O globo, n. 30286, 08/07/2016. País, p. 8-9

A última do deputado

Renúncia não resolve o problema

Por: MÍRIAM LEITÃO

 

A renúncia de Eduardo Cunha à presidência da Câmara dos Deputados fecha um ciclo, mas não resolve o problema. O longo processo até sua queda revelou muito da fragilidade institucional da Casa, que ele comandou de forma imperial demais, por muito tempo. A Câmara está ferida e, para uma restauração, precisaria de uma pessoa sobre a qual não pairassem dúvidas éticas.

O governo tentará escolher um candidato que una a base, mas é preciso mais que isso. O processo de representação política no Brasil está em frangalhos, após todas as revelações que os investigadores da Lava-Jato fizeram sobre os parlamentares.

Cunha tentou fazer o país inteiro de bobo negando a titularidade dos recursos no exterior.

Um "trust" é apenas um produto financeiro que o cliente do banco escolhe. Ele pode ter conta -corrente, ou escolher outra modalidade de depósito na instituição. Com essa confusão deliberada, e primária, o deputado manipulou o Conselho de Ética da Casa por longos meses.

Ao renunciar, ele apresentou mais uma vez a versão de que está sendo punido por ter tido a coragem de conduzir o processo que tirou o poder o PT. Do que falou, a única verdade foi que o governo Dilma deixou como herança 12 milhões de desempregados e a desordem fiscal. Por isso, os próprios petistas não querem a volta da presidente. Sabem que a administração ruinosa deixa poucas possibilidades de sucesso ao governante, seja ele qual for. Mas, evidentemente, não foi por aceitar a denúncia contra a presidente que ele foi levado à renúncia. Cunha caiu pelos seus muitos erros, alguns cometidos em consórcio com o governo contra o qual investiu.

O vice-presidente da Caixa Econômica Federal, Fábio Cleto, foi nomeado por ele no governo Dilma. E a presidente afastada aceitou que ele o nomeasse sem fazer maiores perguntas sobre seus propósitos no cargo, que tem o poder de aplicar o dinheiro do trabalhador brasileiro. A extrema perversidade desse episódio é que o dono do dinheiro não pode ter acesso ao seu patrimônio, mas, por delegação de Dilma, Cunha pôde. Cleto é apenas um personagem da cleptomania que sangra o país, mas é emblemático pela cadeia de transmissão de interesses que revelou na sua delação premiada.

O vice-presidente da Caixa foi escolhido por um condenado da Justiça, Lúcio Bolonha Funaro, indicado por Eduardo Cunha e nomeado por Dilma. No cargo, ele assaltou o patrimônio do trabalhador no governo do Partido dos Trabalhadores.

A presidente afastada, Dilma Rousseff, defende a versão de que o impeachment é obra de Cunha. Esquece a aliança que os uniu por tanto tempo. Esquece os erros que levaram ao descalabro fiscal. De todo modo, seria preferível que o Supremo Tribunal Federal tivesse afastado Cunha, quando o procurador-geral da República pediu. O país teria sido poupado da dúvida que se instalou no processo de impeachment e que vem sendo explorado pelo PT.

 

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A última encenação de uma ópera bufa

Por: JORGE BASTOS MORENO

 

Não há mal que perdure. Liderança construída em cima de interesses escusos e subalternos, todos inconfessáveis, acaba sucumbindo ao tempo. A de Eduardo Cunha demorou até mais do que prevê a literatura política, embora nos últimos meses tenhamos assistido a cenas de bravatas, que foram se tornando patéticas com a evolução dos fatos, como as de “não tenho contas no exterior” e “não existe renúncia”.

Mas essa própria renúncia é a última encenação de uma ópera bufa, cujo primeiro ato começou com a ascensão do deputado à liderança do PMDB na Câmara e terminará, certamente, na cassação do seu mandato. A manobra é estúpida e inútil: o país não quer Cunha fora apenas da presidência da Câmara, mas quer varrê-lo da política, tirando-lhe o mandato parlamentar. Cassar o mandato, a esta altura, não será difícil. Impossível será tê-lo fora da política, até porque já dizia o maior líder que o partido de Cunha já teve, Ulysses Guimarães: “Mais difícil do que matar um monstro é remover seus escombros”.

