Valor econômico, v. 17, n. 4021, 08/06/2016. Especial, p. A12

Destino de Cunha está nas mãos de deputada do PRB

Conselho de Ética volta a adiar votação de relatório sobre cassação

Por: Raphael Di Cunto e Thiago Resende

 

O destino do presidente afastado da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), está nas mãos do PRB, partido do "centrão" que é aliado do pemedebista, mas está dividido sobre o processo de cassação no Conselho de Ética. Enquanto a cúpula do partido e o governo Temer trabalham para salvar Cunha, parlamentares com pretensões eleitorais este ano tentam a cassação.

Tia Eron: deputada não revelou posição e disse que estudará o voto em separado do deputado João Carlos Bacelar defendendo apena que manteria Cunha

A votação deve ocorrer apenas na próxima semana, após adversários de Cunha articularem o adiamento da votação por entenderem que, se ocorresse ontem, perderiam. Pressionada, a deputada Tia Eron (PRB-BA), que será o voto decisivo na comissão, não apareceu para votar e, por 33 segundos, o primeiro suplente do bloco a registrar presença - e que votaria na ausência - era Carlos Marun (PMDB-MS), aliado dele.

O placar está em 10 votos contrários à cassação e nove favoráveis. Se a parlamentar de primeiro mandato votar pela cassação, o presidente do conselho, José Carlos Araújo (PR-BA), desempatará contra o pemedebista. Se ela votar pela manutenção do mandato, Cunha será no máximo suspenso por três meses.

O conselho debateu o parecer do deputado Marcos Rogério (DEM-RO) por cinco horas enquanto Tia Eron permanecia no gabinete do PRB sem dar informações. Ao deixar o local, a deputada não revelou o voto e disse que estudará o voto em separado do deputado João Carlos Bacelar (PR-BA) defendendo a pena mais branda que manteria Cunha, inclusive, na presidência da Câmara.

Mesmo aliados de Cunha, que tentavam votar o relatório ontem, a classificavam como um voto indeciso. Ela é a única integrante da comissão que não declarou publicamente sua posição e que também não participou da votação da admissibilidade do processo em março - entrou no lugar do deputado Fausto Pinato (SP), que trocou o PRB pelo PP e foi pressionado a deixar a vaga.

O presidente licenciado do PRB e ministro do Desenvolvimento, Marcos Pereira, articula a manutenção do mandato e se reuniu com o presidente interino Michel Temer na noite de segunda-feira, segundo parlamentares do partido. Segundo esses relatos, o governo está preocupado que Cunha provoque instabilidade na Câmara ao não ter ajuda para se salvar. Ele negou em nota a reunião. Em nota, o ministro desmentiu a reunião. Dois líderes do partido no Congresso que vão concorrer nas eleições municipais - o deputadoCelso Russomanno em São Paulo e o senador Marcelo Crivella no Rio de Janeiro - tentavam convencer Eron a apoiar a cassação com receio do desgaste provocado pelo partido ser o responsável por manter Cunha.

Sem a certeza de que Tia Eron apareceria na sessão, Araújo resolveu recorrer ao regimento e encerrar a sessão para que Marcos Rogério analisasse o voto em separado de Bacelar. "Se ela não viesse perderíamos. E se ela vier temos uma chance", reconheceu um dos adversários do presidente afastado. Mas, a noite, ao perceber o apoio de aliados de Cunha à sessão, decidiu remarcar para quinta-feira, mas possivelmente a sessão só ocorrerá na próxima semana. Ele espera, com isso, aumentar a pressão da opinião pública sobre a parlamentar.

O adiamento foi criticado por Cunha, que classificou de "manobra autoritária" - prática da qual foi acusado ao longo de todo o processo. "Na sua falta de convicção para alcançar o resultado que ele desejava, [Araújo] optou pela manobra espúria de encerrar a sessão", disse..

Com a nova sessão é possível ainda que o primeiro suplente a votar na ausência de Tia Eron seja Onyx Lorenzoni (DEM-RS), favorável à cassação, mas isso dependerá de quem registrar presença antes

Cunha acompanhou a discussão pela TV na residência oficial da Câmara. Fazia ligações a todo o momento para aliados, para instruir as votações e questionar a ausência de suplentes - um deles foi trocado horas depois de indicado para o conselho.

Bacelar foi escalado para criticar o relatório a favor da cassação e defender a pena alternativa. Ele afirmou que não ficou provado que Cunha mentiu à CPI da Petrobras sobre a existência de contas no exterior porque o dinheiro identificado como do pemedebista está num trust, espécie de fundo de investimento, e não precisava ser declarado, embora a omissão exigisse uma suspensão do mandato por três meses.

Já o deputado Paulo Azi (DEM-BA), que no começo votava com Cunha, afirmou que a nomenclatura não faz diferença. "O valor atribuído a ele no exterior, aquele já identificado, representa quase seis vezes mais que o valor que o declarado no seu imposto de renda, de R$ 1,5 milhão. Me parece claro que o deputado infringiu o regimento", disse.

Aliados dele ainda guardam uma outra carta na manga para tentar reverter uma derrota no conselho, que é uma consulta à Comissão de Constituição e Justiça para permitir emenda no plenário da Câmara para reduzir a punição.

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