabalhando na terça-feira, quando foi notificado da decisão sobre a prisão e se entregou espontaneamente.  / J.A., F.M. e R.B.

 

O Estado de São Paulo, n. 44797, 11/06/2016. Política, p. A6