Essa alma penada continuará vagando por aí, usando agora seu último recurso de influência, a chantagem, contra todos aqueles que foram contemplados com as suas benesses nada republicanas. E o que mais instiga é que essa sua “influência” não se limita apenas ao Congresso, onde sempre existiu um terreno fértil para as suas ações caridosas, mas, principalmente, ao Palácio do Planalto.

Por isso, já passou da hora também de o presidente Michel Temer mostrar à nação que não existe cordão umbilical ligando-o a Cunha. Não basta dizer. Tem que demonstrar. E que não venha o governo provisório com a argumentação de sempre de que, para manter-se permanente, tem que negociar com qualquer um. Isso fere o preceito da moral pública, tão repetido pelo próprio Temer.

É trágico, também, ver a Câmara ter a sua disputa mais importante pautada por quem saiu escorraçado da cadeira de presidente. O chamado “novo centrão”, uma reedição moderna do ajuntamento ideológico de direita criado na Constituinte, que, sem dúvida, tem hoje a maioria na Casa, patrocinou o acordo da renúncia de Cunha, em troca da manutenção do seu mandato. Ou seja, a de eleger um outro pau-mandado seu, entre tantos paus-mandados que se multiplicam em funções e cargos importantes na Mesa e nas comissões técnicas.

 

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Destino de Cunha está traçado

Por: Lauro Jardim

 

Não há saída para Cunha. É questão de tempo. Eduardo Cunha renunciou no bojo de mais uma articulação para salvá-lo. O estratagema existe. Mas não importa. O que aconteceu ontem deve ser visto como mais um recuo de Cunha. Há pelo menos seis meses que Cunha só anda para trás. Em cada um desses recuos, Cunha entrega um anel. Em algum momento, terá que ficar sem os dedos.

O presidente da Câmara audacioso, todo-poderoso (“renúncia não faz parte do meu vocabulário”) e sem limites não está mais entre nós. Morreu e foi substituído por um político agonizante. Como não é qualquer um, reconheça-se, seu ocaso ocorre de forma mais lenta do que a de outros políticos.

Mas não há truque possível capaz de derrotar o que as delações estão revelando. Este é o ponto. A Lava-Jato, além de tê-lo desnudado, tirou sua capacidade de arrecadar, mesmo fora de período eleitoral, para engordar sua bancada.

Este sempre foi o seu grande trunfo. Recolher fundos nas grandes empresas — pelos meios que delatores premiados de vários quilates explicitaram nos últimos meses — e distribuí-los sobretudo ao baixo clero. Essa cadeia alimentar foi rompida por Curitiba.

O que sobra agora para Cunha é o seu poder de destruir, ameaçando contar o que sabe. Mesmo esse ativo já não é mais o mesmo. A prisão de Lúcio Funaro, na sexta-feira passada, roubou-lhe esse recurso. Funaro, o seu principal operador para ações heterodoxas, sabe da maior parte do que Cunha poderia revelar numa delação. E, como está preso e já foi delator no mensalão, poderá ele mesmo contar os segredos de Cunha ao Ministério Público Federal. Nesse sentido, nem o MPF precisa de Cunha para avançar na Lava-Jato.

Se o processo de cassação de Cunha for votado no plenário, nem ele tem esperança de escapar da degola. Se a cúpula da Câmara brigar com os fatos, tentando salvá-lo, travando a votação, a Lava-Jato se encarregará do futuro de Cunha.

 

 

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Na aflição, a renúncia induzida por Temer

Por: José Casado

 

Temer é o maior beneficiário da decisão de Cunha. Depois de ler a carta de Eduardo Cunha, um eleitor distraído poderia acreditar que o deputado fluminense, no sofrimento de “muitas perseguições”, como escreveu, foi vitimado numa espécie de assassinato político que acabou por levá-lo a renunciar à presidência da Câmara.

Puro embuste, por variadas razões. Uma delas é porque ele não caiu em cilada, mas se tornou prisioneiro do enredo de pabulagens que vem construindo desde o final dos anos 80, quando intensificou a mistura de política com negócios, sob orientação do falecido PC Farias, tesoureiro do ex-presidente Fernando Collor.

O senador Collor e o deputado Cunha hoje dividem a atenção de policiais, procuradores e juízes encarregados dos inquéritos sobre corrupção e lavagem de dinheiro em contratos da Petrobras.

