O globo, n. 30291, 13/07/2016. País, p. 4

Integrante da ‘ala dissidente’ do PMDB, Castro preocupa Temer

Aliados veem demora do presidente em interferir na eleição na Casa Eliseu Padilha deixou claro que Planalto se preocupa com um possível racha na base após a escolha do novo presidente da Câmara

Por: Júnia Gama, Catarina Alen e Eduardo Barretto

 

BRASÍLIA- Incomodado com a vitória na bancada do PMDB do ex-ministro de Dilma Marcelo Castro (PI) para ser o candidato do partido à presidência da Câmara, o Planalto entrou em campo para evitar sair como derrotado na disputa. Castro é considerado um “ícone” da ala dissidente do partido, que se manteve contra o impeachment, e sua eventual eleição é vista com desconfiança pelo governo.

Nas últimas semanas, o presidente interino, Michel Temer, e seus principais ministros vinham recebendo, de forma discreta, os diversos candidatos que pleiteiam a vaga, sempre com o discurso de que o governo não irá interferir na eleição. Ontem, as conversas se tornaram mais explícitas.

 

ÂNIMOS ACIRRADOS

Os ânimos se acirraram, e o ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, deixou claro o temor do Planalto com um racha na bancada no dia seguinte à eleição. Integrantes da antiga oposição criticaram o que consideram um suposto favorecimento do ministro da Secretaria de Governo, Geddel Vieira Lima, à candidatura de Rogério Rosso (PSD-DF), ainda apontado como favorito no centrão. O deputado Heráclito Fortes (PSB-PI), por exemplo, retirou-se da disputa atirando contra o governo. Para aplacar os ânimos na base, Temer fez questão de demarcar que a escolha de Castro mostrava que o Planalto não estaria interferindo no pleito.

— Isso é uma demonstração de que não entramos na questão da Câmara — disse Temer ao sair de um almoço da Frente Parlamentar Agropecuária.

Na entrada do encontro, o ministro da Secretaria do Governo, Geddel Vieira Lima, deu uma declaração na mesma linha:

— Essa primeira escolha de Marcelo Castro é demonstração inequívoca de que o governo não se envolveu no processo — disse Geddel, que afirmou que o Planalto fará uma nova análise e poderá se posicionar quando a disputa chegar ao segundo turno.

Logo que a bancada do PMDB formalizou a candidatura de Castro, a reação no Planalto foi de irritação. Segundo auxiliares de Temer, o ex-ministro da Saúde não tem um histórico de afinidade com o presidente interino.

Além disso, o parlamentar confrontou a resolução do partido, em março deste ano, que determinou o desembarque do governo Dilma e proibiu os peemedebistas de ocuparem cargos na gestão da petista. Por haver contrariado a decisão, Castro se tornou alvo de processo de expulsão na Comissão de Ética do PMDB, que ainda está sob análise.

 

“PIOR VITÓRIA É A DO CASTRO”

Assessores do governo apontaram, inclusive, a digital do ministro do Esporte, Leonardo Picciani, na articulação da candidatura. O ministro era líder do PMDB quando o impeachment tramitava na Câmara e também se posicionou contra o processo, apesar da determinação da bancada a favor do afastamento de Dilma.

— Todas essas candidaturas que estão colocadas são de deputados da base, então, de uma forma ou de outra, o governo poderá dialogar. Mas a pior vitória para o Planalto é a do Marcelo Castro, porque ele foi até o último momento contra o impeachment — afirma um interlocutor do governo.

Horas após ser escolhido, no entanto, Castro afirmou não ver razões para que o presidente Michel Temer e o Palácio do Planalto se preocupem com sua candidatura. Segundo ele, ao ter um candidato oficial, o PMDB evita que os demais candidatos da base aliada fiquem irritados com a possibilidade de o partido garantir seu apoio a apenas um deles.

— Eu sou um alívio para o Palácio do Planalto. O PMDB ia pender para um ou outro candidato. Agora tem um candidato oficial — avaliou.

Peemedebistas do grupo contrário ao nome do ex-ministro de Dilma reclamaram da falta de ação do Planalto para evitar que Castro fosse oficializado candidato do PMDB. Agora, tentam encontrar soluções. Segundo o deputado Darcísio Perondi (PMDB-RS), o Palácio do Planalto foi alertado na noite de segunda-feira sobre o crescimento da candidatura de Castro, mas preferiu não interferir.

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Disputa na Câmara pode interferir na eleição em São Paulo

Por: Letícia Fernandes

 

BRASÍLIA — A eleição à presidência da Câmara pode ter reflexos na disputa pela prefeitura de São Paulo. O ex-deputado Valdemar Costa Neto, que comanda o PR, tenta viabilizar a candidatura do deputado do seu partido Fernando Giacobo (PR) à sucessão de Eduardo Cunha no comando da Casa. Para isso, cobra os votos dos parlamentares petistas. O PR é justamente o maior partido a apoiar a reeleição do prefeito Fernando Haddad (PT), e há deputados petistas temendo que o acordo naufrague, se os parlamentares do partido não votarem em Giacobo.

 

PETISTAS APOIAM CASTRO

Nos últimos dias, Valdemar Costa Neto, condenado no mensalão e que usa tornozeleira eletrônica, tem conversado com deputados e dirigentes petistas, e pressiona pelo apoio a Giacobo, segundo vice-presidente da Câmara. Giacobo, na prática, tem presidido as sessões da Casa na interinidade de Waldir Maranhão (PP-MA).

O deputado do PR é visto com bons olhos por parte da bancada do PT, mas a consolidação da candidatura de Marcelo Castro (PMDB-PI), ex-ministro do governo da presidente afastada, Dilma Rousseff, complicou a situação dos defensores de Giacobo. Castro, que votou contra o impeachment de Dilma, tem maioria folgada entre os petistas e conta com a simpatia dos outros partidos do campo da esquerda, como PDT e PCdoB.

— O PR, com razão, está cobrando reciprocidade no apoio, agora com o Haddad. Precisamos considerar isso — disse o deputado Vicente Cândido (PT-SP), que esteve com Costa Neto anteontem.

No PT, a estimativa é que Giacobo tenha entre 70 e 80 votos na eleição, que ocorre hoje à tarde. Ainda que o PT feche questão, não se descarta que alguns parlamentares votem no candidato do PR. A votação secreta facilita esse tipo de movimentação para longe da orientação partidária.

Um outro dirigente petista admitiu as ofensivas da direção do PR, mas negou que tenha havido qualquer imposição por parte de Valdemar Costa Neto:

— Não é uma imposição, foi uma sinalização feita pelo Valdemar. Algo normal em alianças. Mas temos que ter cuidado e olhar não só para a eleição da Câmara, mas para o impeachment no Senado — afirmou.

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