PF: empresa ligada à Odebrecht comprou sede para Instituto Lula

Cleide Carvalho, Thiago Herdy e Renato Onofre

12/07/2016

 

 

O deputado afastado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) negociou com empreiteiras investigadas na Lava-Jato o texto da Medida Provisória 627, que é alvo da Operação Zelotes, da Polícia Federal, por suspeita de beneficiar o setor automotivo. Mensagens anexadas ao inquérito da empreiteira Andrade Gutierrez mostram que Cunha, que foi relator da medida provisória, pode ter atendido, no texto, a interesses da empreiteira.

A MP trata da tributação de lucros de filiais de empresas brasileiras no exterior. No texto aprovado pela Câmara, porém, foi incluída até mesmo uma permissão para a criação de aeroporto privado destinado a operar voos comerciais, o que acabou sendo vetado pelo governo. A Andrade Gutierrez pretendia investir R$ 5,3 bilhões para construir um aeroporto no município de Caieiras (SP). Pela lei, voos comerciais só podem ser operados em aeroportos públicos ou em regime de concessão.

 

FOTO POR CELULAR

O ex-presidente do grupo Andrade Gutierrez Otávio Azevedo acompanhou a negociação da MP de perto. Gabriel Villas Boas, então diretor de Relações Institucionais da empreiteira, chegou a enviar a ele uma mensagem de WhatsApp com foto da reunião realizada no dia 20 de março de 2014, poucos dias antes de a MP ser levada à votação na comissão especial e no plenário da Câmara.

A foto mostra os principais representantes do PMDB reunidos para tratar do assunto com Guido Mantega, então ministro da Fazenda. Além de Cunha, estiveram presentes Michel Temer, que era vice-presidente, e Eduardo Braga, na época líder do PMDB no Senado. Um dia antes da votação no plenário, Azevedo mandou mensagem a Cunha perguntando se as modificações propostas pela Odebrecht estavam sendo aceitas pelo governo e pela Câmara.

Cunha respondeu que acertou um dos dois pontos enumerados: “Esse ponto 1 eu acertei, mas tem de ser em segredo”. No dia seguinte à aprovação da MP, Otávio Azevedo e Léo Pinheiro, da OAS, trocaram mensagens sobre terem que trabalhar para o governo não vetar. Para a PF, o assunto tratado nas mensagens era a medida provisória.

No dia 30 de junho, Cunha informou números de contas para Azevedo. O peemedebista informou, em nota, que a MP 627 foi objeto de várias discussões “não só com os setores, como também com o governo, através de troca de e-mails”, e que ao “passar dados de contas de Henrique Alves não há nada além de uma solicitação transparente de doação legal”. A Andrade Gutierrez disse em nota que “mantém o compromisso de colaborar com a Justiça”.

 

 

O globo, n. 30290, 12/07/2016. País, p. 5.