Além disso, a “exumação” inicial dessa renúncia revela que o deputado do PMDB fluminense cometeu o equivalente a um suicídio político por causa dos “apelos generalizados dos meus apoiadores”, como escreveu.

Cunha apenas omite que foi induzido pelo principal beneficiário político da sua imolação na presidência da Câmara: Michel Temer, presidente interino da República.

Temer livrou-se de seu maior problema no Legislativo — a trava imposta à Câmara, que estava “acéfala” numa “interinidade bizarra”, como, aliás, admitiu Cunha no texto de despedida. O Supremo não apenas o havia afastado como o proibira de pisar na Casa.

A cerimônia do adeus começou a ser desenhada de forma involuntária na quarta-feira, em Brasília. Cunha estava na luta pela salvação do mandato, em conversas na residência oficial da presidência da Câmara, quando recebeu um telefonema.

Foi surpreendido e contagiado pela aflição da mulher, Cláudia, investigada por lavagem de US$ 1 milhão em parceria com o marido. Estava visivelmente abalado ao desligar, testemunharam.

Mais tarde, Cunha telefonou a Temer. Não se conhece o teor da conversa. Sabe-se que foi suficiente para instigá-lo a rasgar a madrugada rascunhando a carta-renúncia, recebida às 13h11m de ontem pelo presidente interino da Câmara, Waldir Maranhão.

Sabe-se, também, que Temer usou esse telefonema para completar uma cartada iniciada numa noite da semana passada, quando Cunha foi visitá-lo no Palácio da Alvorada.

 

 

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Cassação do mandato é a resposta apropriada

Por: MERVAL PEREIRA

 

Só a cassação daria ao governo nova perspectiva. É um despautério do advogado da presidente afastada afirmar que a renúncia de Eduardo Cunha ajuda sua cliente, embora seja compreensível que José Eduardo Cardozo tente de tudo para criar um ambiente favorável a Dilma.

Nem mesmo se a renúncia ficar caracterizada como um acordo espúrio para salvar o mandato de Cunha, a presidente afastada será beneficiada. Se acordo houver, e acobertado pelo presidente interino, Michel Temer, a Câmara aprofundará sua desmoralização diante da opinião pública, e Temer confirmará que está mais para um político oportunista do que para um estadista com a exata noção dos desafios que tem pela frente.

Mas isso não trará de volta a presidente Dilma, pois ela não representa, embora finja, a nova política deslocada do poder pela velha. Ela simplesmente tentou fazer a velha política com hegemonia do PT, deixando de lado os demais partidos da base aliada, como se eles se satisfizessem apenas com o dinheiro desviado das estatais e órgãos públicos.

Não, eles queriam também repartir o poder político, coisa que o PT nunca deixou, e Temer faz com prazer. Confirmado o chamado “acordão”, teremos a confirmação também de que a velha política continua mandando, mas isso não absolve Dilma dos crimes que cometeu. Passaremos então a ter as mesmas preocupações, agora com o governo Temer, que não estará à altura do momento.

Mas, se ao contrário, se tivermos a prova de que o presidente interino agiu no interesse do país, ao recomendar que Cunha renunciasse, podemos estar diante de um momento inaugural em que os representantes da velha política do PMDB retomam o papel de defensores da democracia, entendendo que o momento é de colocar os interesses do país acima dos pessoais.

Parece improvável, mas a situação em que estamos metidos também o é. O resultado da eleição para a presidência da Câmara será uma boa medida de como vão as coisas. A vitória de um candidato ligado a Cunha aprofundará a crise. Ganhando um nome desligado do centrão, o governo Temer pode ter nova configuração.

Somente a cassação do mandato de Eduardo Cunha, para que seja julgado por seus crimes sem a proteção do foro privilegiado, será resposta apropriada da Câmara aos anseios da sociedade.

 

 

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As lágrimas amargas de Eduardo von Cunha

Por: ANCELMO GOIS

 

Aos 57 anos, o carioca Eduardo Cosentino da Cunha surpreendeu o Brasil. Não pela renúncia à presidência da Câmara. Mas pelo seu pranto. Sim, ele chora. Até então — mesmo entre os psiquiatras — o onipotente era visto como uma espécie rara de desalmado, aquele que não se comove nem com a própria tragédia.

