Valor econômico, v. 17, n. 4021, 08/06/2016. Brasil, p. C2

Ilan esfria apostas para corte de juro

Para analistas, nova equipe do BC terá prudência antes de iniciar ajuste

Por: Por Flavia Lima, Silvia Rosa e Lucinda Pinto

 

Logo que iniciou sua fala na sabatina na Comissão de Assuntos Econômicos do Senado, o presidente indicado do Banco Central, Ilan Goldfajn, tentou esfriar a ideia de que ele poderia antecipar o corte de juros, ou mesmo adotar uma meta de inflação ajustada para 2017, como chegaram a defender alguns economistas. Ilan afirmou que os limites de tolerância da meta de inflação permitem acomodar choques inesperados - o que é diferente de admitir que a inflação esteja dentro do intervalo ano após ano. E disse que as expectativas precisam ter "no presente convergência para a meta num futuro não distante", reforçando entre agentes a ideia de que o juro não pode cair até que as projeções, de fato, estejam alinhadas com o centro da meta.

Boa parte do mercado acredita que isso só ocorrerá em meados do segundo semestre. E que o "efeito credibilidade" que a escolha de Ilan pode produzir não deve ser suficiente para autorizar um alívio monetário. Até porque, a variável-chave - destacada pelo discurso de Ilan, inclusive - é a política fiscal. E, sobre essa, não há clareza.

Foi por isso que, a despeito do discurso firme de Ilan, os juros de longo prazo subiram ontem. O pedido de prisão de Renan Calheiros causou mal estar no mercado porque, caso o presidente do Congresso seja afastado do cargo, seu substituto seria o petista Jorge Viana. Variável que pode tornar, no mínimo, o processo de ajuste fiscal mais lento.

Essa notícia, portanto, fez o DI com vencimento em janeiro de 2021, o que melhor capta a percepção de risco dos investidores, subir de 12,31% para 12,39%.

Para Juan Jensen, sócio da 4E Consultoria, a retomada do ciclo de afrouxamento monetário está condicionada a medidas de corte de gastos e aumento de arrecadação no curto prazo - que ainda não ocorreram. Por isso, um corte da Selic só deve ocorrer em outubro. "É a política fiscal conduzida pela Fazenda que vai limitar o quanto os juros podem ser reduzidos". Na avaliação de Jensen, Ilan, cujo nome foi aprovado pelo Senado ontem por 56 votos (e 13 abstenções), foi ponderado ao discorrer sobre a importância doresgate do tripé macroeconômico e sobre a missão do BC de garantir a solidez do sistema financeiro, mas tratou de não deixar transparecer qualquer questão relacionada à condução de política monetária. "O Ilan como economista do Itaú previa que isso ocorreria em julho, mas o que a gente sabe é que dificilmente virá em julho".

Para Jensen, não parece factível que Ilan se sente na cadeira do BC e comece a reduzir juros, já que sabe como ninguém que um ponto muito importante na condução da política monetária é a comunicação com o mercado. "Ele tem que primeiro sinalizar qualquer mudança de política monetária e hoje o que o BC está sinalizando é que não há nenhum espaço para a operação [de redução de juro] e ele vem sendo explícito como poucas vezes foi", afirma. Sua expectativa é de queda de 0,25 ponto percentual taxa Selic em outubro e mais 0,50 ponto percentual em novembro, encerrando o ano em 13,5%. Mais à frente outros cortes viriam, permitindo que a Selic encerre o primeiro semestre de 2017 em 11,5%.

Para o diretor de pesquisas econômicas do Goldman Sachs para a América Latina, Alberto Ramos, o espaço para um corte de juros pode ser observado antes, já em agosto. De todo modo, o discurso de Ilan confirmou que o BC vai seguir critérios técnicos, olhar para as expectativas de inflação e avaliar o balanço de riscos. Na última pesquisa Focus, a mediana das projeções para inflação estava em 5,50%, acima do centro da meta de 4,5%. "Para ganhar credibilidade, acho que ele não vai cortar a taxa básica de juros na primeira reunião que ele deve participar, em julho, e vai esperar para iniciar o ciclo de cortes em agosto", diz Ramos.

Luiz Fernando Castelli, economista da GO Associados, acredita que os juros vão cair neste ano, independentemente de quem esteja à frente do BC. E que, já na reunião de julho, o Copom altere a comunicação e inicie o ciclo de baixa de juros no encontro seguinte, em agosto. Ele espera três quedas de 0,5 ponto percentual em 2016, com a Selic encerrando o ano em 12,75%.

O ajuste fiscal será o grande fiel da balança da trajetória da queda dos juros, afirma o ex-secretário do Tesouro Nacional, Carlos Kawall. Ele diz que o processo de desalavancagem tanto do setor público quanto do setor privado ainda é um forte empecilho à retomada da economia e deve abrir espaço para redução mais forte da taxa básica de juros.

Kawall espera um ajuste fiscal que qualifica como "moderado". A hipótese é que o estabelecimento de um teto para os gastos públicos fixado de acordo com a inflação do ano anterior deve equivaler a um ajuste de 1% no PIB. Assim, a expectativa é de um déficit primário de 2,5% do PIB em 2016, seguido de um déficit de 1,5% no ano que vem e de 0,5% em 2018.

Com essas estimativas, sua expectativa é de que o ciclo de alívio monetário comece em agosto com um corte de 0,5 ponto percentual. A projeção é que a Selic encerre o ano em 12,75% e a 10% em 2017.

Senadores relacionados:

Órgãos relacionados: