Operador de Cunha é preso e cogita delação

 

02/07/2016

 

A Operação Lava Jato apertou ontem o cerco ao presidente afastado da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Em uma nova fase da investigação, a Polícia Federal prendeu preventivamente o empresário e corretor Lúcio Bolonha Funaro, apontado como operador do peemedebista em esquemas de corrupção. Os dois são suspeitos de atuar em parceria, cobrando propina de grandes empresas para favorecê-las no Congresso e liberar aportes milionários do Fundo de Investimento e outras carteiras do FGTS, geridos pela Caixa. Funaro, já prevendo que seria preso, informou no início da semana a um dos seus principais advogados – o criminalista Antônio Mariz de Oliveira – que iria procurar os serviços de outro profissional especialista em delações premiadas.

Ao mesmo tempo em que foi deflagrada a Operação Sépsis, uma referência ao processo de infecção generalizada, o relator da Lava Jato no Supremo Tribunal Federal, Teori Zavascki, tornou pública ontem a denúncia oferecida pela Procuradoria-Geral da República contra os principais alvos da ação da Polícia Federal. Além de Cunha e Funaro, são acusados formalmente o ex-ministro do Turismo Henrique Eduardo Alves e o ex-vice-presidente da Caixa Econômica Fábio Cleto.

As delações de Cleto e do ex-diretor de Relações Institucionais do Grupo Hypermarcas Nelson Mello embasaram a nova fase da Lava Jato, que cumpriu em São Paulo mandados de busca e apreensão na sede da Eldorado (empresa do Grupo J&F, controlador da JBS, dona da Friboi) e na casa de Joesley Batista, acionista do grupo. Os agentes federais estiveram ainda em imóveis do empresário Henrique Constantino, um dos donos da Gol, também na capital paulista.

Cunha, em nota, negou todas as acusações e disse que vai desmentir Cleto “com veemência”. Todos os outros citados e as empresas que foram alvo da operação da Polícia Federal também negaram envolvimento com as irregularidades apontadas.

 

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Operação investiga esquema de propinas com recursos do FGTS

 

02/07/2016
Fábio Fabrini
Fabio Serapião
Fausto Macedo

 

Aliado do presidente afastado da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), e já investigado por se aliar ao peemedebista em outras suspeitas de desvio de recursos, o empresário e corretor Lúcio Bolonha Funaro foi preso em sua casa, em São Paulo. Único investigado do processo do mensalão federal a firmar acordo de delação premiada, pelo qual obteve redução de pena, ele agora cogita contar novamente o que sabe, conforme apurou o Estado.

Nos últimos dias, Funaro informou a um de seus principais advogados que procuraria o criminalista Antonio Figueiredo Basto, especialista em delações, para discutir uma colaboração com a Lava Jato. Basto nega que tenha sido contatado. Especialista em acordos de colaboração, o criminalista já foi defensor de Funaro nos casos Banestado e mensalão.

Outro advogado de Funaro, Daniel Gerber afirma que não há nenhuma tentativa de acordo em curso, mas admite que a situação pode mudar a qualquer momento.

Em suas delações premiadas, o ex-vice-presidente da Caixa Fábio Cleto e o ex-diretor de Relações Institucionais do Grupo Hypermarcas Nelson Mello confirmaram um esquema na liberação de recursos bilionários do FI-FGTS e outras carteiras.

Cleto afirmou que trabalhava para empresas indicadas por Cunha e Funaro. Ele disse que o deputado e o empresário cobraram comissões sobre o valor dos aportes em 12 operações. Na maioria dos casos, foram de cerca de 1%. Em ao menos cinco negócios, as propinas somariam R$ 15,9 milhões.

 

Peemedebistas. Mello afirmou ter pago R$ 27 milhões em propinas ao lobista Milton Lyra, cuja casa, em Brasília, foi alvo de busca e apreensão ontem. Os destinatários do dinheiro seriam o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e os senadores Romero Jucá (RR), Eunício Oliveira (CE) e Eduardo Braga (AM). O delator relatou também ter repassado, via Funaro, R$ 3 milhões para que Cunha viabilizasse a edição de uma medida provisória conforme os interesses da Hypermarcas. Os parlamentares negam.

A PF cumpriu outros 18 mandados de busca e apreensão em endereços de São Paulo, Rio, Pernambuco e Distrito Federal. O empresário Joesley Batista, acionista do Grupo J&F, que seria próximo de Funaro, é suspeito de pagar propina em troca de um aporte de R$ 940 milhões do fundo na Eldorado – empresa do grupo. A Procuradoria-Geral da República sustenta, com base na delação de Cleto, que ele teria negociado pessoalmente vantagens a Cunha e Funaro.

No caso de Henrique Constantino, a BRVias, da qual é acionista, obteve aporte do fundo para investimentos na concessionária Via Rondon. Cleto disse que houve pagamento de vantagem a Cunha para a liberação, possivelmente negociada pelo empresário com Funaro. / COLABOROU RICARDO BRANDT

 

O Estado de São Paulo, n. 44818, 02/07/2016. Política, p. A4