A vermelhidão do rosto do deputado indica, segundo um especialista ouvido pelo escriba, que o fluido lacrimal é verdadeiro. Não foi provocado artificialmente pelo corte de uma cebola ou mesmo pela ação daquele spray que uns atores usam para fingir que estão chorando.

Ainda assim, mesmo depois do choro em rede nacional, o psiquiatra Luiz Antonio Martins continua achando que Cunha, em tese, faz lembrar um quadro de uma pessoa que sofre de sociopatia — aquele transtorno de personalidade que é caracterizado por um egocentrismo exacerbado e a ausência de sentimentos de culpa:

— Na entrevista de ontem, ele estaria usando uma estratégia para escapar de algo pior. É algo que a psiquiatria chama de personalidade histriônica: ele demonstra teatralidade e dramaticidade na tentativa de comover as pessoas e sair como vítima da situação.

É aí que mora o perigo. O Brasil, como disse o historiador Evaldo Cabral de Mello, 80 anos, em entrevista à coleguinha Márcia Vieira, no ano passado, é um povo muito emotivo. “A corrupção explora muito esse aspecto. Daqui a pouco, vai estar todo mundo com pena dessas figuras envolvidas no escândalo da Petrobras que estão presas. Isso faz mal ao país.”

O pecado de Cunha não é venial, para cuja expiação basta uma lágrima sentida. Pecado sem castigo do mesmo tamanho é um convite à perpetuação da delinquência.

 

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O desafio que se impõe ao governo Temer

Por: Sergio Fadul

 

No corredor da cassação do mandato de deputado federal, no banco dos réus do Supremo Tribunal Federal (STF), saindo da presidência da Câmara dos Deputados pela porta dos fundos, impedido pela Justiça de frequentar as dependências da Casa e com um pedido de prisão pendente no STF. Esse é o resumo biográfico recente do agora ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB-RJ).

Não há dúvidas de que a única motivação para a renúncia foi usá-la como o último recurso que ainda lhe restava para tentar salvar o mandato. Não foi por opção, mas por imposição da realidade, diante da falta de outra alternativa. Cunha sempre operou no limite e deixou de ser um solucionador de problemas para representar um embaraço, uma companhia venenosa politicamente.

No melhor momento do agora ex-presidente, chegou-se a contabilizar que detinha uma bancada fiel com cerca de 200 parlamentares, do total de 513 da Câmara. Um poder sem comparação, maior do que qualquer partido ou do governo. Cunha planejou e construiu com calma esse exército. É voz corrente que ele ajudou na campanha de muitos desses deputados e não tinha qualquer acanhamento em conceder benesses aos aliados.

Com um estilo agressivo e ao mesmo tempo sorrateiro, Cunha agia como detentor de poder político perto do absoluto. Paradoxalmente, o grande salto político dele teve como trampolim sua principal opositora, a presidente afastada Dilma Rousseff. Dilma apostou que tratoraria a candidatura dele à presidência da Câmara. Cunha não só teve estrondosa vitória sobre o Planalto como, de quebra, derrotou o nome da então oposição formada por PSB, PSDB, DEM e PPS.

Como se fosse o senhor do regimento e movido por uma aplicação obsessiva, Cunha comandou a Câmara com mão de ferro. Nesse aspecto, era o aliado dos sonhos para qualquer presidente da República, capaz de aprovar e atender a qualquer necessidade do governo na Câmara.

Cunha sempre orbitou próximo ao presidente interino, Michel Temer, que nunca rejeitou o parceiro. Foi o primeiro a romper com Dilma e apertou o botão que disparou o processo de impeachment. O problema para Temer foi que o custo político da relação com Cunha atingiu níveis inaceitáveis. Ela representava cada vez mais o oposto dos aspectos formais e disciplinares de conduta que Temer afirma ser tão cioso. Cunha perdeu o lastro e ficou acuado.

Diante de uma Câmara conflagrada, Temer terá que provar agora que detém de fato o que alega ser o maior trunfo para sua gestão, a articulação política.

 

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Primeiro a presidência, depois o mandato

Por: ILIMAR FRANCO

 

A pressão da opinião pública e da tensão parlamentar diminuem com a renúncia do deputado Eduardo Cunha à presidência da Câmara. Mas a turbulência não foi totalmente dissipada porque ainda haverá o embate em torno da perda ou não do mandato. Essa nova batalha vai interferir na escolha do novo presidente da Casa. Cunha, que ainda tem força política entre os deputados, tentará estabelecer uma relação direta entre a escolha de seu sucessor e a salvação de seu mandato. Mas a queda de Cunha não amenizará a rejeição crescente aos políticos e à política na sociedade.

Mesmo tendo sido um aliado fiel do presidente interino, Michel Temer, no impeachment da presidente afastada, Dilma Rousseff, o Planalto ganha com a saída de Cunha do palco principal. Não é conveniente a constante suspeita de que o governo estaria, de forma furtiva, tentando salvar o aliado. O governo também ganha porque o futuro presidente da Casa não terá a mesma audácia de Cunha ao pressionar Dilma. Qualquer um que seja eleito não terá o mesmo poder de fogo nem a mesma determinação.

A escolha do sucessor de Cunha é como uma prétemporada, na qual os times se preparam jogando amistosos. Todas as forças políticas, incluindo-se partidos, governos e bancadas temáticas, vão dar a largada nas costuras para eleger, em fevereiro, aquele que comandará a Casa, no biênio 2017/ 2018. Há duas forças que não devem ter candidato em fevereiro. O PMDB, que segundo orientação do Planalto, não vai criar marola. A outra é o PT. A esquerda está isolada e conta apenas com uma centena de votos para barganhar.

Passadas as eleições municipais, em novembro, as forças políticas da Câmara se jogarão com sofreguidão até fevereiro chegar, quando será eleito um presidente com mandato de dois anos. Cargos na mesa serão oferecidas, vagas na chapa serão negociadas, haverá trocas de apoio para presidir as comissões da Casa, e até cota de relatórias de projetos importantes vão entrar na roda.É assim que são as coisas. Será um verdadeiro desfile, no qual todas as misses e puritanos farão o que for possível pelo poder.

 

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Choro ou lágrimas de crocodilo?

Por: FREI BETTO

 

Renúncia de político costuma ser artimanha. A História do Brasil é marcada por renúncias emblemáticas. D. Pedro I abdicou em favor do filho. Deodoro da Fonseca renunciou ao ver fracassar seu golpe de estado. Vargas idem, desgastado pelo Estado Novo. Jânio renunciou à Presidência na tentativa de se tornar ditador, e Collor quando se viu ameaçado pelo impeachment.

Renúncia de político não costuma ser um reconhecimento de que seu futuro será apenas rememorar o passado. É uma artimanha. D. Pedro I agiu assim para que Portugal não perdesse a sua mais importante colônia. Deodoro, para garantir que o poder continuasse em mãos dos militares. Vargas, para evitar que seus direitos políticos fossem cassados. Jânio, inebriado pela ideia de voltar como ditador nos braços do povo. E Collor, para se antecipar ao processo de impeachment.

Eduardo Cunha renuncia à coroa, mas não à majestade. Seu maior temor é perder o mandato de deputado federal e, sem imunidade parlamentar, escorregar das luvas do STF para as masmorras da Lava-Jato. Como em um teatro de bonecos, ele admite deixar o proscênio para, nos bastidores, prosseguir manipulando as cordas que regem os movimentos de tantos que literalmente comem em suas mãos.

Há que tirar o chapéu para a habilidade política do ex-presidente da Câmara dos Deputados. Como é possível postergar por tanto tempo a cassação de seu mandato?

Ora, não é ele o gênio do mal, e sim a máquina do Legislativo cujas engrenagens são articuladas para fazer coincidir imunidade com impunidade. Por isso, quase não se fala em reforma política.

Todos os renunciantes tiveram futuro político compensador. D. Pedro I retornou a Portugal como imperador. Deodoro fez seu sucessor o marechal Floriano Peixoto e passou à História como o político que proclamou a República. Vargas voltou à Presidência eleito pelo povo em 1954. Jânio foi eleito prefeito de São Paulo em 1985. E Collor, senador em 2007.

Enquanto nossas instituições políticas se mantiverem como covil de corruptos, nepotistas, carreiristas, fisiologistas e malversadores, salvo honrosas exceções, é difícil acreditar que o choro de Eduardo Cunha.

 

 

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